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28/05/2021 às 21h31min - Atualizada em 28/05/2021 às 21h31min

​Velório e tiroteio

Baseado em fatos reais

Elson Araújo
O nome dele eu não sei, nunca soube.  Só sei que cometera um crime, e por isso estava preso já a algum tempo. Um dia a segurança do presídio deu um vacilo e ele escapou. Na condição de fugitivo poderia ter permanecido se não fosse por uma dessas ocorrências que “ bolem” muito com qualquer bicho que esboce algum tipo de emoção. No caso em apreço, a morte do pai daqueleforagido do sistema penitenciário.

Pretendia se homiziar no Paraguai. Lá já estava tudo acertado para integrar uma facção criminosa especializada em carro forte,  e assalto a bancos. Ocorre que no esconderijo provisório foi informado da triste ocorrência da morte do genitor. Consta que chorou muito após lembrar da figura paterna, com quem conviveu durante anos, e que naquele instante jazia num caixão velado pelo restante da família e amigos no povoado onde nasceu.  Precisava se despedir do pai morto, mesmo correndo o risco de ser recapturado. 

A emoção venceu o medo. O fugitivo levando consigo a tristeza e as boas lembranças do pai, decidiu ir ao velório. O pai morava num povoado não muito longe da sede do município. Tinha poucas casas, as ruas ainda eram de terra e ladeadas por mangueiras centenárias. 

 O de cujosera reconhecido como um dos fundadores do povoado e quase todos os moradores estavam no velório.  A residência era pequena e muito simples, tipo sala, dois quartos e cozinha.

Só a parte da frente era de alvenaria, o restante de barro.  O quintal dava para um matagal, cheio de capa bode e urtiga. 

Duas carpideiras choravam e debulhavam um terço quando o fugitivo apareceu. Tinha deixado o povoado ainda na adolescência atrás de uma vida melhor para a família, mas a vida desandou e acabou mesmo foi nomundo do crime.  Estava ali agora para se despedir do pai, que tanto amava.

A presença dele naquele ambiente cheio de tristeza e lágrimas logo chamou a atenção de alguns curiosos que já sabiam que tinha escapado da cadeia. Logo, umalcaguete, ou “ cagueta” como é chamado no jargão policial esse tipo colaborador da polícia, tratou de avisar as autoridades.

Sabia de todos os riscos, mas precisava daquele último adeus ao pai. Não demorou muito a presença da polícia foi sentida no lugar. O fugitivoarmado com uma pistola, daquelas usadas por oficiais do Exército, ao perceber que poderia voltar para prisão entrou em processo de fuga diante dos olhos de todos. A Polícia percebeu a movimento dele e pôs-se a prossegui-lo. 

A “caça” correu em direção ao quintal da casa e   se embrenhou no matagal com ospoliciais alguns minutos logo atrás. 

Ao longe o barulho dos tiros deixou o povo do velório atordoado e apreensivo.  O forte tiroteio era prenúncio de que poderia haver um banho de sangue no, até então, pacato povoado. Não houve.

Só um soldado chegou a ser atingido de raspão, na orelha. 

O enlutado fugitivo do sistema penitenciário conseguiu se livrar do cerco policial e desaparecer no meio do mato.  Foi terminar de chorar a morte do pai muito longe da polícia e dos parentes que deixou para trás.
 
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