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16/04/2021 às 20h00min - Atualizada em 16/04/2021 às 20h00min

Defesa e espinhos

Elson Araújo
O ato de se defender é inerente dos seres vivos. Todos em maior, ou menor grau, transportam na sua história genética mecanismos múltiplos de defesa. Tudo em nome da sobrevivência e da preservação da espécie. Afinal, ninguém quer deixar a superfície do planeta, extemporaneamente, sem deixar um legado. Por isso, pelo que se percebe, ao longo da evolução os seres vivos foram desenvolvendo modelos próprios de defesa.  E são milhares!  Na maioria das vezes em alguns seres vivos, notadamente os do mundo vegetal, nós humanos nem percebemos a presença desses mecanismos.  

Veja, por exemplo, os espinhos.  De longe uma fantástica ferramenta de proteção. Tem um equipamento de defesa maior do que eles? 

Pergunta-se: qual seria a utilidade precípua dos espinhos a não ser o de afastar predadores? 

Neste mesmo pensamento quero crer que os pés de rosas tenham desenvolvido espinhos para inibir coletores.  Ora, a existência delas já é naturalmente tão breve e ainda vem o predador e a leva embora, antes decompletar-se o ciclo do encanto da vida determinado pela natureza. Se as rosasfalassem certamente diriam: “ Queresrosa? Então plante umjardim”.  Não se espante o leitor se, em nome da preservação, as futuras gerações de rosas venham a desenvolver espinhos também nos botões. É a lei da sobrevivência! 

E a família dos cactos? O cacto me parece mais inteligente do que as rosas, embora mais feinho. Tem espinho que não acaba mais!  E sua natureza é de maior resistência. A mãe natureza lhe presenteou, além dos espinhos, com o dom de resistir ao sol, às secas,aos ventos, às tempestades. A família dos cactos, portanto, vive mais do que a família das rosas.   Com eles os predadores não têm vez. A exceção é o homem que descobriu que pode utilizá-los para matar a fome dos animais e até dele mesmo.

Pois é, os espinhos parecem ter vida própria. São verdadeiras estruturas independentes, não é assim? Tanto é que sua extração nem chega a determinar a morte de quem protege. 

Os espinhos desenvolvem-se, ora minúsculos, já viu os do pequi? Ora médios, grandes, retos ou curvos.  E um pequeno detalhe que acho que ainda não foi pesquisado:  cada um surge para uma realidade presente, ou seja, obedece à estrutura e necessidadesda planta que hospeda. Pode prestar atenção, que é assim! 

Algumas plantas não têm, ou ainda não desenvolveram essas pequenas e eficientes máquinas de guerra, mas nem por isso lhes faltam mecanismos de defesa. Em algumas espécies a própria fragilidade é sua defesa. Outras desenvolvem cascas duras e resistentes, resinas e tipos líquidos, tóxicos e não tóxicos, assemelhados a leite. Tudo isso, elemento de defesa.  Se não for a mão predadora do homem têm delas, como o baobá,  que sobrevivem  milênios. A espécie é umaárvore espetacular, segundo os estudiosos, que só é encontrada na Ilha de Madagascar, no Oceano Índico.

É perceptível que a cada dia aumenta o número de humanos interessados no desenvolvimento de uma convivência pacífica com o mundo das plantas, seja de qualquer espécie. E o interessante é queelas respondem carinhosa, e bondosamente a esses gestos e afagos com a entrega de sombra, melhoria na qualidade do ar que respiramos, água, beleza e alimentos. Além disso, ainda liberam substâncias e aromas que curam. Permitem-se explorar. 

Quase todo mundo tem uma plantinha em casa, ou no local de trabalho. Um bom exercício mental, além de cuidar devidamente delas, é observá-las, tentar compreender sua essência e existência e seus mecanismos de defesa. Dessa observação pode surgir uma infinidade de descobertas. Se a gente não conseguir descobrir nada, no mínimo elas nos induzem a um leve relaxamento ou nosestimulam a produzir um texto, como é o caso deste de hoje.
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