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20/02/2021 às 00h00min - Atualizada em 20/02/2021 às 07h00min

Morte pelo Whatssap

Ricardo Coelho
Quando será que a nossa fotografia irá circular pelos grupos de Whatssap dizendo que não mais existimos nesta vida? Qual seria a reação das pessoas ao abrirem suas caixas de mensagens e lá, estampado em caixa alta, nossa fotografia, narrando que não mais existimos?Cedo ou tarde, meus amigos, isso irá acontecer – essa é a verdade! Em breve as pessoas narrarão nossa partida, seja através de grupos de Whatssap, seja através do Instagram, Facebook, não importa a plataforma – esse dia chegará. Sempre existirá alguém para fazer isso.

Nos últimos dias temos sido bombardeados por inúmeras notícias sobre mortes de conhecidos nossos. Pessoas próximas, amigas e até familiares. O interessante, nisso tudo, é como a velocidade dessas informações chegam em nosso celular. Quando abrimos a mensagem, nos espantamos com a fotografia da pessoa querida que até então estava lutando pela vida.

Alguns lamentarão, outros nem tanto. Mas quando isso acontecer, a hipocrisia também acompanhará a narrativa da morte. Muitos dirão: “ô, meus Deus, que coisa triste”! Como sabemos, muitas dessas expressões não passam de palavras lançadas ao vento, sem traduzir nenhum sentimento verdadeiro de perda. E nós, lá onde estaremos, seja no fundo de um caixão sem vida ou ainda numa pedra fria de um quarto triste – talvez nada saberemos a respeito.Alguns dirão: “poxa, ainda ontem eu conversava com ele/a” - outros duvidarão até. Os mais apressados procurarão divulgar o mais rápido possível, como se fosse algo prazeroso a morte de alguém. Outros, terão cautela, procurarão saber da veracidade das informações com amigos próximos ou familiares. Mesmo assim, nossa fotografia circulará entre inúmeros aparelhos celulares reportando que não mais estamos por aqui.

Uma pessoa ética nunca tem prazer na morte de alguém, ainda que este alguém não lhe seja querido. E muito menos lhe deseja o mal. Durante esses dias vimos inúmeras mensagens de Whatssap reportando a partida de pessoas queridas. E amanhã? Talvez seja a nossa! Em todo caso, nunca devemos esquecer uma das frases que os escravos diziam aos imperadores romanos quando estes voltavam triunfantes de suas batalhas: memento mori (“lembra-te de que vais morrer”), e alguém vai narrar essa morte – nunca esqueça disso.
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