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03/02/2021 às 00h00min - Atualizada em 03/02/2021 às 00h00min

Sobre o que se pode esperar dos novos presidentes da Câmara e do Senado

Roberto Wagner
Talvez porque não possa ser diferente, seguimos acreditando que, com o passar dos tempos e ao sabor dos acontecimentos, as coisas vão mudar e que, com isso, mudará a realidade que nos cerca. Se não vamos bem no emprego que temos, cremos que algo haverá de ocorrer para que os nossos problemas deixem de existir; se o casamento vai mal, achamos que, por conta disso ou daquilo, a crise que ameaça acabar com a relação vai desaparecer; se o nosso time está perdendo jogo após jogo, costumamos julgar que, mudando-se o técnico, voltará a ganhar e assim, na firme suposição de que as coisas mudarão (para melhor, é claro), vamos tocando a vida.

Na política acontece o mesmo. A cada eleição, seja de prefeito, seja de governador, seja de presidente, seja de vereador, seja para os demais cargos legislativos, renovamos a esperança de que as coisas mudarão, que as nossas cidades serão outras, que o país, enfim, será outro. Dão-nos essa esperança, e não poderia ser de outro modo, as promessas dos candidatos, mesmo que se mostrem irrealizáveis, infundadas. 

Mas mesmo as promessas mais estapafúrdias não nos privam da ilusão de que, a partir da posse dos eleitos, teremos um cenário de mudanças positivas, de avanços, de boas novidades, de tempos promissores. Não dura muito, diante da dura e implacável realidade, para despertarmos do sonho e tudo voltar a ser como antes, desilusão essa que perdurará até as eleições seguintes, quando então voltaremos a crer, como se incuráveis fôssemos desse mal, que as coisas finalmente mudarão.

Alguns amigos meus, embalados por um sopro de esperança, acreditam que, com a eleição dos novos presidentes da Câmara Federal e do Senado (Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, respectivamente), aquelas casas passarão a adotar agendas que ajudarão  o nosso país a superar os tantos e tantos atrasos que temos visto desde sempre. Estão redondamente enganados, lamento dizer. A troca, não podemos esquecer, foi de nomes, não de condutas, não de costumes, não de realidades, para usar a palavra certa. Com essas mudanças de nomes, e tão somente de nomes, fica a certeza, para mais uma frustração geral, de que tudo, salvo, quem sabe, a marca do cafezinho servido por lá, permanecerá como sempre esteve. Aliás, pela subserviência ao (mau)humor e às (de)ordens palacianas, não será surpresa se as coisas piorarem.

Quem tinha razão mesmo era o grande escritor italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa, para quem a única mudança possível, conforme assim deixou sugerido em seu soberbo romance O Leopardo, é aquela que se faz para que tudo fique como está. 

Abraços em todos e até a próxima semana. 
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