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17/12/2020 às 00h00min - Atualizada em 17/12/2020 às 00h00min

Maranhenses aproveitam pandemia para concluir ensino médio e alcançar metas profissionais

Por meio da modalidade de ensino da Educação de Jovens e Adultos (EJA), alunos correm atrás do tempo perdido

Coordenadoria de Comunicação e Eventos do Sistema FIEMA
A assistente administrativo, Raimunda Amorim, que há 31 anos estava fora da sala de aula conseguiu receber certificado de conclusão - Foto: Divulgação
 “Depois de 18 anos, voltei a estudar”, conta Sara Gomes. Ela abandonou a escola aos 18 anos para se dedicar a uma oportunidade de trabalho e melhores condições de vida, em Santa Catarina. E só aos 36 anos, ao retornar a sua cidade de origem, conseguiu concluir o Ensino Médio. Mas até 2019, Sara ainda era parte da estatística que, pelos números mais recentes, aponta para um total de 3,6 milhões de estudantes matriculados na Educação de Jovens e Adultos (EJA), no Brasil. 

E a história se repete. Assim como Sara, milhares de jovens frente à desigualdade econômica, tem que optar entre a busca por melhores oportunidades, a subsistência da família e a escola. Em levantamento feito pelo Banco Mundial, foi constatado que jovens de 15 a 25 anos, vivendo em lares afetados por quedas nos rendimentos, têm 2,3% mais chances de abandonar os estudos. Entre os que têm 18 anos, o índice sobe para 4,5%.
 
Os dados do Censo Escolar 2020 mostram que embora o ensino fundamental apresente uma tendência de estabilização, as matrículas do ensino médio nas escolas públicas caíram em 4,34% em relação ao ano anterior. Também houve queda no ensino fundamental e no EJA, mas o número de crianças de 0 até 3 anos matriculadas em creches aumentou 4,24%. No total, o número de matrículas na educação básica do ensino público diminuiu 486,1 mil matrículas, 2,01% se comparado a 2018. 

Apesar desse cenário, a Educação de Jovens e Adultos tem sido uma oportunidade de mudança de vida para os alunos que não tiveram acesso à escola no passado ou que deixaram essa oportunidade para trás. O mundo de oportunidades – melhores empregos, salários mais altos, melhores condições de vida, viagens – se afunila à medida que diminui o nível de escolaridade. Se já é difícil encontrar um emprego com o ensino médio completo, imagine apenas com o Fundamental ou sem saber ler.

Para a professora Irenilde Assunção, que atua há 10 anos com essa modalidade de ensino, esse é um trabalho muito importante por oportunizar o ensino e também trazer cidadania. “A grande maioria não teve oportunidade de concluir o ensino médio, e essa modalidade oportuniza para essas pessoas uma metodologia diferenciada que lida com o dia a dia desse aluno. Costumo dizer que é uma forma de contribuir com esse público que, de alguma forma, teve que abandonar a sala de aula para priorizar algo, ou ainda, por questões emocionais e familiares acabaram desistindo. E por isso, essa é sem dúvidas, uma forma de trazer cidadania a todas essas pessoas”.

VOLTA POR CIMA- Na contramão dessa realidade, existem jovens que aproveitaram o período de pandemia e partiram em busca do tempo perdido.  Jackson Sousa, é um deles. “Abandonei a sala de aula por problemas familiares. Assim que surgiu essa pandemia, vi a oportunidade para concluir o ensino médio e não pensei duas vezes, me inscrevi e hoje tenho meu diploma”, revela Jackson.

 A decisão de voltar nem sempre é fácil. O medo, a insegurança e a bagagem de frustações somados à dificuldade em conciliar a rotina familiar com o trabalho e estudo, caracterizam os principais obstáculos. Mas vergonha ainda é o sentimento mais recorrente de quem volta a estudar, após a idade escolar. E esse foi por anos, o sentimento de Josué Lucena, 54 anos, que retornou à sala de aula após 30 anos. “Existe aquele ar de inferioridade, de se sentir incapaz. Porém, devo afirmar que sempre é tempo para recomeçar. Hoje, já estou até matriculado em curso superior”.

Não só os alunos, mas as empresas também sofrem com a falta de mão de obra qualificada. No Maranhão, o Serviço Social da Indústria (SESI), disponibiliza gratuitamente turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA),  voltados para trabalhadores da indústria, seus dependentes e comunidade, que não tiveram acesso à escolaridade básica. 

A analista de RH de uma rede de supermercados, Andressa Sik, destaca a relevância da iniciativa para a rotina empresarial. “Percebemos que nosso centro de distribuição tinha um número considerável de colaboradores sem a conclusão do ensino médio. Em parceria com o SESI decidimos incentivá-los em busca dessa qualificação, a fim de contribuir, tanto para oportunidades melhores como para o desenvolvimento profissional deles. E isso, fez uma grande diferença”.
Entre os diferenciais do projeto estão, a forma semipresencial, sendo um a dois encontros semanais presenciais, e o restante da carga horária a distância (EaD), além da metodologia de reconhecimento de saberes, que identifica as competências desenvolvidas pelos alunos ao longo de sua vida, mesmo que fora da escola. Assim, o tempo de permanência em sala de aula de até 12 meses pode diminuir substancialmente, fazendo com que os alunos conquistem o tão sonhado diploma em menos tempo.

“Sem essa modalidade de ensino, eu não conseguiria concluir os estudos, pois seria difícil conciliar trabalho e os afazeres domésticos, a rotina e horários da sala de aula. Me identifiquei bastante porque eu pude fazer meus próprios horários de estudos e realizar um desejo antigo de concluir o ensino médio. Hoje, com o diploma em mãos, já posso ir em busca da minha graduação”, ressalta a assistente administrativo, Raimunda Amorim, que há 31 anos estava fora da sala de aula.

 

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