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19/05/2023 às 22h25min - Atualizada em 19/05/2023 às 22h25min

A Paz Perpétua

Maria Helena Ventura
    
Não me vejo como uma pessoa saudosista. Mas, ao recordar minha infância e início da adolescência, invade-me a paz que eu trazia em minha alma, naqueles dias de passados sonhos.

Na cidade de São Sebastião do Passé, no interior da Bahia, quase todos se conheciam. O sino da Igreja chamando os fiéis para a missa, promovia o encontro de toda a gente daquela cidade hoje distante apenas uma hora, de carro, da capital. Aliás, nunca se dizia: “Vou a Salvador” e sim, “vou à capital”.

A rotina dos dias quase nunca era interrompida. Mas, havia algo que movimentava os comentários da população daquele vilarejo provocando inclusive risos. Era com relação às façanhas de um conterrâneo. Uma figura bizarra, conhecida por “Ferrinho”.  Alguns mais próximos dele o saudavam quase gritando: “Oi, Ferro Velho!”. Nunca ouvi explicação sobre esse apelido. Ferrinho era piloto de avião e, nas horas vagas, era contratado para viagens curtas em seu “teco teco”. Era comum ao sobrevoar a cidade, jogar algum presente, do alto, para sua velha mãe. Ora era uma caixa de sapatos devidamente identificada com o nome de sua genitora, ora um vestido ou outro mimo inquebrável. Onde quer que o embrulho caísse era uma festa, na corrida de todos, para entregá-lo ao destinatário. Ninguém nunca usurpou os presentes.

Hoje, quando ouvimos falar de PAZ, percebo que paz era o que sentíamos ali.

Notório que Jesus quando queria saudar os que avidamente desejavam, da parte d’Ele, uma cura que os possibilitassem ver, ouvir, ou andar, Ele, primeiramente, oferecia-lhes algo mais valioso: Sua Paz. Como prova diz-nos o Evangelho: “Naquele primeiro dia da semana fechadas as portas onde os discípulos estavam por medo dos judeus, Jesus veio, pôs-se no meio deles e disse-lhes: ‘Paz seja convosco’”.

Depois da Invasão da Ucrânia pela Rússia, numa quinta-feira do dia 24 de fevereiro de 2022, voltamos a repensar na Paz, lembrando-nos de um texto escrito pelo alemão Immanuel Kant, nascido em 1724 na Prússia e considerado um dos principais filósofos da Modernidade e um dos mais importantes pensadores do Iluminismo (movimento intelectual dos séculos XVII e XVIII que tem como base a crença na razão e nas ciências como motores do progresso).

As ideias chaves de Kant estão inseridas no aspecto moral. Antes dele a Ética situava-se no campo do dever como caminho para a felicidade. Kant rebatia essa ideia dizendo que uma pessoa mesmo tendo um comportamento ético pode sentir-se infeliz. E complementava: “se seus princípios puderem ser universalizados eles terão, assim, valor ético”.

Em 1795 Immanuel Kant escreveu o texto: “À Paz Perpétua”, que serviu de inspiração para a Organização das Nações Unidas (ONU) e à Liga das Nações. Nesse texto, discorrendo sobre a A Paz Perpétua entre os Estados ele enumerou princípios defendendo o sistema republicano com a separação entre poderes executivo e legislativo, contando também com uma representação popular.  Escreveu ainda que os acordos de Paz só são confiáveis pela união de nações livres. Acrescentou ainda que “Os políticos devem ouvir as opiniões dos filósofos.” Falando sobre a Paz, Kant foi além do seu tempo.

Quando não se consegue mais encontrar o caminho da esperança, Kant afirma otimista: “Apesar dos problemas, estamos progredindo”.
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Maria Helena Ventura é membro da AIL – Academia Imperatrizense de Letras.
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