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19/05/2023 às 22h20min - Atualizada em 19/05/2023 às 22h20min

Duvidar sempre

Elson Araújo
    
Muitas das verdades que hoje temos como “prontas e irrefutáveis”, e é engraçado quando você fala isso, são frutos, ou decorrem de teorias, a princípio nascidas de uma simples observação, ou como diria os cientistas, do comportamento empírico do observador. É quando, muitas vezes, o óbvio é reduzido a fórmulas, e o que era vulgar é elevado à condição de ciência. O simples, fica complexo.

Veja por exemplo, a água. Conforme estudos científicos 2/3 da superfície terrestre é coberta por água, um recurso vital para a existência da vida. Pois essa dádiva, no complexo mundo da ciência, foi reduzida à fórmula H‚ O e definida como uma substância química cujas moléculas são formadas por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. O simples virando complexo.

O ruim acontece quando o observador, mesmo sabendo-se equivocado, tenta impor sua ciência. Quantos estragos esse tipo de cientista já não causou na humanidade. No campo das ciências jurídicas o italiano Cesare Lombroso  (1835- 1909) elaborou uma teoria, mantida por algum tempo, que defendia a ideia da predisposição biológica do indivíduo à conduta antissocial, ao qual ele chamou de criminoso nato. Essa definição partia, grosso modo, da análise do aspecto físico do indivíduo. Durante anos, se um determinado indivíduo se encaixasse no perfil traçado pelos estudos de  Lombroso, poderia ser carimbado, de pronto, criminoso sendo muito difícil a defesa.
 
Pelo absurdo, algumas pseudo ciências, como essa teoria do italiano Cesare Lombroso, terminam caindo no esquecimento e se tornam uma mera observação histórica, mas há outras que mesmo flagrantemente absurdas se estabelecem, até que em seu lugar surja outra que mude os rumos dos povos. E assim, segue a ciência, de construção em construção, numa guerra de verdades que parece não ter fim. E ainda bem que é desse jeito!  Com erros e acertos, considerando que nada é absoluto, o que seria do mundo sem a ciência? Se não o fora, até hoje os demônios da idade média estariam determinando a trajetória de parte da humanidade e influenciando comportamentos.

Alguém no passado já teorizou que os negros pertenciam a uma raça inferior, que tinha dificuldade para aprender, que eram naturalmente violentos, que não tinham alma, além de outros, e outros quetais nefastos. Veja só a gravidade da coisa! Essa teoria foi defendida por muita gente de ciência, e por centenas de governantes, e acabou por justificar, entre aspas, as atrocidades praticadas contra o povo negro no processo de colonização do novo mundo, com consequências até os dias de hoje. O racismo estrutural, conforme alguns estudiosos, tem nessa corrente de pensamento, uma de suas origens. O negro é só um exemplo.  Lá mais na frente, esse pensamento se aperfeiçoou, a pior. O ideal de uma raça pura, onde negros, judeus, pessoas com deficiência, considerados inferiores, e outras minorias deveriam ser eliminados da face da terra, dera origem ao Nazismo. É até difícil escrever isso, mas a ciência estava por trás dessa loucura. A mesma ciência que tratou de desmontar tão esdrúxula teoria. Ainda bem que a ciência também não se entende direito com ela mesma.

Viva o direito de duvidar, sempre! .  E isso também é fundamental, uma vez que, como já fora dito, a verdade não é absoluta e ninguém é dono dela. É preciso que a humanidade viva entre provas e contraprovas e que cultive o hábito de duvidar.

A dúvida é um poderoso exercício para o desenvolvimento cognitivo, mesmo que, o que resulte desta, não nos agrade.
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