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16/05/2023 às 17h22min - Atualizada em 16/05/2023 às 17h22min

Dona Palmirinha e a doença renal crônica

Ludmila Pereira de Araújo Souza *
No último dia 7, a famosa cozinheira e apresentadora, Palmirinha Onofre, faleceu. Conforme informações da família, “a vovó Palmirinha” – como era carinhosamente chamada – veio a óbito em decorrência de agravamento de problemas renais crônicos. Ou seja, o diagnóstico dado a ela foi de doença renal crônica, também conhecida como insuficiência renal.
 

Mas do que se trata essa doença?

Basicamente é quando os rins vão perdendo sua capacidade de filtrar resíduos metabólicos do sangue. Tudo aquilo ingerimos, os rins têm a capacidade de fazer esse filtro, deixando nosso sangue “limpinho”, livre de toxinas.

A insuficiência renal crônica é uma doença bastante silenciosa e acontece de forma lenta e progressiva, durante meses ou anos, e muitas vezes não provocando sintomas que chamem tanto assim a atenção do indivíduo. E justamente por isso, é muito comum que as pessoas só descubram em estágios avançados.

É uma doença que não tem cura, mas existe tratamento – a hemodiálise – que objetiva fazer o mesmo trabalho que os rins doentes não fazem mais. Através de sessões semanais e contínuas para toda vida, o paciente é ligado a uma máquina que faz o procedimento de filtragem e limpeza do sangue. Dessa forma, aliado às condutas medicamentosa e alimentar, o paciente tem uma sobrevida bem maior.

Especializei-me nessa área e durante quase 10 anos, atendi em uma clínica de hemodiálise, atendendo milhares de pessoa nessa situação.  Nesse período, uma das coisas que mais ouvia era: “não entendo porque o médico disse que meus rins pararam de funcionar, porque eu não sinto nenhuma dor neles e estou urinando normal”.

E é justamente quando eu enfatizo como a doença renal, além de silenciosa, é também traiçoeira. Sempre digo: na insuficiência renal, “dói tudo”, menos os rins.

As pessoas sofrem aumento da pressão arterial, por conta do desequilíbrio do sódio no nosso corpo; incham, justamente por não estarem urinando adequadamente e suficientemente, como deveriam, então essa água fica literalmente retida; apresentam quadros de anemia profunda e crônica, já que como os rins estão doentes, eles não conseguem fabricar a eritropoietina, que é o hormônio que estimula a nossa medula óssea a fabricar glóbulos vermelhos para o nosso sangue.

Há ainda mais alguns sintomas que podem acontecer, mas que também, no dia a dia, são pouco associados à doença, como: fadiga, cansaço, náuseas, coceira, falta de apetite, câimbras e espasmos musculares.

E sobre as maiores das causas da insuficiência renal, citam-se a diabetes mellitus e hipertensão arterial. Mas é importante enfatizar que não são as únicas. Há ainda doenças renais prévias, como rins policísticos, gota e obstrução urinária devido à litíase renal; obesidade; HIV; doenças autoimunes, como lúpus; baixa ingestão de água (desidratação); uso inadequado de medicamentos, como anti-inflamatórios; alcoolismo, fumo e uso de drogas.

E sobre o diagnóstico, ele é facilmente dado através de exames de sangue, urina, além de poder ser complementado com exame de imagem, como ultrassonografia.

A alimentação para o paciente com insuficiência renal varia um pouco de acordo com o estágio da doença e do estado geral do paciente, mas basicamente, o consumo de proteína deve ser menor e ajustado, já que esse nutriente “dá um pouco mais de trabalho” pros rins filtrarem; precisa haver cuidado especial com vitaminas e minerais, sendo que umas precisam ter seu consumo diminuído na dieta – a exemplo do fósforo, sódio e potássio –, já outros precisam ser suplementados, como complexo B e ferro; além da ingestão de água que normalmente, também precisa ser diminuída.

Isso mesmo que você leu, caro leitor: na insuficiência renal crônica, comumente orientamos o menor consumo de água e de líquidos de uma forma geral. Como os rins não trabalham mais como antes, não tem como orientar que se ingira mais, se o paciente não consegue urinar adequadamente e acaba gerando mais inchaço corporal, desencadeando piora do seu estado clínico.

Assunto muito amplo esse escolhido pra hoje, mas que me dá muita satisfação em saber do potencial da alimentação e da nutrição, tanto para sua prevenção, como para o seu tratamento.

Que zelemos adequadamente dos nossos rins.

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* Ludmila Pereira de Araujo Souza é Nutricionista, especialista em Nutrição Clínica com ênfase nas enfermidades renais
Instagram: @ludmilapasouza.nutri • Email: [email protected]

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