MENU

04/05/2023 às 19h25min - Atualizada em 04/05/2023 às 19h25min

Um ósculo para Imperatriz

Elson Araújo
Antônio Coutinho vencedor do prêmio da Academia Imperatrizense de Letras - Foto: Divulgação / Elson Araújo
 
Foi com uma felicidade ímpar que, no último dia 27 de abril, recebi o Prêmio da Academia Imperatrizense de Letras (AIL) pelo meu livro Osculário: lacrado. Numa emocionante cerimônia solene, em que também se comemorou mais um aniversário da AIL, se entregou a premiação aos três vencedores: Antônio Coutinho (com o já citado Osculário: lacrado), Júlio Pires (pelo livro de poesia Jukebox) e Agostinho Noleto (com seu romance Dois estanhos no caminho). Além de muito me honrar, o certame também mostra o trabalho de divulgação da literatura local pela AIL, uma tarefa que se imagina não ser fácil, mas que é necessário para que a cidade leia, discuta e valorize mais as obras que são feitas às margens do rio Tocantins. O Osculário é um livro que sempre me deu muita alegria desde a sua primeira versão, tanto pelo seu processo criativo, como também pela boa aceitação na cidade, sobretudo no meio acadêmico. Isso sem esquecer o apoio público desde a publicação original. Não custa lembrar que o mesmo já teve a primeira versão publicada em 2004 com o apoio da Fundação Cultural de Imperatriz (FCI), na época sob a direção de Gilberto Freire de Santana, professor de literatura da Uemasul e imortal da AIL.

A versão inicial chamava-se apenas Osculário e continha dezesseis histórias. Foi uma alegria incomensurável ver os contos tomarem as páginas e se juntarem numa brochura, era a materialização do sonho e do árduo e solitário trabalho que é escrever. Naquele momento, nascia, oficialmente, o escritor Antônio Coutinho, um piauiense acolhido como filho desta terra. Assim, pertenço a Imperatriz pela palavra, a cidade fez o meu parto literário.

Contudo, a trajetória do Osculário não tinha terminado. Pouco tempo depois de publicada a primeira versão, escrevi mais quatro textos, alguns motivados pelas discussões com leitores e leitoras do livro. Para meu espanto, percebi que as novas histórias pertenciam ao universo do Osculário, elas não teriam sentido em outro volume. Por isso, providenciei uma nova edição da coletânea com os novos contos. Aproveitei a oportunidade e revisei os anteriores. Num belo trabalho gráfico, a editora Kiron, sediada em Brasília, com custos do próprio autor, editou a versão lacrada deste Osculário. O subtítulo do mesmo significa o fechamento do ciclo deste projeto literário e, portanto, ele não será mais mexido. É esta versão, definitiva, que foi premiada pela AIL.

Mais uma alegria se soma a essa trajetória vitoriosa de um livro feito tendo como pano de fundo a paisagem urbana da cidade. Mesmo quando não nomeada, Imperatriz demarca a cartografia existencial que move o livro.

Assim, os vinte contos se desenvolvem, apresentando suas ruas, praças, igrejas, o seu trânsito caótico, a labuta de sua gente. Ao mesmo tempo, estes contos, escritos ao longo de anos, tratam de

questões existenciais, de angústias sufocadas no cotidiano da vida ordinária, mas que, um pequeno detalhe acidental, tornam manifestas, levando as personagens ao questionamento de si, de seu mundo e da própria vida. Osculário: lacrado é um livro que fala do desconforto que é existir, mas que faz isso com uma linguagem poética, talvez para adoçar um pouco a crueza das existências que expõe. Com este livro, ofereço um beijo artístico, ritualístico, um ósculo de gratidão pela cidade que acolheu a mim, a meus irmãos e a minha mãe desde que aqui chegamos numa espécie de exílio de nossa terra natal. Como resposta, a cidade devolveu este beijo de acolhida por meio da Academia Imperatrizense de Letras quando o premiou com o primeiro lugar. Uma partilha, uma troca, uma comunhão da arte e do compromisso de se fazer notar a literatura imperatrizense como uma fonte que tem muito a oferecer. A seara da palavra é infinita. Ainda bem.

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »