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20/04/2023 às 21h19min - Atualizada em 20/04/2023 às 21h19min

O futuro começa em 10 de maio?

Fernando Ringel *

    
O apoio de Lula à China e Rússia provavelmente tem motivos que só serão descobertos após o fim do seu governo. Como sempre acontece, a verdade surge apenas anos depois, mas geralmente essas coisas têm a ver com a política necessária para se chegar ao dinheiro: a China é nosso maior parceiro comercial e a Rússia apoia a entrada do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Tudo isso sem falar que Brasil, China e Rússia são 3/5 dos BRICS. Mas é só isso?


Como no truco, há quem blefe e os que exageram na festa ao vencer uma rodada. No caso dos pitacos sobre a guerra na Ucrânia, se tudo der certo, a intromissão de Lula tende a colocá-lo como figura de projeção mundial, deixando-o em melhores condições para negociações internacionais. Nesse raciocínio, na pior das hipóteses, a estratégia pode estreitar os laços com quem tem interesse no Brasil. É só pensar: se Europa e Estados Unidos são capazes de colocar as mãos nos bolsos para ajudar a Ucrânia por algo que só causa despesa e desgaste público, como infelizmente é a guerra, no mínimo eles olhariam para o nosso país calorento e colorido com mais carinho para fazer comércio. E se a China quiser incentivar suas empresas a pagar mais pelos mesmos acordos? Ora, é como se diz na internet: “eles que lutem”!

É um jogo complicado porque, para realizar tudo o que se propôs, o atual governo brasileiro precisa de mais de dinheiro estrangeiro, além de fazer render o que já está aqui dentro.

 

 “Lula-lá” e o arcabouço aqui?

Como sempre, os críticos criticam, apoiadores apoiam e quem faz o noticiário noticia, mas nem sempre o que vende jornal e gera cliques é muito mais do que mera fofoca. É o caso da Procuradoria-Geral da República (PGR), que no último dia 17 denunciou o senador Sergio Moro (União) por calúnia. Tudo porque o ex-juiz, aparentemente pegando um quentão em uma festa de São João, foi filmado dizendo que para soltar alguém, provavelmente preso em uma brincadeira típica de São João, falou em “comprar habeas corpus” de Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Pois é, no eterno carnaval que a política nacional se tornou, essa coisa de frase fora de contexto é assim mesmo: “um dia da caça, outro do caçador”. Moro que lute, mas para quem consegue ver além do mundo da fofoca, o que realmente importa para o país? Obviamente, o assunto que interessa é a votação do novo arcabouço fiscal, essa forma chique de falar sobre como o governo vai receber e investir o dinheiro público daqui para frente.  No caso, a equipe econômica alterou o texto original, deixando de fora do limite de gastos as arrecadações extraordinárias, como privatizações. A ideia é evitar que receitas atípicas se tornem gastos permanentes.

O texto para a análise do Congresso Nacional foi entregue em solenidade com a presença de Lula, recém-chegado de viagem onde foram fechados acordos com a China e os Emirados Árabes. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), disse que dará prioridade para a votação e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), declarou que o texto deve ser aprovado até 10 de maio. Entretanto, todos sabem que as discussões entre deputados e senadores naturalmente provocarão novas alterações na proposta inicial. Como diria Galvão Bueno, “haja coração”!

Eis o retrato de um governo que bate a falta e cabeceia para o gol: fora do país busca mais investimentos e, por aqui, gasta na expectativa de gerar ainda mais dinheiro, empregos e, por fim, crescimento econômico. Sempre acelerando. Há algo mais capitalista que isso? Como o mundo é cheio de reviravoltas, ninguém pode prever o futuro, porém, otimismo é de graça e o mínimo que se pode fazer é torcer para que tudo isso vire realidade. Não é um plano simples, mas se der certo, vai ser bom até para quem torce contra.

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 * Fernando Ringel   é jornalista e professor universitário. @FernandoRingel - [email protected]
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