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21/03/2023 às 18h12min - Atualizada em 23/03/2023 às 00h01min

Religião e sexo em romance-verdade

Histórias narradas por Lilia Refle têm título ousado e envolvem dramas de família. Lançamento será no 1º de abril, na Livraria da Travessa de Ipanema

SALA DA NOTÍCIA
Auracom Assessoria de Comunicação
Foto: Divulgação/SALA DA NOTÍCIA

A escritora Lilia Refle lançará o romance “A puta religiosa”, no dia 1 de abril, na Livraria da Travessa de Ipanema, às 18h. O livro conta a luta pela sobrevivência de uma jovem negra que deixa para trás as dívidas e uma família desestruturada, no interior da Bahia, para ganhar a vida como garota de programa no Rio. Dividida entre dois mundos, a personagem mantém a fé apoiada no pentecostalismo, em busca de saídas, com a mãe alcoólatra, a irmã caçula dependente química e a ausência paterna. Em pouco tempo, vestindo e se despindo de uma personagem de vida dupla, Sebastiana, ou Penélope, vira a prostituta mais desejada da casa e a preferida de um senador da bancada evangélica.

“O lançamento acabou sendo agendado para o dia da mentira, um paradoxo diante de todas as absurdas verdades repugnantes que esse romance traz”, diz Lilia, que também veio de uma infância pobre na Bahia e, hoje, estuda Letras na PUC. “O livro surgiu como que numa epifania, na repulsa a tudo que infelizmente faz parte da minha ‘escrevivência’. Tenho a ousadia de trazer o termo criado pela escritora Conceição Evaristo aqui, porque creio que é impossível se escrever acerca daquilo que não se sabe.”
 
Este é o terceiro livro de Lilia Refle, que lançou outros dois romances ao mesmo tempo, no ano passado: “Inquieta” e “Primeiro amor”. Em “A puta religiosa” há críticas ao fanatismo, ao falso moralismo, à manipulação e à mistura da política com religião, mas a autora frisa que o livro quer destacar a falta de espiritualidade do ser humano diante das tragédias modernas.
 
“A história aborda também a visão da religiosidade como fuga e, sobretudo, como empresa que gera milhões. Não creio que algum fiel genuíno se sentirá afrontado com esse texto”, crê Lilia Refle.
 
Ela conta que escreve porque tem uma dívida de vidas passadas, apesar de ser ateia, como faz questão de frisar: 
 
“É uma dívida d'alma com o dom da escrita. Alguns dizem que escrever é a profissão dos sonhos. Minha escrita é feita da dor interna. Escrevo para aliviar a alma, para aguentar a vida. Tem muito a ser dito ainda. Sou uma sobrevivente. Nasci por último, em uma família de 17 irmãos, no interior da Bahia. Como, no país de todos, o letramento sempre foi privilégio de classe, não bastou sobreviver à fome na infância. Tive que sobreviver à audácia de uma intelectualidade negada, pois preto e pobre só nascem para limpar banheiros. Lutei para chegar aqui. Não sei se sou vitoriosa, mas sim autocrítica e ambiciosa quanto à formação intelectual. Termino graduação em Letras este ano, e já estou com a cabeça no pós-doutorado. Apaixonada por línguas, traduzo alemão/português e busco tempo para adentrar no grego.” 
 
Lilia Refle diz que também já tem outros projetos literários encaminhados. O próximo romance será “Nove noites em cada dez gostaria de desaparecer”.
 
“É sobre uma aristocrata alemã que engravida do pai aos 16 anos. Uma menina loira de olhos azuis. Algumas pessoas me perguntaram o porquê de não focalizar sempre a minha escrita no povo negro. Bom, porque me inspiro na alma dos humanos e não acredito que tenhamos uma cor. Apesar de eu, ainda, ter que enfrentar agressões racistas e me determinar sempre negra. Tudo isso vai ficando tatuado na alma. Um prato cheio de inspirações. Sonho com o dia em que humanos possam ser apenas humanos, e que as suas humanidades estejam acima de qualquer bem material”, reforça a escritora.

Serviço 

  • “A puta religiosa”
  • Editora Astrolábio
  • 74 páginas 
  • R$ 45,90
  • Lançamento dia 1 de abril, às 18h
  • Livraria da Travessa de Ipanema
  • Rua Visconde de Pirajá, 572, Rio de Janeiro

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