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28/11/2020 às 00h00min - Atualizada em 28/11/2020 às 00h00min

HOT SPOTS DE UMA ELEIÇÃO – II

Expedito Barroso
O escritor negro Machado de Assis escreveu em um dos seus profundos contos que retratam a sociedade do Brasil do final do século XIX, e que trazem muitos e luminescentes pixels à compreensão semiótica do Brasil de hoje, que a história é sempre contada por alguém porque cabe a esse sujeito-narrador preencher as lacunas e desvelar o escondido.

Esse segundo artigo de opinião, como os demais, tem esse propósito de preencher o espaço-território político ao mesmo tempo que lança vislumbres de luzes, sombras e contornos sobre o fato eleitoral da nossa Imperoza. Sempre temperado com pitadas de bom-humor e tentando aprender com a moçada lá da Magna Grécia a usar a ironia como instrumento do diálogo e conhecimento, porque, prezado e prezada assinante d’O Progresso, a existência humana do raso ao fundo é isso: uma dor deliciosa. Que arde de doce. 

Lembremos que 132.856 eleitores validaram seus votos nas eleições proporcionais de 15 de novembro e que o Quociente Eleitoral – QE foi de 6.313 votos. E 4.847 votaram branco/nulo. 

Se o grupo do branco/nulo fosse um partido, teria conquistado a vaga do MDB, que teve apenas 4.370 votos, o suficiente para conquistar a antepenúltima das 21 cadeiras. Vaga ocupada pelo vereador João Silva. 

Também mencionável é a quantidade de votos para aqueles 11 partidos que não conseguiram conquistar vaga: 20.125 votos, metade deles, 10.642, dada a três partidos, PSL, PATRIOTA e PROS. Analisar essas votações de forma descolada da eleição majoritária deixa muitas lacunas, por isso tratarei delas em hot spots futuros. Mencionei aqui tão somente para que o leitor possa antever no debate na nossa cidade a situação sobre uma miríade de siglas de aluguel que tendem a se reorganizarem no cenário partidário, podendo até mesmo deixar de existir, no ritmo em que a reforma política avance. 

Voltando a análise sobre a conquista das vagas, lembremos que 9 delas foram obtidas de largada por partidos que atingiram o QE e tiveram o Quociente Partidário – Q maior que 1; esses partidos também conquistaram nas sobras mais 7 das 12 vagas remanescentes, (DEM e PTB, mais duas vagas cada; PC do B, SD e PL, mais uma vaga cada). Conforme a regra eleitoral, conquistar a vaga na sobra o partido tem que ter o candidato obtendo pelo menos 10% do QE, neste ano 631 votos. Tirando da conta os 5 partidos que conquistaram vaga apenas nas sobras por não terem atingido o QE, os 9 partidos campeões de votos tiveram 36 candidatos suplentes com mais de 10% do QE. Relembrando que desses, 7 se elegeram na sobra, ficam 29 suplentes com aquela característica.  

O fato inusitado que ocorreu aqui foi o PSD que, sétimo partido com maior votação, seu segundo candidato mais bem votado não atingiu o QE, obteve 592 votos, e, portanto, ainda que fosse possível ao partido conquistar uma vaga na sobra, não levaria. O reeleito, vereador Ricardo Seidel, eleito pelo partido de centro-esquerda REDE da Marina SIlva lá em 2016, e que arrumou as malas para o partido de centro-direita PSD do Kassab e Índio da Costa, oscilou positivamente somente 197 votos entre as duas eleições, mas o suficiente para alavancá-lo da 17ª votação em 2016 para a 4ª posição agora. Embora sua votação tenha sido apenas 24% da votação do PSD, a tática eleitoral do seu partido, de modo coletivo, realmente foi inusitada, eu diria até bem longe do conceito de sustentabilidade, estendido ao universo partidário. 

Essa análise de opinião se ratifica pela constatação eleitoral que os 5 partidos que não atingiram o QE, mas com uma tática diferente, alcançaram um desempenho que resultou no fato de que tiveram suplentes com mais de 10% do QE: o MDB e o PSDB com 1 cada, e o PDT, AVANTE e PT, cada um com dois suplentes com mais de 631 votos.  Alguns desses cinco inclusive com procedimentos mais orgânicos, coletivos, 

Falando em suplente, não posso deixar de analisar a performance de algumas candidaturas que têm um robusto sentido simbólico na vibrante história política da cidade. Por óbvio, pela falta de espaço, não comentarei de todos que merecem por sua atividade na política. A vereadora Fátima Avelino, que construiu sua base no Parque Alvorada no final do século passado, e de lá pra cá transitou por todo o espectro político-partidário local, sempre se reelegendo, viu sua base eleitoral ir calma e lentamente se desintegrando; desde 2012 é ladeira abaixo, na penúltima eleição, em 2016, quando conquistou a última vaga do parlamento, dessa feita pelo então PMDB, foi apenas a 35ª votada. E, a despeito de sua performance na candidatura à Deputada Estadual em 2018, em que conquistou pouco mais de 7.000 votos, talvez sentindo o desgaste natural sabiamente não concorreu, colocando um filho que concorrendo já em outra legenda, o DEM, obteve 1.157 votos, quase os mesmos 1.119 conquistados pelo clã em 2016. Do Parque Alvorada ao crepúsculo na democracia representativa onde o voto conta e mandato aponta para cargo(s) no executivo, é irrefutável que a vereadora tem um sólido verbete na história do parlamento imperatrizense.  

Outra situação também legendária foram as candidaturas do professor Doutor Esmerahdson de Pinho e o histórico e longevo líder dos pescadores da Colônia Z-29 do nosso imperador Tocantins, Salomão Santana. Concorrendo ao parlamento, por partidos diferentes, inclusive que integraram coligações majoritárias adversárias, enteado e padrasto obtiveram respectivamente 914 e 359 votos, 0,96% dos votos.  Nesse aspecto a histórica, firme e parlamentar por excelência e definição, ex-vereadora Mary de Pinho (in memoriam) foi mais eficiente e eficaz que o filho e esposo, inclusive se juntos estivessem. 

Em relação ainda às primeiras suplências, sobretudo aquelas cujos candidatos obtiveram votações expressivas a gente constata que, me valendo uma vez mais do dito popular, as malas estão se ajeitando conforme o carro da história anda. O suplente mais votado no geral, Fidélis Uchoa do REPUBLICANOS já se salvou aportando no Centro Administrativo Municipal lá no São Salvador voltando à titularidade da importantíssima Secretaria Municipal de Planejamento Urbano, responsável nada menos pelo planejamento e gestão das políticas públicas de ordenamento, zoneamento, ocupação, regularização e urbanização territorial da nossa cidade, sede da região metropolitana do sudoeste maranhense. Sim, leitores, isso mesmo.  

O segundo suplente mais votado, Jonas Alves, presidente municipal do PT, informou por meio de sua rede social que já desceu pro litoral, desembarcando na ilha e feliz por reassumir a Subsecretaria de Estado de Infraestrutura, donde se compromete continuar fazendo mais pela região Tocantina. Boa sorte, companheiro! 

Para o terceiro suplente mais votado, o médico Alair Firmiano do MDB, a anamnese política parece indicar que os processos vitais são um pouco mais críticos, quase adentrando numa fase crônica. Forte e complexo quadro institucional, e interinstitucional, que envolve os poderes republicanos instituídos, parece indicar a necessidade de uma mediação e articulação política exaustiva sobre sua condição anterior de Secretário Municipal de Saúde. A conferir. Mas aqui também me valho de uma máxima do futebol que pode vir ao encontro do médico: em time que tá ganhando, e se confia no jogador para armar as jogadas, não se mexe. De qualquer modo, o município tem obrigação constitucional de estar bem preparado para a contingência decorrente da ampliação dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave e Covid-19, com a chegada da temporada de chuvas. #DefendaoSUS, leitor e leitora; ele salva vidas! 

Um primeiro suplente que gostaria de ver seu desempenho no parlamento é o jovem professor, Geógrafo Deir Vieira, liderança em ascensão do Grande Cafeteira, primeiro suplente do PC do B e décimo mais bem votado. Os camaradas comunistas elegeram dois vereadores, inclusive o reeleito professor Historiador Carlos Hermes, liderança consolidada. Vai que ocorram movimentações em nível estadual e o Deir possa vivenciar o parlamento. 

Outro primeiro suplente de partido que também é expressivo como liderança inserida na sociedade é o do PSB, o Bombeiro Militar e Historiador R. Barros, 15º suplente mais bem votado.  

Pessoalmente abro uma exceção e emito minha opinião sobre um segundo suplente, o artista, ator, dramaturgo e comunicador Whalassy, do PT. Por algumas razões; a começar por uma que é bastante simbólica para os petistas: foi o 13º suplente mais bem votado. Outra: primeira candidatura na cidade com uma pauta e plataforma de campanha fortemente inserida e identificada simultaneamente na pauta de gênero, LGBTQi+ e antirracista. Mais outra: uma campanha antenada com o mundo digital usando não apenas as redes de maneira genérica ordinária, mas expressando uma linguagem midiática contemporânea. E mais uma: de uma pessoa que como ele mesmo disse em uma rede social à guisa de uma autocrítica sincera, amadureceu ao longo do tempo. Que homem!  

Politicamente, analiso que o primeiro suplente pouco provavelmente se desincompatibilizaria do importante e estratégico cargo de Subsecretário de Infraestrutura para uma possível investidura no parlamento. E, claro, por crer que o vereador Aurélio – reeleito consecutivamente para seu terceiro mandato, político com vivência e experiência comprovadas, bem avaliadas e que se insere no G4 dos mais atuantes vereadores do século na nossa cidade, e G1 dentre os progressistas e de esquerda –, bem que poderia ao longo do seu mandato e em diálogo com as forças do PT e dos movimentos identitários que constroem a pauta do suplente, articular as condições políticas que viabilizem a presença ainda que temporária do Whalassy na Câmara Municipal. A cidade, a sociedade, a pauta identitária, o partido, o vereador Fiscal do Povo e o suplente só teriam a ganhar.  

Ah, temos acompanhado pela imprensa a previsível e esperada movimentação por aquela cadeira mais alta no Plenário Leo Franklin. Movimentação além de previsível, legitima e legal, pois na política não há espaço vazio. Aqui parafraseio um ex-ministro de estado da república mencionando que a cadeira de presidente arde. Mas é doce. Há uma disputa acirrada nos bastidores entre os vereadores Adhemar Freitas Júnior, do SD e segundo mais votado, e o João Silva, da base do alcaide, delegado licenciado. A bolsa de apostas dá 9 votos “amarrados” para cada lado e três em forte disputa. Não custa lembrar da sina da cadeira: só pra ficar nos dois últimos presidentes, que comandaram o poder legislativo nos últimos 12 anos, os mesmos não concorreram e suas táticas não foram exitosas: o vereador Hamilton Miranda, presidente entre 2009-2014, colocou o filho, que obteve a primeira suplência do Solidariedade, mesmo obtendo quase 750 votos a menos que o pai na última eleição, e o José Carlos, que comanda o parlamento desde 2015, que também não teve êxito na  candidatura do filho, com o PATRIOTA inclusive sequer conquistando vaga. Para os dois ex-presidentes, nada mais temporal que esses versos do Caetano Veloso: “E quando eu tiver saído/Para fora do teu círculo/Tempo, tempo, tempo, tempo/Não serei nem terás sido”.  

Mas claro que a gente deseja boa sorte para o futuro presidente daquele poder, né pessoal? 

Semana que vem tem mais, com as últimas análises sobre a eleição proporcional, a conjuntura e o desempenhodas candidaturas autoafirmadas de religiosos, e já aparecendo no radar a eleição majoritária, sobretudo como disse no primeiro artigo, na linha de analisar seus vínculos, pesos e contrapesos na eleição proporcional. Cuide-se e do seu próximo. Use máscara. #DefendaoSUS!
  EXPEDITO BARROSO   53 anos, é Biólogo e Professor MAG III da Rede Estadual de Educação Básica. Professor Assistente IV CCENT/UEMASUL.
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