MENU

07/03/2023 às 19h28min - Atualizada em 07/03/2023 às 19h28min

Doce vilão

Ludmila Pereira de Araujo Souza *

Semana passada, uma cena inusitada chamou atenção dos telespectadores do Mais Você.

É que, semanalmente, a apresentadora Ana Maria Braga recebe o eliminado do Big Brother Brasil para um café da manhã. E no último paredão, o brother Fred Nicácio saiu do programa e, portanto, foi convidado a participar da atração matinal.

Agora, me atendo ao que, de fato, chamou atenção do público – que passou longe de ser as razões pelas quais ele foi excluído pelo público do BBB – foi a quantidade absurda de açúcar que ele adicionou à sua xícara. Foram exatas 6 colherinhas cheias em um simples cafezinho.

Tão rapidamente esse vídeo viralizou e muitos “memes” começaram a circular nas redes sociais, tomando o acontecido como piada.

Mas digo a você, caro leitor, que apesar da surpresa das pessoas, essa alta ingestão é bem comum no nosso cotidiano: tanto de pessoas próximas da gente adicionando muito açúcar às suas bebidas ou de nós mesmos, ainda que inconscientemente, consumindo produtos industrializados que têm um teor altíssimo, mas que passa despercebido ao nosso paladar, justamente por já estarmos muito condicionados a isso.

É fato que desde o nosso nascimento já somos expostos ao doce, tendo em vista que o próprio leite materno contém seu açúcar natural – a lactose.

E, obviamente, até por uma questão cultural, o açúcar é apresentado desde muito cedo às crianças, como forma de melhorar aceitação da alimentação.

Dificilmente é lhe dada a oportunidade de experimentar o amargo ou o azedo. O que é um grande erro.

E assim, segue o fluxo do açúcar na nossa vida: a ingestão sendo cada vez mais cedo, cada vez maior e cada vez mais frequente de um alimento pobre nutricionalmente falando e que se basta unicamente de calorias vazias, que em nada nos alimenta.

Com o crescimento dos industrializados, esse consumo literalmente “estourou” e se tornou ainda maior, afinal, para que lhe seja conferido mais sabor e melhor palatabilidade, a adição de açúcar é essencial.

Mas aí, você deve estar se (me) questionando: então é errado comer açúcar?

E eu lhe respondo: não!

O grande problema está no exagero que é o atual consumo da população. A prova disso são os índices crescentes de sobrepeso e obesidade, da chegada da diabetes cada vez mais cedo, além da esteatose hepática – a conhecida “gordura no fígado” – que está cada dia mais presente na vida das pessoas.

Infelizmente, a desinformação também pesa muito sobre a população. Exemplo disso está nos alimentos ultraprocessados que contam com uma grande quantidade de açúcar, mas que aparece com nomes diferentes na lista de ingredientes e que os consumidores desconhecem o que seja: é maltodextrina, é dextrose, é glucose de milho, é glicose, é sacarose, é frutose, é açúcar invertido, é açúcar demerara, é xarope de malte… Ufa! A lista é enorme – e eu ainda devo ter esquecido alguns –, mas tudo pra falar que é uma mesma coisa: açúcar.

Portanto, nobre leitor, não se engane… O nosso atual consumo tem ido muito além daquela colherzinha do café. Ele está fortemente presente em cada biscoitinho, seja ele simples ou recheado; em cada bola de sorvete; em cada chocolate ao leite; em cada bebida láctea; em cada copo de refrigerante ou de suco industrializado; ou seja, em cada desembalar de um industrializado.

É fato, por trás de praticamente tudo que é doce, vem esse doce vilão.

________________________________________________________________________________________________________
 * Ludmila Pereira de Araujo Souza   é Nutricionista, especialista em Nutrição Clínica com ênfase nas enfermidades renais


Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »