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24/02/2023 às 22h26min - Atualizada em 24/02/2023 às 22h26min

A Guerra do Leda

Da fuga do Maranhão, ao linchamento em praça pública, em terras paraenses

Elson Araújo
 
Chegamos ao terceiro texto onde assentamos um fragmento da história do Maranhão ainda pouco conhecido: “A Guerra do Leda”, que segundo a historiadora Layla Adriana Teixeira Vieira, e ainda o patrono da Cadeira 02 da Academia Imperatrizense de Letras, João Parsondas de Carvalho, bem como o saudoso Sálvio Dino, da Academia Maranhense de Letras/ Academia Imperatrizense, se propunha a conquistar a independência política do Sertão Maranhense.

Sobre a Guerra do Leda é admitido, pelos raros estudos encontrados, e sobretudo pelos relatos testemunhais de Parsondas revisitados por Sálvio Dino, que ela teve como um dos epicentros a cidade de Grajaú, cognominada também naquele tempo de Vila da Chapada, terra natal de um dos líderes da rebelião, o rico proprietário rural e político Leão Rodrigues de Miranda Leda

Leda era ferrenho adversário do então todo poderoso Benedito Leite, o senador da República que mandava mais do que o governador.

Os revoltosos aspiravam, nas palavras da historiadora Layla Adriana Teixeira, uma presença maior do Estado, e que o mesmo promovesse seu desenvolvimento por meio da aplicação de verbas que se destinassem à construção de estradas, escolas e postos de saúde. Mas o movimento ganhou outros contornos depois do assassinato, em Grajaú, do promotor público Estolano Eustáquio Polary, no dia 16 de agosto de 1898. É que o senador Benedito Leite aproveitou para atribuir o mando do crime a Leão Leda e seu grupo político.

Leda, conforme já contei, tentou se defender legalmente, mas quando percebeu que na verdade havia era uma sentença de morte e não uma ordem de prisão, fugiu com mais de 20 homens armados. Iniciava ali, a maior caçada humana já registrada no alto sertão maranhense, com grande derramamento de sangue inocente.

Para capturar Leda e seus homens, Benedito Leite enviou várias guarnições para a região. Com o grupo fortemente armado, Leda conseguia sempre escapar do cerco policial. Os registros de Parsondas, revisitados por Sálvio Dino no livro Parsondas de Carvalho, um novo olhar sobre o sertão, narram a ocorrência de vários conflitos entre a Polícia e os fugitivos, com mortes de ambos os lados.

Com o agravamento da situação diante da resistência de Leda, é que surgiu a ordem para “castigar” quem desse abrigo para o fugitivo. Bastava uma suspeita para a liberação da licença para matar, estuprar, torturar e tomar a terra, na sua maioria, de pequenos proprietários rurais. Muitas das vítimas chegaram a ser degoladas e castradas.

Na obra Guerra do Leda, um relato contemporâneo de Parsondas de Carvalho sobre a rebelião que deu nome ao livro, com riqueza de detalhes ele conta um desses episódios, ocorrido num povoado próximo a Carolina. Ali, um idoso, sob a suspeita de ter abrigado Leda e seus homens, depois de ser torturado, foi estripado por um soldado e depois atado a uma estaca para ser comido, segundo eles, pelos urubus, com a recomendação que, quem o tirasse dali para ser sepultado, passaria pelo mesmo suplício.

Na cidade Carolina, um padre que a Polícia suspeitou de ter dado abrigo ao grupo do Leda, para não morrer na hora, com a Igreja cercada, fugiu só de batina.

A Guerra do Leda poderia ter sido totalmente varrida da história do Maranhão se não fosse o espírito inquieto do patrono da cadeira 02 da Academia Imperatrizense de Letras, Parsondas de Carvalho. Antes de escrever Guerra do Leda, para denunciar os crimes do Estado Maranhense contra a população pobre do alto sertão, ele escreveu e publicou vários artigos, principalmente em A Pacotilha, jornal que fazia oposição ao senador Benedito Leite. Mais do que isso, a cavalo, Parsondas, um misto de jornalista, historiador, geógrafo e rábula (advogado) foi ao Rio de Janeiro e conseguiu também publicar seus artigos no influente Jornal do Brasil.

Os textos de Parsondas, depois juntados em a Guerra do Leda, e posteriormente resgatados pelo advogado, político e historiador Sálvio Dino, em 2007, são considerados importantes pelos historiadores por abrigarem as poucas referências sobre esse período sangrento da história do Maranhão, ocorrido entre o final do século XIX e início do século XX, aqui neste lado Maranhão.  

A Guerra do Leda ainda é um campo amplo e aberto para os pesquisadores e historiadores maranhenses.
Bem, e o que aconteceu com Leão Leda? Os homens de Benedito Leite depois de dezenas de mortes, dos dois lados da refrega e ainda do assassinato de dezenas de inocentes sem nenhum envolvimento na história, não conseguiram capturá-lo. Consta que entre 1898 e 1889 ele vagou pelo sul do Maranhão e norte do Goiás, fugindo da polícia maranhense, até que em 1900 fixa-se em Boa Vista do Tocantins, hoje Tocantinópolis (TO) onde refez sua vida e até tornou-se prefeito do lugar.

Depois, essa informação encontrei na enciclopédia eletrônica Wikepedia, já no final de 1908, Leão Leda foi morar em Conceição do Araguaia, terra paraense que por algum tempo chegou a pertencer ao Estado de Goiás.  Seu forte ativismo nunca o afastou dos levantes políticos. Alí, se envolveu numa outra luta emancipacionista para criar um novo estado, que englobaria o sudeste do Pará e o norte do Goiás. Comprou briga com o prelado Domingos Carrerot que o “acusou de ser maçom e judeu”, briga que não teve um final feliz.

Consta que no dia oito de março de 1909, por volta das 11 horas da manhã, incentivados por Dom Carrerot, um grupo de homens fortemente armado cercou a casa de Leda. Depois de 24 horas de conflito, todos que estavam na casa estavam mortos. Leda e o filho Mariano foram capturados e linchados em Praça Pública, dia nove de março de 1909. Terminava ali a vida do homem que quis emancipar o sertão maranhense e depois, territórios do Pará e do Goiás.
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