O livro apresenta a trajetória de uma ararinha-azul que sonha em encontrar outros animais de sua espécie para, assim, sair da ameaça de extinção. De acordo com o escritor, é possível falar de assuntos sociais, políticos e ambientais com a juventude sem perder a ludicidade.
“As questões do meio ambiente, os maus-tratos com os animais e até mesmo o tráfico de animais silvestres são assuntos com muitas possibilidades de abordagem”, explica em entrevista. Leia abaixo o conteúdo completo:
- “Maria Flor, a última ararinha-azul” conta a história de Maria Flor, uma ararinha-azul que sonha em manter sua espécie viva e sofre com a ganância de um famoso chapeleiro. De uma forma lúdica e com uma linguagem voltada para o público infantojuvenil, você fala sobre o tráfico de animais silvestre, terceiro maior comércio ilegal do mundo. Qual a importância de abordar esse assunto com crianças e adolescentes?
Xico Farias: Acho que os pais precisam conversar com suas crianças sobre temas importantes, claro que dentro de critérios estabelecidos por eles e sempre de maneira lúdica e sem tirá-los do universo infantil. As questões do meio ambiente, os maus-tratos com os animais e até mesmo o tráfico de animais silvestres são assuntos com muitas possibilidades de abordagem.
- Na obra, você também apresenta a fauna do nordeste ao introduzir animais como a cutia, o cardial-do-nordeste e a seriema. Na sua opinião, por que se deve estimular desde cedo o contato dos jovens com a biodiversidade brasileira?
X.F.: Para que eles entendam que o cuidado com a natureza é algo que precisa estar presente no seu dia a dia, como comer, dormir, brincar. Ações simples como não desperdiçar água durante o banho, não jogar lixo onde não é lugar de lixo, faz muita diferença. Eles precisam saber que, para que tenham um futuro possível, é preciso que fiquem atentos a estas questões. Cabe aos pais, relembro, escolher a melhor forma e quando abordar esse tema.
- A destruição da natureza, o tráfico de animais, o desmatamento, as queimadas, o garimpo, etc., trazem consequências para a população mundial como um todo. Quais são suas expectativas ao falar de assuntos tão urgentes com crianças?
X.F.: Que eles entendam que qualquer ação desordenada do homem sobre a Natureza é prejudicial para ele próprio. As consequências serão sofridas com mais rigor pelas gerações em formação e pelas que estão vindo por aí. Basta olharmos ao redor para vermos o tanto de destruição que se acumula dia após dia. Não há um dia em que não temos notícias de destruição e sofrimento em toda parte do planeta. Precisamos ficar atentos e agir.
- Você também escreveu “Aventuras da ratinha cantora de ópera na Cidade Maravilhosa”, uma fábula infantil sobre a ditadura militar brasileira. Tornou-se um compromisso pessoal tratar de assuntos sociais, políticos e culturais com crianças? Por quê?
X.F.: Não diria que é um compromisso. Mas acredito que as pessoas precisam de conhecimento para fazer suas escolhas. Eles precisam saber que a arte é algo maravilhoso. Que a ditadura é algo horroroso. Que o Rio de Janeiro é uma cidade linda. Que a natureza precisa da nossa atenção. Mas não estou ditando regras, só estou dizendo que o conhecimento nos dá liberdade para fazermos nossas escolhas com mais propriedade.
- Em breve, você lançará um livro para o teatro. O que podemos esperar do próximo lançamento?
X.F.: É um texto original para o teatro que conta a história de duas pessoas que se encontram em uma praia abandonada em um momento limite de suas vidas. Um homem e uma mulher. Dois losers em busca de rendição. O texto também fala de amor, da falta dele e do que ele pode provocar na vida das pessoas. Em meio a um jogo perverso, melancólico e de emoções à flor da pele os dois expõem suas fragilidades até se perceberem parte do mesmo universo e, a partir daí, o jogo caminha para um desfecho surpreendente. Chama-se “Vamos Acabar Logo com Isso” e sai pela Opera Editorial em março.