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31/01/2023 às 09h53min - Atualizada em 31/01/2023 às 09h53min

​É intolerância ou alergia?

Ludmila Pereira de Araujo Souza *
Há alguns dias, causou bastante comoção uma notícia que circulou nas redes sociais sobre uma jovem de 24 anos que morreu após usar uma colher com resquícios de leite. 

A moça, sabidamente alérgica a esse alimento, sofreu um choque anafilático, que se trata de uma reação alérgica extrema grave e até fatal. 

Ela ainda chegou a ser internada, mas faleceu no dia seguinte. 

Essa história parece um tanto quanto surreal, não é?! Mas, infelizmente, não é. E a verdade é que esse assunto ainda gera muitas dúvidas na população, pois há duas condições patológicas relacionadas ao leite: uma se trata da intolerância à lactose; e a outra é alergia ao leite, que na verdade é à sua proteína.

Irei explicar agora o conceito e qual a diferença entre as duas. 

A intolerância à lactose se trata da incapacidade de digerir a lactose, que é o açúcar do leite.  Ela acontece devido à incapacidade do organismo de produzir uma enzima – a lactase – para quebrar a lactose. 

Os sintomas mais comuns são: cólicas fortes e dores abdominais, diarreia ou constipação, além de abdômen inchado. 

Na infância, quando há insistência no consumo, seja por desconhecimento da intolerância ou por “boa aceitação” sem tantas intercorrências, pode haver também retardo no crescimento.

Geralmente, é descoberto ainda quando criança.

Não há cura para a intolerância à lactose, mas com o decorrer do tempo, há uma tolerabilidade maior, fazendo com que a ingestão se torne mais confortável. Mas ainda assim, formalmente, segue a contraindicação do consumo, já que de médio a longo prazo, os quadros inflamatórios tendem a surgir novamente e ainda mais agressivos e dolorosos. 

Já a alergia à proteína do leite de vaca – APLV – diz respeito a uma alergia alimentar e que também costumeiramente tem sua descoberta ainda na infância.

O sistema imunológico do indivíduo não reage de forma adequada à apresentação da caseína, que é a proteína presente no leite. 

Os sintomas, além dos descritos na intolerância à lactose, incluem ainda desconforto respiratório, como ataque de asma e até infecções no ouvido, sangue ou muco nas fezes, diarreia, refluxo, rinite, dermatite e urticária e, claro, em casos mais extremos como o da moça citada inicialmente, a anafilaxia que pode levar à morte. 

A alergia à proteína do leite de vaca, assim como a intolerância à lactose, também não tem cura. E o tratamento consiste na retirada total do leite de vaca da alimentação. 

E diferente da intolerância à lactose, a pessoa com APLV não costuma melhorar a tolerância com o tempo. Pelo contrário. E por se tratar de uma alergia que pode levar a óbito, o ideal é mesmo que não haja incentivo do consumo para testar a hipótese de melhora. 

Os diagnósticos das duas condições são realizados através de exames e relatos clínicos de sintomas, sendo assim, confirmados e dados pelo médico. 

É muito importante que além do acompanhamento médico, haja ainda uma assistência nutricional, já que é o profissional nutricionista quem está apto a orientar e prescrever a dieta desse paciente, seja ele intolerante à lactose ou alérgico à proteína do leite de vaca. 

De fato, não deverá acontecer simplesmente “a exclusão do leite”, mas também o cuidado dietoterápico para que não haja nenhuma carência nutricional ocasionada pela retirada total do alimento.

E aí, caro leitor... É intolerância ou alergia? Tenho certeza de que agora você já sabe diferenciar.
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 * Ludmila Pereira de Araujo Souza   é Nutricionista, especialista em Nutrição Clínica com ênfase nas enfermidades renais
Instagram: @ludmilapasouza.nutri - Email: [email protected]
 

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