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05/12/2022 às 18h08min - Atualizada em 05/12/2022 às 18h08min

Embrapa Cocais e parceiros definem estratégias para promover sistemas agroflorestais no Maranhão

Flávia Bessa
Embrapa Cocais
Foto: Divulgação
 
Novembro ficará na memória dos participantes do I Encontro Maranhense de Sistemas Agroflorestais, que reuniu diversos representantes de comunidades e instituições para troca de experiências e discussão de soluções mais apropriadas para os agroecossistemas do estado. O evento reuniu agricultores, estudantes, profissionais e instituições governamentais, não governamentais, iniciativas privadas, indígenas e quilombolas para o debate técnico-científico de temas relacionados aos sistemas agroflorestais. O objetivo foi avaliar os fatores importantes para desenvolver os sistemas agroflorestais no Maranhão que promovam a conservação produtiva e a mitigação da fome e das mudanças climáticas. 

Segundo o analista Carlos Vitoriano, coordenador do evento e representante do Nordeste na SBSAF, os Sistemas Agroflorestais (SAFs) - modelos de produção que associam árvores com culturas agrícolas e, às vezes, também com animais, de maneira simultânea ou sequencial - podem contribuir com a mitigação da fome ao otimizar a produção e a concentração de alimentos, aumentar a oferta, a qualidade nutricional e o acesso a alimentos e disponibilizar maior diversidade de grupos funcionais de alimentos.

No que diz respeito à mitigação de mudanças climáticas, os SAFs incentivam práticas conservacionistas para aumentar a fertilidade do solo, evitar erosão e melhorar a qualidade da água, promovem o pagamento de serviços ambientais e a agricultura familiar e ainda estimula a pegada ecológica nos sistemas agroflorestais de referência. “Todos os participantes mostraram experiências exitosas e as dificuldades de adoção e aceitação dos SAFs no Maranhão. O modelo que queremos é para ser copiado, alterado por outros produtores, adaptado de acordo com cada realidade”.

Na abertura do evento, o chefe-geral da Embrapa Cocais, Marco Bomfim, destacou a importância do momento. “Estamos vivendo um novo paradigma, o da produção sustentável, e, nesse evento, temos representatividade para transformar a realidade com a participação de todos os envolvidos, inclusive na geração de políticas públicas”.

Marcelo Francia Arco-Verde, pesquisador da Embrapa Florestas e presidente da SBSAF, lançou algumas indagações. Quais são as tecnologias mais apropriadas para o Maranhão e mais adequadas para processo de conhecimento de saberes e seleção de espécies para cada região? Quais arranjos para manejar as atividades e as espécies para ganhar escala de produção e fortalecer o processo de colheita, transporte e comercialização com preços adequados para produtos e consumidores?

“Estamos reunidos para começar o processo de mudança. Vamos tirar proveito dessa união de saberes e experiências e definir sequência de ações e metas. Esse grupo de discussão tem a chance e a possibilidade de realizar políticas públicas na prática, somando instituições para intervir e ver onde e como começar o sistema modelo para o estado a ser replicado com as devidas adaptações. Não podemos mais admitir que o Maranhão, estado com condições plenas de produção, tenha contingentes de pessoas na linha da pobreza e da fome”.
 
Experiências com sistemas integrados agroflorestais e silvipastoris
Alzemar José  Veroneze, representante da Empresa Suzano, falou da experiência com Integração Lavoura-Pecuária-Floresta – ILPF. Ele iniciou questionando por que a adoção ainda é baixa mesmo a tecnologia propiciando tantos benefícios com essa adoção. “O nosso Setor de Árvores Plantadas incentiva o sistema agrossilvipastoril desde 2001. Sabemos que a pecuária é uma cultura maranhense e há áreas de pastagens degradadas emitindo gás carbônico. Mas, sabemos que há tecnologias da Embrapa, como o ILPF, que intensifica o uso da terra e aumenta a eficiência dos sistemas com sustentabilidade. No Maranhão inclusive há a pesquisa em andamento da Embrapa Cocais do babaçu como elemento florestal do ILPF”.

Da Associação das quebradeiras de coco babaçu de Coquelância-Barroquinhas, Mauriana Rocha falou do projeto de desenvolvimento social para tirar pessoas da linha de pobreza no Tocantins, Maranhão e Pará com geração de renda e sustentabilidade. “A base é a agroecologia, sistemas florestais, conservação, mais diversidade de plantas, mais renda, mais carbono fixado. E, claro, a valorização do trabalho das mulheres extrativistas e respeito pelo babaçu. Esses são nossos valores”.

Dos povos indígenas vem o exemplo de educação ambiental. Silvio Santana da Silva e Fabiana Santos Guajajara, do Instituto Centro de Saberes Tenetehar Tukan mostraram como produzem, vivem e ensinam as crianças a olhar com esmero a preservação ambiental. “Nesse evento, queremos contribuir com nossas ideias e modo de olhar para desenhar e construir os SAFs no nosso estado. Estamos também na busca de realizar a primeira faculdade indígena do Brasil em nosso território”, adiantou.

Alana Lima, representante da Eneva, trouxe o Programa Reflorestar, iniciativa da empresa para promover ações de recuperação de áreas degradadas decorrentes de supressão vegetal e contribuir com a geração de renda das comunidades locais por meio de projetos de restauração ecológica, sistemas agroflorestais, instalação de viveiros comunitários e educação ambiental. “O Reflorestar pretende recuperar inicialmente 60 hectares, o equivalente a 85 campos de futebol, em áreas de uso coletivo na Bacia do Mearim e no Parque Estadual do Mirador, na Bacia do rio Itapecuru”, completou.

Da agricultura familiar, veio a representante da Associação Educação e Meio Ambiente (EMA), Maria Elisabeth Detert, que contou sobre a experiência com implantação de SAFs, sistemas agrosilvipastoris e sabiás. “Foram cerca de 80 hectares em 3 municípios de SAFs e 140 mil mudas plantadas e ainda 165 hectares de sistemas agrossilvipastoris em 3 municípios e 120 mil mudas plantadas”.

Como representante da cadeia agroextrativista da juçara\acaí na microrregião do Turi\Gurupi maranhense, falou Obed Soares Costa, da Secretaria de Estado da Agricultura Familiar. “Iniciamos, em 2017, ações com açaí para um público familiar, agroextrativista. Eles recebem assistência técnica e monitoramento regular da Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do Maranhão - Agerp. A Embrapa contribuiu com curso sobre manejo dos açaizais nativos. A iniciativa tem impacto em 300 famílias diretas e 700, indiretas”.

Em Governador Newton Bello, o produtor Deuzimar Lima da Silva aprendeu a produzir sem queimada, em equilíbrio com a natureza, com sustentabilidade, aproveitando a sabedoria do sistema. Ele já trabalha com agroecologia e SAF na prática.

Os SAFs também servem como espaço de formação para jovens rurais. Na Casa Familiar Rural de Açailândia, segundo explicou Xoan Carlos Santos Couto, eles aprendem a ter amor à vida, à natureza, a produzir o alimento com tecnologia e sustentabilidade.

A Associação Agroecológica Tijupá trabalha com agroecologia desde os anos 90 na Região do Baixo Munim Maranhense. Fábio Pacheco destacou o manejo agroecológico de capoeira, roça sem fogo e quintais agroflorestais.

O evento estadual teve status de pré-congresso com a chancela da Sociedade Brasileira de Sistemas Agroflorestais - SBSAF sob a supervisão da Coordenação Regional da Sociedade. O patrocínio é da Embrapa Cocais, SBSAF, Suzano, Eneva e Banco do Brasil. 

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