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07/06/2022 às 07h44min - Atualizada em 07/06/2022 às 07h44min

​A história de um partido com história

Fernando Ringel*
Na ditadura militar existiram apenas dois partidos, a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), pró-governo, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), a única oposição, que naturalmente agregava gente que pensava completamente diferente. Com a redemocratização, a partir de 1985, novos partidos foram criados, e do MDB nasceu o Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB). A nova sigla defendia o parlamentarismo, proposta derrotada em plebiscito nacional, em 1993, e chegou à presidência já em sua primeira eleição, em 1994, com Fernando Henrique Cardoso, reeleito, em 1998. Entretanto, os tucanos estão fora da presidência desde 2003 e Aécio Neves, liderança de peso na sigla, foi envolvido em denúncias de corrupção. Tudo isso contribuiu para o vexame das eleições de 2018, quando o PSDB teve apenas 4% dos votos, com Geraldo Alckmin. Aliás, o principal responsável por trazer João Dória ao ninho tucano, que obviamente deveria desempenhar o papel de coadjuvante, mas logo assumiu ares de “dono do partido”, vindo a ser chamado de “traidor” por Alckmin.

De olho nas eleições de 2022, Dória, então governador de São Paulo, fez pressão publicamente para que Aécio Neves saísse do PSDB, o que não aconteceu, evidenciando as profundas rivalidades em um partido tradicionalmente discreto.
 

Um partido repartido

Dentro da sigla, há quem defenda uma candidatura própria, mesmo com baixa votação, como uma forma de gerar união. Como solução, “o bom filho à casa volta”: o partido deve ser vice na candidatura de Simone Tebet (MDB). Entretanto, o indicado não seria Dória, vencedor das prévias internas, mas com muitas animosidades, nem Eduardo Leite, ex-governador do Rio Grande do Sul, o segundo. O vice deve ser o terceiro, Tasso Jereissati, ex-governador do Ceará, para apaziguar.

Se ninguém se entender, talvez este seja o final da história: a velha guarda se mantendo como PSDB, ficando ainda menor, enquanto os dissidentes formariam um novo partido, também pequeno. Será? Já aconteceu quando o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, saiu e fundou o Partido Social Democrático (PSD), tirando apenas o B da sigla original. É natural que os partidos mudem com o tempo, mas pela forma como está acontecendo, é de se pensar: teria sido Dória o ovo da serpente no ninho tucano?

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Fernando Ringel é jornalista e professor universitário. @FernandoRingel [email protected]
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