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10/05/2022 às 20h00min - Atualizada em 10/05/2022 às 20h00min

Eleições, música e futebol

Gilson Ramalho de Lima
Este ano, os mais de 150 milhões de eleitores2 brasileiros irão às urnas para celebrar a festa da democracia e, através do voto direto e secreto, escolherão seus representantes no âmbito federal: deputado federal, senador e presidente da república.

Mas o que as eleições gerais deste ano têm a ver com música e futebol? Tudo. Outro dia me perguntei o que seria, por exemplo, de Cartola, João do Vale e Garrincha, se não fosse a música e o futebol? 

O Brasil oficial impediu as pessoas das classes menos favorecidas de participarem da vida política nacional, relegando-as a série “b”, numa comparação com o futebol. Os menos favorecidos ao longo de nossa história tiverem suas expectativas de vida frustradas, com escasso acesso à educação, saúde, transporte e os serviços públicos de uma maneira geral, buscando na música e no futebol uma forma de ascensão social e financeira.

O Brasil ainda é uma sociedade muito desigual, os recursos políticos, em sentido amplo também são desigualmente distribuídos, mesmo entre os atores que participam da vida política. Os brasileiros de baixa renda têm pouca participação em organizações sociais e políticas de qualquer tipo. Assim, a menor participação social e política dos mais pobres tende a implicar piores condições de vocalização de pontos de vista, necessidades e preferência e também menor possibilidade de exercerem pressão por seus interesses. Ou seja, são prejudicados no balanço do poder na sociedade, pois não participam do debate, ambiente em que se discutem questões que a todos interessa.

Como estamos em um ano de eleições gerais, a efetiva participação eleitoral dos menos favorecidos é um importante instrumento para que as demandas e necessidades desses atores sociais sejam levadas em conta nas decisões sobre políticas públicas. Assim, uma participação desigual nas eleições tende a levar também a uma consideração desigual das demandas de cada grupo por parte dos representantes políticos. 

Historicamente, observamos no Brasil um ciclo de desigualdade política decorrente de dificuldades impostas por fatores históricos, institucionais, culturais e econômicos, que geram a menor participação dos menos favorecidos na política. Ou seja: menos interesse nas demandas de interesse da maior parcela da sociedade brasileira, alijada das questões debatidas no espaço público, seguindo pouco atendidas pelo Estado.

Assim, com menos políticas públicas destinadas a essa camada da população brasileira, aprofunda-se ainda mais a desigualdade social e gera-se cada vez mais descrédito e menos interesse na atividade política, formando o ciclo em que desigualdade social se transforma em desigualdade política, aumentando o fosso que separa pobres dos ricos, homens e mulheres, brancos e não brancos nas disputas políticas pelos recursos do Estado, enfraquecendo a Democracia.

O inesquecível Wilson Simonal cantava, em “Aqui é o país do futebol”3:

Brasil só é futebol
Nesses noventa minutos
De emoção e alegria
Esqueço a casa e o trabalho
A vida fica lá fora
Dinheiro fica lá fora
A cama fica lá fora
Família fica lá fora
A vida fica lá fora
E tudo fica lá fora

É inegável e salutar que a música e o futebol integram fortemente o cenário cultural brasileiro, além de serem instrumentos de representação social, mas a democracia requer a efetiva e ativa participação de todas as camadas sociais para que se alcance seu mister – uma sociedade plural e representada em todas as esferas de poder. 
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* Gilson Ramalho de Lima é advogado e juiz do TRE-MA (Classe Jurista) 

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