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11/04/2022 às 23h27min - Atualizada em 11/04/2022 às 23h27min

Por um Olhar Centrado no Autista

Ismael Souza
Em 2007, a ONU declarou todo 2 de abril como Dia Mundial da Conscientização do Autismo, que tem nome oficial: Transtorno do Espectro Autista (TEA) – uma condição de saúde configurada por déficit na comunicação social (socialização e comunicação verbal e não verbal) e comportamento (interesse restrito ou hiperfoco e movimentos repetitivos). O autismo não é apenas um único transtorno em si, na verdade, ele possui muitos subtipos. É algo tão abrangente que se usa o termo “espectro”, pelos vários níveis de suporte que estes indivíduos podem precisar – há pessoas com doenças e condições associadas como deficiência intelectual e epilepsia, até pessoas independentes, com vida comum – talvez até o leitor pode estar dentro do espectro e não saiba, pois não possui diagnostico.

As causas do TEA são majoritariamente genéticas. Um trabalho científico de 2019, confirmando estudos anteriores, demonstrou que os fatores genéticos são mais determinantes (97% a 99%, sendo 81% hereditários). Também existe a possibilidade de o ambiente ter alguma influência na gestação (1% a 3% de chance de influenciar), porém esta discussão ambiental é muito controversa no meio acadêmico. O portador de TEA pode demonstrar algum sinal ainda com apenas um ano e meio de idade e em casos mais graves, muito antes de completar um ano de idade. Na parte psicológica, a intervenção mais usada é a chamada Análise Aplicada do Comportamento, um ramo da psicologia que atua justamente no comportamento observável da criança para que ela possa ter o máximo possível de autonomia. É comum e necessário que o tratamento seja interdisciplinar.

Odiagnóstico de TEA não deve ser tratado como uma tragédia, uma fatalidade. Este ente tem desejos, vontades e pode ter uma subjetividade muito rica. É necessário ter apenas atitudes facilitadoras com este Ser para que ele possa seguir com seu potencial. Como se faz isso? Fazendo pontes e não muralhas. Não se deve olhar o autista como alguém com uma tarja “autismo” na testa e muito menos perder-se em julgamentos se ele pode ou não pode fazer algo. Permita-se a conhece-lo além do rótulo, não importa a quão severa for sua condição – mesmo alguém com mutismo e deficiência intelectual pode falar, falar pelo comportamento, pelo jeito de ser. É importante o autista ter alguém próximo em quem confiar. O antropólogo Renato Queiroz (EM BUSCA DE UM NOVO CAMINHO, 2012) esclarece que “o ser humano precisa de outro ser humano, para ser um ser humano”, A psicóloga Marian Kinget diz algo similar: são necessárias “certas condições, um certo clima interpessoal” para que o desenvolvimento humano saudável aconteça.É necessário “um outro”, sejam pais, sejam professores, sejam amigos ou terapeutas que acolha, que o compreenda, que o considere. Uma pessoa pode ser autista, não o autismo.

Referências: Autismo – Do Diagnóstico ao Tratamento (Editora Alto Astral), Canal Autismo (www.canalautismo.com.br), Torna-se Pessoa (Carl Rogers, Editora Martin Fontes), AssociationofGeneticand Environmental FactorsWithAutism in a 5-Country Cohort (jamanetwork.com/journals)
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Ismael Souza/ [email protected]  / instagram: @psiisma
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