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11/03/2022 às 22h16min - Atualizada em 11/03/2022 às 22h16min

USAR É PRECISO

Elson Araújo
 
Se há um fato difícil de contestar na vida é aquele encontrado no dito popular, segundo o qual aquilo que não é usado se perde com o tempo. Atrofia. Perde sua capacidade instrumental. A história da evolução humana é prova disso.

Avalio os nossos cinco conhecidos sentidos, visão, audição, olfato, tato e paladar, como um grande presente da criação; mas é só fazer uma rápida análise dessa poderosa máquina chamada corpo humano, que uma verdade surge bem na nossa frente. Ou seja, os sentidos mais desenvolvidos são aqueles que mais utilizamos nas nossas distintas atividades. Não deixa de ser uma obviedade, contudo pouco temos consciência disso.

Dos sentidos já perdemos muito do olfato, que segundo os estudiosos, já foi um importante instrumento de defesa. A teoria é que os primeiros homens tinham a capacidade de, por meio do cheiro, sentir muito longe a presença dos predadores. Dessa forma, era possível se livrar dos ataques surpresa e permanecer vivo. Além disso, esse sentido também era fortemente usado para avaliar os alimentos.

Com o processo da evolução e o surgimento dos elementos externos de defesa e ataque, como as ferramentas de pedra lascada, e dentes de animais, e o fogo; os primeiros humanos foram usando cada vez menos o olfato.  Acabou por perder, ao longo do processo evolutivo, muito dos superpoderes olfativos.  

Um resquício daquilo que um dia já foi esse poderoso sentido, pode ser encontrado em alguns profissionais que dele dependem.  Não para se livrar dos predadores, mas para ganhar o pão de cada dia. Destacaria aqui o avaliador de fragrâncias, ou olfativo, e os sommeliers (provadores de vinhos e outras bebidas), também chamados de escanções.  Profissionais especiais e valorizados pela indústria com salários que passam dos 15 mil reais por mês.

Para a crônica de hoje, pensada desde a semanada, bebi em algumas fontes. Encontrei, num artigo no Jornal O Estado de Minas, uma entrevista com o rinologista inglês Carl Philport. Nela o cientista fala que o olfato pode ser treinado, e que há algumas pessoas que por causas ainda desconhecidas, possuem, tal qual nossos ancestrais, esse sentido superdesenvolvido. O nome é esquisito:  Hiperosmia é como a ciência chama esse fenômeno fisiológico.

Na mesma entrevista do renomado rinologista europeu, outra importante revelação: algumas grávidas chegam a desenvolver temporariamente a hiperosmia.

Bem, há exceções à atrofia dos sentidos pelo seu não uso. Lembrei de uma matéria antiga exibida no programa Fantástico, da Rede Globo, sobre uma criança que havia perdido a sensibilidade da pele. Desenvolveu a capacidade de não sentir dor. Havia nascido com o problema.

Traumas físicos provocados por acidentes também podem gerar privações temporárias dos sentidos. Ocorre geralmente quando a estrutura cerebral é danificada.

A verdade é que a gente só costuma valorizar uma coisa quando a perde.  Isso também se aplica, como é possível verificar, aos sentidos. Pude sentir isso quando fui infectado pelo coronavirus e que, por conta dele, passei três intermináveis dias sem o olfato e o paladar. É torturante!

Em regra, não há como fugir disso, o básico dos básicos é dizer que se não usar, seja os sentidos ou as outras faculdades inerentes do ser humano, a tendência é a parada ou redução da parte não exercitada.

Veja o tanto que esse assunto rende. Basicamente só falei de um dos sentidos e o danado consumiu doze parágrafos.  Imagine se eu fosse falar sobre todos eles!  

Acredito, sem prejuízo da compreensão, que ao ficar por aqui já possível inferir, a partir do que decorreu do olfato, ser perfeitamente possível treinar e usar melhor os outros quatro sentidos.  

E você, estimado leitor, qual dos sentidos você menos usa?
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