MENU

05/03/2022 às 12h57min - Atualizada em 05/03/2022 às 12h57min

Para 83% dos paulistanos, violência contra mulheres cresceu em 2021

Os dados da pesquisa Viver em São Paulo Mulher da Rede Nossa São Paulo mostram que as mulheres sentem-se mais vulneráveis nos espaços públicos da cidade.

Flávia Albuquerque - Repórter da Agência Brasil / São Paulo
Entre mulheres esse aumento passou de 82% para 88%, diz pesquisa - © Arquivo/Agência Brasil

 
A percepção de que o número de casos de assédio sexual e violência contra as mulheres aumentou na cidade de São Paulo cresceu 9 pontos percentuais (p.p.) ao passar de 74% em 2020 para 83% em 2021. Somente entre as mulheres esse aumento foi de 6 p.p., passando de 82% para 88%. Pelo menos dois terços dos paulistanos (64% e 63%) sempre têm medo de ser roubado ou furtado nos espaços públicos e três em cada dez não têm medo de assédio sexual ou estupro (31% e 35%).

Os dados são da pesquisa da Rede Nossa São Paulo, divulgada hoje (3) e mostram que as mulheres sentem-se mais vulneráveis nos espaços públicos da cidade, já que a maioria delas tem medo de sofrer os mais variados tipos de violência, enquanto os homens se preocupam mais com roubo e furto. Segundo os dados, 72% das mulheres temem ser roubadas, 73% temem ser furtadas.

Quando se fala de agressão verbal esse percentual é 52%. Outras 46% temem ser agredidas fisicamente e 41% ficam preocupadas em sofrer aglum tipo de preconceito. Segundo a pesquisa, 35% das mulheres afirmaram já terem sofrido algum preconceito ou discriminação no trabalho por ser mulher. Em 2020 esse percentual foi 31%.

O assédio sexual é temido por 59% das entrevistadas e o estupro por 60%. O transporte público continua sendo o local considerado o de maior risco para sofrer algum tipo de assédio, com 52% das mulheres declarando temerem os trens, ônibus e metrô da cidade. Em seguida aparecem a rua (20%), bares e casas noturnas (7%), pontos de ônibus (5%), ambiente familiar (3%), transporte particular (3%), e o trabalho (2%).

De acordo com os dados, 61% das paulistanas declararam já terem sofrido algum tipo de assédio: 47%, no transporte coletivo; 36% passaram por abordagens desrespeitosas, 31% dentro do ambiente de trabalho (aumento de 9 p.p. ante 2020); 19% dentro do ambiente familiar; e 12% dentro de transporte particular.

Divisão dos afazeres domésticos

O levantamento mostrou que as mulheres são as que mais executam as tarefas domésticas, com exceção de tirar o lixo e a manutenção da casa. Os outros trabalhos como cuidado diário com os filhos é executado na maioria do tempo exclusivamente pela mulher (88%), seguido da preparação das refeições (85%), limpeza da casa (85%), cuidados médicos dos filhos (84%), acompanhar as atividades escolares dos filhos (78%), cuidados médicos com idosos ou outros adultos (75%), lavar louça (69%), levar e buscar os filhos na escola e outros compromissos (69%), fazer as compras (61%), cuidados com os animais domésticos (59%) e organização da casa (53%).

"Estamos vivendo um momento super difícil no mundo e com uma guerra e as cidades não têm como atuar e ficam subordinadas a decisões geopolíticas e de poder e ficam reativas a isso e nós estamos vendo o que está acontecendo na Ucrânia. Mas uma cidade pode atuar em outras violências, ela tem como agir fortemente e a equidade de gênero é um dos temas que uma cidade tem autonomia para agir", disse o coordenador geral do Instituto Cidade Sustentável e da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abraão.

Segundo ele, os dados vem para provocar a cidade no sentido de transformações que possam ocorrer. Ele ressaltou que em 2020 ocorreram 1.350 feminicídios no Brasil, o que é um número muito grande é grave. "O que estamos vendo nessa pesquisa mostra a desvalorização da mulher quando temos essa visão da distribuição do trabalho doméstico, é um olhar que conduz a um processo que conduz a outros".

Assédio

Abraão disse que ao ver a questão do risco do assédio olha-se um tipo de agressão às mulheres que também vai se agravando. "Podemos efetivamente atuar em diversos campos para enfrentar isso e criar programas e políticas para avançar. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem uma meta muito clara que determina que em 2030 tenhamos equidade de gênero. Essa é a sugestão. Mas existe um farol no tema para conseguirmos avançar", afirmou.

De acordo com ele, a representação política é um dos pontos importantes para avançar na equidade de gênero. Atualmente na Câmara Municipal 24% dos vereadores são mulheres e a cidade é composta por 52% da cidade. "Se quisermos ter equidade esse número precisa dobrar de alguma maneira. É o desafio do mundo da política que tem a ver com a sociedade de forma geral. As empresas também tem um desafio, porque as mulheres representam muito pouco dos cargos executivos, chegando a só 20%, além de receberem 21% a menos do que os homens nos mesmos cargos".

Abraão reforçou que as cidades podem avançar na questão propondo programas e espaços de proteção e de apoio maiores em uma cidade como São Paulo. "Podemos ter campanhas de comunicação nesses espaços onde temos mais problemas porque sabemos onde estão. Isso não custa muito para a cidade fazer e depende da vontade de enfrentar essas questões para mudarmos um pouco essa visão".

Ele destacou ainda que há o desafio de buscar uma cultura de paz na cidade e enfrentar a educação machista e conscientizar as mulheres, mas é possível avançar nessa direção.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »