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02/03/2022 às 19h48min - Atualizada em 02/03/2022 às 19h48min

Há cinco anos...

Adalberto Franklin (28/04/1962 — 02/03/2017)

Edmilson Sanches
 
Neste 2 de março de 2022, completaram-se cinco anos da morte do jornalista, historiador, escritor e editor imperatrizense Adalberto Franklin Pereira de Castro, falecido em 2 de março de 2017.

O mais imperatrizense dos piauienses (nasceu no Sítio Santo Antônio, em Uruçuí, no dia 28 de abril de 1962), o maior editor do Maranhão contemporâneo (foi pioneiro em editoração eletrônica no Estado) faleceu em Imperatriz, vítima de acidente vascular cerebral e outras complicações geradas a partir da diabetes.

Adalberto Franklin e eu dividimos, somamos e multiplicamos histórias e serviços voltados à formação, fixação e ampliação da identidade imperatrizense e sul-maranhense. Ele esteve comigo quando eu fundei e presidi a Associação de Imprensa da Região Tocantina (AIRT), o sindicato dos jornalistas e radialistas de Imperatriz e região (SINDIJORI), a Academia Imperatrizense de Letras, o Salão do Livro de Imperatriz (SALIMP) etc. 

A seu convite, colaborei na revisão e edição de muitos livros que ele escreveu (umas 12 obras, inclusive algumas em coautoria) e de outros autores que ele publicou por meio de sua Ética Editora. 

Atuamos juntos em diversos órgãos de Imprensa, escrita e eletrônica. Defendemos causas comuns, culturais, político-administrativas e sociocomunitárias. Ele publicou muitos dos meus livros de Administração, Comunicação, Desenvolvimento, História e Literatura (contos, crônicas e poesia), e queria lançar e/ou reeditar os mais ou menos setenta livros que até à época eu tinha escrito. Em seu computador jazem, diagramados, diversos livros meus, que ele teimava publicar.

Não tenho certeza se Imperatriz e o Maranhão, afora o inicial impacto da morte, aquilataram o grande peso da perda de um intelectual e trabalhador especialista do porte do Adalberto.

Se não é POUCO o tempo para se formar e dispor no dia a dia da cidade, do estado e do país um profissional com as características do Adalberto Franklin, com certeza é RARO dispor-se de um humanista como ele, e é IMPOSSÍVEL contar-se com um cidadão igual a ele, ante as especificidades que cada um de nós guardamos dentro de si e/ou exterioriza no cotidiano de nossos papeis sociais, políticos, culturais, profissionais e que tais.

Com efeito, Adalberto Franklin reunia (e com regularidade eu dizia isso para ele) qualidades que não são fáceis de se desenvolverem em um ser humano de hoje, em virtude de uma aparente “preferência” de grande parte — senão a maior parte — da população brasileira por conteúdos e atitudes frágeis, consúteis, fragmentadas.

Adalberto Franklin reunia, às qualidades de EDITOR de livros de centenas e centenas de autores, com domínio incomum dos recursos da Informática, das normas e metodologias técnicas da editoração (leis, ABNT, Biblioteca Nacional etc.), de gosto e estética pessoal-profissional apurados, a tudo isso, repita-se, Adalberto somava as virtudes do LEITOR consciente, crítico, seletivo e exigente;

...do JORNALISTA sintonizado com as coisas e causas de seu tempo, criador e editor de publicações gerais e especializadas;

...do HISTORIADOR e PESQUISADOR cuidadoso, dedicado, apaixonado;

...do ESCRITOR de linguagem não rebuscada, simples mas adequada às reivindicações intrínsecas dos temas abordados;

...do AUTOR de livros de História, Economia, Religião, Metodologia e até produções de crônica, ficção e poesia;

...do ENXADRISTA de talento, responsável pela inserção de Imperatriz como destaque nacional nesse jogo de inteligência estratégica;

...do ATIVISTA político, profissional, religioso (católico) e sociocomunitário;

...do CIDADÃO e PENSADOR que não se furtava ao exercício dos direitos de manifestação, participação e crítica aos diversos aspectos da vida nacional, estadual e local, além, claro, das reflexões e posicionamentos como ser universal, como unidade cósmica pensante.

Essas e outras qualidades, no âmbito do que é exterior, aparente, cotidiano, não são algo que se desenvolve com facilidade, não são algo que aparece com frequência.

Conhecimento, paixão, profissionalismo, dedicação não são propriamente virtudes costumeiras, assíduas, habituais no exercício de certas atividades e produção intelectuais, que exigem (muito, muuuuuuuito) esforço mental, raciocínio, inteligência, sensibilidade, empenho e um fervor quase religioso.

Em um país, em um estado e em uma cidade onde, em geral, pessoas inteligentes são olhadas de través pelos ditos e tidos detentores do poder político e econômico;

...em uma cidade onde “intelectual”, “poeta”, “escritor”, “artista” são palavras pronunciadas com um jeito de quase escárnio ou ofensa por quem é vazio de substância e sentido;

...em uma cidade onde se fecham livrarias como se fecham mentes e mentalidades, e se compram e conhecem livros com a habitualidade assemelhada àquela com que conhecem e se compram e consomem caviar e faisão;

...em uma cidade onde, pelos dados e pesquisas econômicos já realizados, o consumo de papel higiênico é maior que o de livros, jornais e revistas;

...em uma cidade onde se faz a cabeça mais (e com direito) nos salões de beleza do que em ambientes de Cultura;

...em um país, em um estado e em uma cidade onde sobrevivência é mais que evolução; 

...onde egoísmo é mais que desprendimento; 

...onde cultura é quase o mesmo que “frescura”; 

...onde VALOR é uma quantidade e não uma qualidade, onde valor é algo físico e estimável (por exemplo, dinheiro) e não algo essencial, ético, transcendental;

...enfim, em lugares assim não nascem, não surgem, não se formam, não se desenvolvem nem evoluem talentos em áreas de grandes exigências de empenho pessoal, sensibilidade social e inteligência inusual e de tão penosos reconhecimentos, tão injustas recompensas e tão baixa remuneração pelos serviços profissionais prestados.

Se a tão elogiáveis talentos e qualidades dá-se em contrapartida tão discutíveis condições de sobrevivência, quem cuidará do que é mais essencial a uma comunidade — sua identidade, sua cultura, sua história?

Algumas raras e iluminadas pessoas decidiram dedicar a isso praticamente toda a sua vida. Às vezes, até a morte.

Adalberto Franklin foi uma delas.

*
Parabéns, Amigo, por seu quinto ano na Eternidade.

E se na Eternidade, Adalberto, se comemoram datas (tantos, infinitos, serão os anos nela), não se faça de rogado: aproveite aí em cima.
E reze por nós cá embaixo... 
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