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11/09/2020 às 19h04min - Atualizada em 11/09/2020 às 19h04min

Sem grandeza e estofo moral para entrar no Supremo

Roberto Wagner

Roberto Wagner
Daquela famosa reunião ministerial em que Abraham Weintraub, aproveitando uma pausa nos impropérios de Bolsonaro e no evidente intuito de somar pontos com o chefe, disse que, entre outros, os “vagabundos” do STF deveriam ser presos pelo que estavam fazendo, incomodou-me, particularmente, um detalhe, que passou, e penso que segue passando, um tanto quanto despercebido pela opinião pública: a plácida mudez do então ministro da Justiça Sergio Moro, também presente, diante do ultrajante petardo desferido pelo, à época, ministro da Educação.
 
O meu incômodo, esclareço, deve-se ao fato de que tal aberrante e destrambelhado comentário não foi feito pelo presidente Bolsonaro, que, caso tivesse sido o autor, explicaria, embora não justificasse, a mudez do ex-juiz federal, em cujo cargo conquistou fama, admiração e notoriedade próximas da unanimidade, isso, cabe acrescentar, não somente aqui, mas igualmente mundo afora. O meu incômodo foi, e continua sendo, exatamentepelo fato de, tendo adquirido fama, admiração e notoriedade, como pouquíssimos neste país antes dele, enquanto membro do Judiciário, deveria ter prontamente pedido a palavra e solicitado que Weintraub fosse, ao menos isso, mais respeitoso para com o Supremo e aos ministros daquela Corte, templo maior do Judiciário, casa onde ele, Moro, talvez algum dia, quem sabe, fosse parar.

Pois bem, em sua edição de agosto último (nº 167), a revista PIAUÍ, na reportagem “Vou intervir!” (págs. 22/25), de autoria da respeitada jornalista Monica Gugliano, revela-nos que, no dia 22 de maio deste ano de 2020, no auge da crise com determinados integrantes do STF, durante uma tensa reunião com alguns ministros, entre os quais André Mendonça, precisamente o que substituiu Sergio Moro no comando da Justiça, o presidente Jair Bolsonaro, “entre xingamentos e palavrões”, anunciou aos presentes que, naquele mesmo dia, mandaria tropas para o Supremo, com a missão de destituir os atuais onze ministros.

Para resumir, a reportagem diz que, graças ao tom conciliador do general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, que, por sinal, devido a um problema de saúde, quase não pôde comparecer à dita reunião, o presidente Bolsonaro, depois de horas de fúria e agitação, foi finalmente contido e demovido de tão estúpida ideia. Detalhe: acovardado, mostrando vassalagem e subserviência além do que é permitido até para puxa-sacos mais desavergonhados, o ministro André Mendonça, segundo a matéria, tratou de cuidar, juntamente com outros presentes de não menor falta de decoro e compostura, “de dar legalidade a uma eventual intervenção”.

Comenta-se abertamente, em Brasília, que o ministro André Mendonça é um dos cotados para ter o nome indicado para a próxima vaga do STF, que se abrirá, ainda este ano, com a aposentadoria do ministro Celso de Mello. O mínimo que se pode dizer é que não faz o menor sentido que para ali sejam enviadas pessoas em cujos currículos acham-se episódios, dos quais tomaram parte, em que o Supremo foi duramente enxovalhado e teve a sua importância reduzida a pó, quando não a coisa ainda pior, e essas pessoas, entre defendê-lo e nada fazer, optaram por quedar inertes.

Há situações em que a omissão, sobretudo daquele que imagina que assim agindo está fazendo a coisa certa, constitui mancha indelével na biografia de uma pessoa. Recorramos ao grande Machado de Assis; no extraordinário romance A mão e a luva, lá pelo capítulo VIII, tem-se essa preciosidade acerca da pusilanimidade: “Os corações frouxos têm destas energias súbitas, e é próprio da pusilanimidade iludir-se a si mesma”.

Até a próxima e um bom final de semana a todos.
 Roberto Wagner   é advogado
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