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03/06/2021 às 00h00min - Atualizada em 03/06/2021 às 00h00min

IMGUINORAPULIS

Capítulo X

JAURO GURGEL

JAURO GURGEL

JAURO José Studart GURGEL, durante muitos anos Editor Regional de O PROGRESSO, em Araguaína (TO),

*Republicado a pedidos
**Publicado originalmente em 28 de outubro de 2012

Zé foi embora, mas eu fiquei!

Aceitei o honroso convite que me foi formulado e pedi permissão ao senhor prefeito para tomar algumas medidas que eu considerava de "urgência urgentíssima", como a retirada da placa colocada na porta do órgão que eu acabava de assumir e que assim estava escrito: CECRETARIA DE INDUCASSÃO. Falei que secretaria se escrevia com s e, quando ia comentar sobre os outros erros ortográficos, o senhor prefeito me interrompeu, chamando o funcionário responsável pelo setor de "Serviços Gerais" e ordenou: - OU SEU MININO, TROCA JÁ JÁ ESTA PLACA, QUI O NOME TÁ TOTALMENTE ERRADO. Mostrando toda a sua falta de intimidade com a ortografia, concluiu: - INDUCASSÃO É CUM UM ESSE SÓ!

Fiquei quase sem ação diante daquele novo e surpreendente comportamento do prefeito de IMGUINORAPULIS, mas como já tinha dado a minha palavra, assumindo o compromisso de colaborar com a administração municipal, fiquei calado. Aliás, diante de tantas e tantas barbaridades que tinha ouvido, no ainda tão pouco tempo de convivência com a população IMGUINORAPULIENSE, uma barbaridade a mais não influi nem contribui para nada. Dei algumas orientações para as três funcionárias da Secretaria da Educação, me despedi do prefeito e voltei para a pensão, encontrando o ZÉ já bem melhor da infecção intestinal, mas ainda sendo assistido pelo delicado e cuidadoso VIADINO.

"Você está doido!", berrou o ZÉ quando lhe contei do convite e que tinha aceito o cargo de Secretário de Educação. E, apesar de ainda não estar totalmente recuperado da cólica intestinal, pulou da cama, vestiu apressadamente as calças e a camisa, calçou os sapatos e determinou: "Vamos já pagar a conta e ir embora! Nesta terra de louco eu não fico mais nem um minuto!". Já segurando a bagagem, dirigiu-se para a porta da rua, sempre acompanhado pelo VIADINO, cada vez mais cheio de delicadezas para com o ZÉ.

Tentei ponderar, argumentando que tinha assumido um compromisso com o prefeito e que não ficava bem eu voltar atrás na minha decisão, mas em nada adiantaram os meus argumentos e as minhas justificativas. O ZÉ pagou as despesas com a hospedagem e, já dentro do Fusquinha amarelo, me chamava insistentemente através da buzina do carro. Dava perfeitamente para perceber que o meu amigo estava bastante irado e nervoso, só não dando para perceber se a causa era a minha decisão em ficar em IMGUINORAPULIS, ou os gritinhos histéricos do VIADINO, que chorava copiosamente, querende até lhe acompanhar na viagem de volta.

"Eu vou ficar!", falei decidido para o ZÉ, que queimando os pneus do Fusquinha amarelo, seguiu o caminho de volta. Jamais poderia eu imaginar que uma simples curiosidade, causada por um nome nunca dantes escutado, fosse capaz de provocar uma verdadeira metamorfose em minha vida. Foi naquela hora que eu vi, pela última vez, o meu amigo ZÉ.

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