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27/05/2021 às 00h00min - Atualizada em 27/05/2021 às 00h00min

IMGUINORAPULIS

Capítulo VIII

JAURO GURGEL

JAURO GURGEL

JAURO José Studart GURGEL, durante muitos anos Editor Regional de O PROGRESSO, em Araguaína (TO),

*Republicado a pedidos
**Publicado originalmente em 14 de outubro de 2012

Por pouco... muito pouco...

Chamei o VIADINO e lhe pedi que fizesse companhia ao enfermo, enquanto eu iria em busca de um profissional da saúde para socorrer o doente. Prestativo como ele só, VIADINO me informou da existência de uma farmácia, cujo proprietário era um tal DOTO MATOUZINHO e que estava localizada do outro lado da praça. Bastante apressado, saí à procura do local indicado, não sendo muito difícil encontrar, já que em letras pretas e bem grandes estava escrito na fachada: FARMARSSA MATOUZINHO PLICA SINGESSÕES NU MUSCO, NA VEIA E NA BUXEXA. Apesar da aflição com o estado de saúde do meu amigo ZÉ, não consegui conter o riso e comentei com os meus botões: "A tal de buxexa deve ser o nosso conhecido bumbum".

Fui eu atendido pelo próprio dono do estabelecimento, que com os olhos ainda remelentos, começava a abrir as suas portas. Expliquei o motivo da minha visita tão cedo, sendo eu submetido a um vasto e cansativo interrogatório. De onde éramos? O que estávamos fazendo em IMGUINORAPULIS? Quais os nossos planos da cidade? E outras perguntas sem importância alguma. Ao mesmo tempo em que me perguntava isso e aquilo, o inquiridor me falava de si mesmo e por várias vezes repetiu que era uma das autoridades municipais, na condição de vereador IMGUINORAPULIENSE. "Tenho uma ampla folha de serviços prestados ao nosso povo!", repetiu um bocado de vezes, no seu português cheio de erros.

Após alguns momentos de prosa, me contando a história de IMGUINORAPULIS desde a época em que ainda era um simples vilarejo do município de PERDIDINHA, o edil farmacêutico vagarosamente se dirigiu até uma prateleira e pegou um certo remédio. Enquanto embrulhava o frasco, me aconselhou a dar uma colher das de sopa, de duas em duas horas, para o doente. E, para a minha surpresa, quando lhe perguntei o valor da consulta e do respectivo medicamento, ouvi a seguinte resposta: NUM É NADA NÃO, OÇO. QUEM SABE SI O SIO NUM ARRESORVE FICA PRU AQUI, PRA MI AJUD NA INLEIÇÃO. Esqueci um pouco a preocupação com as dores do ZÉ e decidi reiniciar mais uma sessão de prosa com o vereador farmacêutico, que escancaradamente desobedecia a lei eleitoral vigente que proíbe a negociação do voto. "Isto, sim, é que é um verdadeiro abuso do poder econômico", comentava com os meus botões, enquanto escutava o vereador DOTO MATOUZINHO falar das suas obras como homem público.

Consciente que aquela farmácia era, na verdade, uma fábrica de votos, um veículo para levar o seu proprietário ao Poder Legislativo Municipal, despedi-me do ilustre edil prometendo voltar ainda ao estabelecimento para uma nova sessão de conversa e me dirigi à pensão, onde encontrei o amigo ZÉ ainda se contorcendo em dores, tendo ao seu lado o VIADINO, que lhe massageava o chamado "pé da barriga". Pedi ao VIADINO que me trouxesse uma colher das de sopa, que foi conseguida após uma incessante procura, já que lá se utilizava apensas a conhecida colher de pau. No momento em que ia colocando o remédio na boca do ZÉ, ele deu um grito assustador: "Para! Isto é Miticoçam!".

Realmente, era verdade. O cheiro não deixava qualquer dúvida. Por certo, o ilustre "esculápio" diagnosticou que o meu amigo ZÉ estava acometido de uma gravíssima "sarna intestinal".

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