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06/05/2021 às 00h00min - Atualizada em 06/05/2021 às 00h00min

IMGUINORAPULIS

Capítulo II

JAURO GURGEL

JAURO GURGEL

JAURO José Studart GURGEL, durante muitos anos Editor Regional de O PROGRESSO, em Araguaína (TO),

*Republicado a pedidos
**Publicado originalmente em 2 de setembro de 2012


Os primeiros momentos

IMGUINORAPULIS, que mais parecia uma cidade-fantasma, era o protótipo do abandono. Pouquíssimas ruas, umas três ou quatro totalmente esburacadas, tomadas pelo mato e pelo lixo e sem obedecer a nenhum critério urbanístico. O que parecia ser uma casa comercial se encontrava totalmente deserta, enquanto as casas residenciais, todas elas num estado de miserável desconforto, apresentavam sentados nas suas calçadas alguns respeitáveis cavalheiros a conversar amistosamente. É bem provável que o assunto da conversa ainda fosse a revolução de 1964 e, consequentemente, a queda do presidente João Goulart. Ou, quem sabe, ainda o suicídio de Getúlio Vargas. Vale ressaltar que isso aconteceu já na era do FHC, que cedeu o Palácio da Alvorada para um novo inquilino: o insistente, persistente e não desistente Lula.

As crianças, um verdadeiro depósito de “Ascaris lumbricoides”, se divertiam a correr atrás de uma bola de meia, talvez na esperança de um dia virem a vestir a gloriosa camisa verde amarela da nossa seleção, que ainda não era tetra, tampouco pentacampeã mundial. Era realmente um espetáculo constrangedor. Somente o prédio da INSCOLA MUNISSIPAU E. REI e a pequena igrejinha, perdida no centro de um quadrilátero, onde alguns esqueléticos caprinos se alimentavam com qualidade, amenizavam um pouco aquele triste cenário.

Ao darmos uma volta em torno daquele quadrado, que deveria ser uma praça, para nos familiarizar com o local que tinha o apelido de cidade, o nosso carro foi seguido pela criançada, que resolveu abandonar as suas atividades futebolísticas para correr atrás do fusquinha amarelo. E à proporção que o “hepatite” percorria aquele itinerário, o povo IMGUINORAPULIENSE, já postado nas calçadas, demonstrava a sua hospitalidade, nos aplaudindo entusiasticamente. “Será que eles estão nos confundindo com algum artista global?”, comentou comigo o ZÉ, de uma forma bastante irônica.

Paramos o fusquinha amarelo na frente de uma casa, em cuja parede sem reboco se lia a palavra PENSÇÃO, onde fomos atendidos por um jovem, com um jeitinho meio duvidoso, assim como quem não tem compromisso com o seu próprio sexo, que se apresentou dizendo chamar-se VIADINO. Ao rebolativo recepcionista, solicitei um quarto para passarmos a noite, enquanto o ZÉ, suando por todos os poros, pediu ao delicado atendente uma cerveja estupidamente gelada. Mas a nossa decepção foi bem maior que a vontade de beber ao ouvirmos de VIADINO a informação de que lá não existia cerveja, assim como nenhuma outra bebida social. Nada nos restou senão matar a sede com uma água quente e barrenta, e molhar o bico com alguns goles de uma tal cachaça SETE QUEDAS, marca registrada da indústria local.
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