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06/02/2021 às 00h00min - Atualizada em 06/02/2021 às 00h00min

A NATUREZA RESPONDE

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.


Este texto foi produzido para o quadro PÁGINA DE SAUDADE – Rádio Mirante/AM, domingo, 8 da manhã, sempre seguido de uma canção, que se adapta ao tema). Há mais de 13 anos no ar. Cativo e pontual).

Hoje é domingo. Domingo de céu azul, contrastando com a sequência de outros dias idos em que a chuva tem caído torrencial e persistente na cidade. É bem aí que o Riacho Capivara se enche; o Cacau se dana e o Bacuri corre solto lá em cima com suas águas barrentas que vão correndo ladeados pelas casas que jogam seus esgotos e dejetos pra dentro deles. E o que durante o verão é uma poluição e um mau cheiro só, com os riachos acanhados e inofensivos – agora é uma enchente! Uma correnteza! Um alagamento! É a natureza viva, cumprindo o seu papel.

E então as águas deixam seus leitos, transbordam, rebentam o asfalto esburacado, inundam as ruas e comprometem as casas. A cidade fica intransitável em múltiplos trechos. Carros boiam até; pequenos comércios são invadidos, donas de casas carregam suas tralhas na cabeça, mudam-se. Inquilinos com suas moradias tomadas de água pelo teto e pelo piso, espalham-se à procura de outras. O problema social se multiplica. O clamor é generalizado. E a chuva caindo forte. É notória a blasfêmia que contra os nossos riachos se fazem. Eles tão filhos e tanto quanto MÃE NATUREZA, a serviço da vida.

 Espalhados pela cidade, bairros inteiros que se levantaram sobre pântanos; estes que foram aterrados, soterrados; E nestes tempos insistem em se levantar, em regurgitar. É notório o seu grito silencioso e lá mesmo o silêncio gritante embaixo da terra. E bairros que foram levantados sobre o sepulcro da NATUREZA VIVA, por conta da ganância e da insensatez dessa gente. Vê-se então que a natureza foi enterrada viva, proposital. Soterrada, ela grita quando a terra fria e encharcada toca o seu manto  violado, vulnerado, aterrado, lá embaixo.

E aí o que se vê, é que muitas construções e barracos feitos pela mão humana não suportam. E a natureza mutilada e ainda que devastada, destruída e abusada - qual uma alma penada ela grita o seu grito de dor. Vem pra cima, aflora e até mesmo afasta e apavora as pessoas. Mas isso é só de uma hora para a outra ou de um dia para o outro. Porque almas penadas não têm faca nem facão. Porque no dia seguinte, basta as águas baixarem ou as chuvas passarem como enfim passado o incômodo, as pessoas voltam ao mesmo chão e ao mesmo teto, construindo-se um ciclo viciado e vicioso desse vai e vem. E a mãe natureza essa alma penada; enterrada viva, grita em silêncio. Sim: A NATUREZA RESPONDE

Por aqui só para apontar alguns deles, os Parques Alvorada I e II, o Bairro Santa Lúcia, Jardim São Luís, Vila Fiquene, Jardim Tropical, Nova Vitória, Vila Parati,  Parque do Buriti, o Leandra, este que foi território de olarias manuais/artesanais, o São José do Egito além de outros, nasceram sobre áreas alagadiças, soterrando nascentes que se fazem recolhidas, abafadas, entupidas e afogadas mas que no inverno A NATUREZA RESPONDE.

Os Bairros do Bacuri e Parque do Buriti que o digam. Aqueles, em parte, foram um pântano. Neles, levantaram-se prédios, Faculdade, complexo prisional, construções, conjuntos habitacionais, quartéis, órgão públicos, empreendimentos industriais e comerciais. Fizeram pontes de concreto, ruas de asfalto e o raio que o parta. E a natureza lá embaixo e lá em cima, inconformada e infeliz – regurgitando, rangendo, gritando..., RESPONDENDO  

Basta cavar dois palmos, três palmos, quatro palmos e a água aflora, escorre. Escorre na cara da cidade. A natureza grita, mas ninguém se toca, e até parece que todos estão surdos. No Parque CINCO ESTRELAS, a JUSTIÇA DO TRABALHO construiu sobre uma área alagadiça um prédio imponente, cheio de modernidades que restou A-BAN-DO-NA-DO. Repita-se: restou a-ban-do-na-do. Hoje o órgão, quer dizer, o cidadão/contribuinte, paga uma fortuna em ALUGUEL, por dois andares de um prédio que ocupa no centro da cidade. E ninguém diz nada, absolutamente nada.   
          
Daqui a pouco, no verão, tapam-se as feridas com a sequidão. E no próximo inverno,  recomeça a ciranda e o ranger de dentes da mãe Natureza – Sim, porque nesta PÁGINA DE SAUDADE, A NATUREZA RESPONDE!!!
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