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23/01/2021 às 00h00min - Atualizada em 23/01/2021 às 00h00min

VINTE DE JANEIRO (DIA DE SÃO SEBASTIÃO)

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.


Vinte de Janeiro. Dia de São Sebastião. O calendário vem pra me dizer. A mídia televisiva insiste em me lembrar:  Vinte de Janeiro, dia de São Sebastião. Sabe você o que é procurar em meio a uns quinhentos / seiscentos títulos e não encontrar aquele pretendido? É fogo com PH. Escrevi, faz tempo um texto – em dois tempos, um para o rádio com um página; o mesmo, repaginado, para o jornal, com duas páginas. Procuro a ambos que não encontro a nenhum. Refazer um texto em segunda edição é muitíssimo mais difícil do que fazê-lo numa primeira e originária edição. Agora estou a lidar com a perda: Eis a questão!”

O texto que fiz, faz algum tempo, UMA CRUZ À BEIRA DO CAMINHO  ou UMA CRUZ A SÃO SEBASTIÃO conta(va) a saga do velho meu pai ao fazer uma promessa para São Sebastião, pela conclusão do meu curso primário. Meu pai cumpriu rigorosamente a promessa, como bem assim era do seu feitio e como ademais era da gente da minha gente. Passei tantas vezes no local e sempre tive respeito pela homenagem e cumprimento da promessa feita pelo velho meu pai. O tempo – e como sempre o tempo – incumbido de consumir a “matéria prima” feita de corpos humanos, que ali se lhe depositou e confiou, também  incumbiu-se de consumir aquele cruzeiro, feito em madeira de lei. Afinal lá se vão sessenta e quatro anos! Eis que estou aos setenta e cinco.

Tantas vezes passei naquele local e lembrei-me da promessa e do cumprimento da promessa do senhor meu pai ainda que com o vazio que a cruz de madeira deixara, consumida pelo tempo. Faz algum tempo e, a destempo, porque já tive tanto tempo e resolvi reedificar a promessa do senhor meu pai e reconstruir o cruzeiro, em frente  ao cemitério – CEMITÉRIO DE SÃO SEBASTIÃO, tudo ali à beira da estradinha de chão que lembrava a conclusão do meu curso primário. Era ali quando eu voltava (e ainda volto) no imaginário em calças curtas, em uniforme azul-e-branco.

De lembranças essas, faz uns dois anos, resolvi reedificar o cruzeiro (uma cruz de madeira) à frente  do cemitério, à beira da estrada, na minha terra natal. E mandei fazer um cruzeiro em madeira de lei que eu mesmo, pessoalmente envernizei. E levei-o para lá. Ocorreu que quando tentei escavar a terra para enfincar a madeira, foi impossível tal o alto-verão da época, além do que muitos detritos de cerâmica existentes no local escolhido, daí a impossibilidade da escavação. Foi uma frustração, confesso!  Volta hoje, volta amanhã. De lá para cá já voltei por lá uma duas ou três vezes mas o tempo e como sempre, o tempo, não tem colaborado para tal pretensão. 

Agora, eu pergunto: Ou fui eu quem não deu atenção ao tempo? Velho sábio e mestre SAUÁIA das minhas saudades tantas, ele que   “de cor e salteado”,    tinha todos os Códigos e leis e livros na cabeça, ao seu tempo já ensinava: “O tempo pediu ao tempo/ Que o tempo lhe desse tempo/ Ao que o tempo lhe respondeu: / Tudo com tempo, tem tempo. Agora eu, no meu comodismo reflito: “... tudo com tempo tem tempo”... ...

A este tempo – 20 de janeiro – na minha  terra, no lugar SÃO JOÃO DOS AROUCHE DOS AROUCHEs é uma festa só! Já tivemos o LEVANTAMENTO DE MASTRO com a imagem do santo numa bandeirola lá em cima e o mastro enfeitado em palmas vegetais, fitas em cores, repleto de guloseimas: garrafas de refrigerante, pencas de banana, frutas, bolo e outros similares.  

Também já tivemos “nove noites de novena”, estas regradas a café com bolo e chocolate (em pó de Nescau), anunciado por um  pequeno foguetório que funciona como a MÍDIA que anuncia (lembra) o festejo, tudo conforme as posses do noitário. O clímax da festa é o DERRUBAMENTO DO MASTRO, seguido da SANTA MISSA. Após o culto religioso, o regaae  rola solto e pesado no barracão improvisado até às duas da manhã. Diferentemente de outrora quando o fuzuê atravessava a noite e estendia-se até às eis da manhã. Hoje não, hoje é como diz o povo: “Tá tudo diferente”... E até eu tenho que entender que é uma FESTA PAGÃ...

O derrubamento do mastro um ponto alto do festejo. Derrubado o mastro, com o povo à volta, os voluntários vão retirando a quota-parte estabelecida das guloseimas que se lhes interessam. E então eles têm a incumbência de fazer a doação de uma “joia”,  em tempo, para o “festejo do ano que vem”. O pagamento dessa “joia” é uma obrigação social e moral.

O segundo ponto alto do festejo é... é... O JANTAR DOS NOITÁRIOS!!! Na oportunidade é servida uma LAUTA MESA com os pratos feitos e bem feitos! Cada prato, uma serra, uma montanha segundo os costumes! Os noitários (ou novenários) (aqueles que patrocinaram suas novenas), ou jantam com os demais à mesa ou simplesmente à posse de um lenço, fazem do seu jantar uma trocha e levam-na para casa. Uma coisa, porém faz certo, naquele meu chão quando a uma mesa há um prato-feito-e-bem-feito, logo vem a exclamação: “UM PRAAAATO DE NOVENÁRIO”!!!

Neste vinte de janeiro, novamente é DIA DE SÃO SEBASTIÃO. O cruzeiro em madeira de lei, em homenagem à minha “Colação de Grau”, do Curso Primário  ainda não se faz definitivamente estancada no lugar pretendido, frontal ao Cemitério, tal como da edição e cumprimento da promessa do meu velho pai, embora estando à deriva naquele cemitério por conta dos impasses ora apontados.

Uma coisa porém, faz certo: Na minha terra quando uma pessoa fazia (e ainda faz) uma “promessa”, a um santo, ele tem duas alternativas: ou ele cumpre; ou ele cumpre. Sempre foi assim. A promessa foi feita pelo meu pai, de olho na conclusão do meu CURSO PRIMÁRIO. E então o Bendito:  ”Glória a Deus meu pai/ Meu Santo Varão / Glória a Deus meu pai /Meu São Sebastião.
                                 * Viegas questiona o social
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