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07/11/2020 às 00h00min - Atualizada em 07/11/2020 às 00h00min

Bond..., James Bond!

AURELIANO NETO

AURELIANO NETO

Doutor Manoel AURELIANO Ferreira NETO é magistrado aposentado do Tribunal de Justiça do Maranhão, e membro da AML e AIL - [email protected]


Anos 60; cinemas de rua: Éden, Cine Teatro Arthur Azevedo, Rialto, Rival, Rox, Cine Monte Castelo, Rex e, lá no Anil, que era distante para uma cidade por onde o deslocamento era feito com linhas escassas de poucos ônibus e bondes - o meio de transporte mais popular. Eu e a minha patota (ainda havia patota!?) freqüentávamos, dependendo o escasso dinheirinho, o Éden (que ainda era um luxo), o Rialto (com mais assiduidade), na rua do Passeio e o Rival, na esquina com a rua Grande. Os filmes: seriados e um faroeste, com Alan Ladd, John Wayne, Burt Lancaster, Errol Flynn, o eterno Robin Hood, ou alguma grande fita (?) que passava na semana antecedente no Éden e, na seguinte, no Rialto, ou no Rex, no João Paulo, bem quase ao lado, um pouco depois, do Quartel do 24º Batalhão do Exército. O bonde tinha uma parada num abrigo logo adiante. Era o Rex uma aconchegante sala de cinema, com uma larga entrada e um som dos melhores que havia na época. Valia a pena percorrer aquela distância para, numa soirée, num tranqüilo e ensolarado dia de sábado, assistir a um bom filme, que não se conseguira ver no Éden ou no Rialto.

My name is Bond, James Bond. Expressão frasística que se tornou a marca de 007, personagem-herói dos filmes do agente secreto inglês que ficou famoso no mundo do cinema e nos sonhos de uma juventude que vivia de um herói charmoso e imbatível. Bond, James Bond, assim se apresentava o infalível ídolo da espionagem, que encantava jovens, adultos e velhos, e desafiava e vencia todas as mentes e males satânicos que punham em perigo os valores mais caros do universo ocidental. 007 ou James Bond enfrentava todos esses perigos, apenas fazendo uso de uma pistola semi-automática, sem recorrer qualquer outro instrumento de defesa ou ataque, a não ser o charme e a sagacidade pessoais. Conseguia superar todas as armadilhas, provocadas pelos diabólicos chantagistas atômicos, trazendo para a tela os conflitos que marcavam a guerra fria, que hoje está mais quente do que nunca.

Sean Connery, ator falecido por esses dias, aos 90 anos de idade, foi o primeiro James Bond. E eu direi: o primeiro e o único. Foi o que melhor interpretou o agente 007. Inesquecível. Os cinemas lotavam. Da primeira à última cadeira. Não se tinha tempo sequer de ficar na sala de espera. Comprava-se o ingresso. Entrava-se e, logo, ia-se em busca da comodidade de um bom lugar. Aguardava-se inquieto o início do filme, que, desde as cenas de apresentação, despertava o espectador para a grandiosidade das aventuras que viriam. A vinheta musical, as cenas de Bond fazendo manobras com a pistola; depois, as mulheres, algumas lindas e sensuais, outras tão feias quanto satânicas, ou frias e cruéis. Atores como Robert Shaw, que, nos anos 70, fez um dos papéis no filme O Tubarão, e Ursula Andress, que foi lançada para fama no primeiro filme da série, Moscou Contra o Satânico Dr. No, onde a atriz suíça aparece com um estreitíssimo e, para sua beleza, confortável biquíni branco, expondo as suas sutilezas estéticas que a eternizaram.

Connery, apesar de todo o sucesso dos filmes de 007, bem como de outras realizações cinematográficas, só veio a ser agraciado com o Oscar de melhor coadjuvante, em 1988, pelo papel que fez no filme Os Intocáveis. Recebeu outros prêmios, como três Globos de Ouro. E, embora tenha sido reconhecido como um grande astro do cinema, desde quando estreou na série representando James Bond, transformou-se, no curso da sua vida artística, num grande ator, privando do respeito de diretores, de companheiros de profissão e dos seus fãs.

Não lhe tira o brilho o fato de que a série 007 representa o eterno conflito entre o bem e o mal. No plano político, a luta entre o capitalismo, tendo como símbolo do bem, na defesa do sistema, James Bond, e o comunismo, representado pelos interesses soviéticos. O filme Moscou contra 007, além de um belíssimo fundo musical, configura essas contradições entre as duas superpotências, que viviam, naqueles anos, o antagonismo da guerra fria. Bond, James Bond é o mocinho, muito bem caracterizado por Sean Connery, que, fazendo uso de todas as estratégias e da sua infalível pistola, vai eliminando os terroristas do mal; neste filme, representados pela organização Spectre. A bond girl é a lindíssima atriz Daniela Bianchi, que, como ocorre nos filmes de Hitchcock, todas louras, sem nenhuma concessão para outras epidermes.

Sean Connery se despede da vida terrena. Deixa a marca indelével de um grande ator, não só no papel de James Bond, mas como protagonista em Marnie, Confissões de uma Ladra, de Hitchcock, e O Nome da Rosa, baseado no romance de Umberto Eco. A mim a eterna lembrança dos primeiros momentos de sua ascensão, quando as salas de cinema lotavam para vê-lo na indumentária de James Bond, o agente que contagiou toda uma geração que o tinha por indestrutível, galante, conquistador de belas mulheres, e o herói que, no final, destruiria, com a sua astúcia e sagacidade, o inimigo dos nossos valores ocidentais. Um astro que se tornou um grande ator.
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