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29/04/2023 às 00h00min - Atualizada em 29/04/2023 às 00h00min

ESCÂNDALO NO SHOPPING

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

 
Era  uma segunda feira. Fazia um dia bonito. Eu, porém, estava retrancado naquele SHOPING com tanta gente esticada. É que me mandaram para lá, para aguentar fila e esperar por tanto tempo e enfrentar “burocracia” para, simplesmente, ENTREGAR UMA CARTA. Pê da vida como eu estava, lembrei-me do mestre Sauáia que no seu Livro CENAS QUE FICAM, ele afirma que “as Seguradoras fazem tudo para não pagar” (tradução livre) e eu, nas minhas frustrações,  ali refletindo que “os órgão públicos, fazem tudo para por de joelho o contribuinte, o consumidor – dificultando-lhe a vida.

Estou nessa, tanta gente naquele “soxtificado” ambiente, irrompe-se um pequeno escândalo: Era uma menina de seus 11/12 anos que, tendo sua vontade contrariada, estava ali “aprontado” das suas. Foi como interpretei. Acompanhada do pai, este fazia tudo, em silêncio, discretamente, para controlar a filha rebelde, para contornar o alarde.

Em seguida chamada a sua senha (do PAI), este aproxima-se de uma mesa, com  mais espaço. Aí foi que o vexame! O escândalo da menina, multiplicou-se! Ela, sentava ao chão, deitava-se de cara pra cima, gritava, esperneava, arreganhava-se, gritava e esperneava. Pareia que estava possuída do demônio! Tinha-se a impressão de que fora contrariada em algum desejo seu, talvez o celular do pai. Por um minuto estancava  o chororô, o escândalo, mas depois caia ao chão, de cara pra cima, arreganhava-se, jogava os pés, gritava, esperneava. Parecia que estava acostumada a esses chiliques em sua casa. E o pai, humilhado, falava baixinho tentava contornar e... nada. Cada vez pior.

Foi aí que apareceu uma jovem senhora, toda nos trinques, nos panos – teve-se até a impressão de que seria gerente daquilo tudo, ou, quem sabe, uma Assistente Social, ou talvez até mesmo uma Psicóloga. Chegou lá, com a menina deitada ao chão, de cara e perna pra cima, debatendo-se como se estivesse possuída do capeta e... por alguns minutos, tentou acalmá-la. Sem sucesso, deu no pé e desapareceu.

Logo surge um batalhão de gente para tentar  controlar a menina descontrolada: 1-O pai, plenamente vencido mas ainda assim falando baixo e insistindo; 2-Uma jovem menina que lembrava uma ZUMBI-zinha com uma bonequinha de pano nas mãos, como se quisesse engambelar a menina e contornar a rebeldia; 3-Uma outra que parecia a serviço do Shopping, simulando fotografia que era quando a menina jogava-se mais e mais ao chão, sacudia as pernas, arreganhava-se toda e parecia possuída do capeta. 4- Uma outra senhora calma, tranqüila, de posse de  uma “bexiga” (ou um balão), todo colorido, cheio de estrelas. A endiabrada ainda fez silêncio por um instante, mas, logo se desinteressou pela bexiga e reiniciou a sessão de escândalos.

Enquanto isso o povão e companhia assistia calado, caladinho sem dizer absolutamente nada, fingindo que aquilo tudo era normal ou que... nada estaria acontecendo. Deixa porém que ali pelo meio havia um cara com a minha cara, que pensava com os seus botões: “Ah se fosse naquele velho tempo, em que um galho de goiaba desfolhado resolveria essa situação! Ah se fosse! É, porque naquele velho tempo nada que um galho de goiaba ou de murta ou um cipó de mochila não resolvesse! E a menina encapetada, virada o cão, lá - na birra, no grito, no esperneio, no vexame, no escândalo, na mal criação e toda encapetada, fazendo das suas. Ah se fosse naquele velho tempo do galho de goiaba! E aí vinha a determinação, o ralho: *“Engole o choro, engole o choro”.* Era logo que o silêncio tomaria conta do recinto e voltaria à paz e o cão voltaria ao inferno de onde nunca deveria ter saído.

Tempo depois chamada a minha senha, deixei aquele diabólico recinto e, lá adiante, noutro guichê, era eu quem protagonizava um ”escândalo”. Queria entregar uma carta e não tinha a quem entregar. Um espírito de advogado incorporou-se em mim:  *“Ponho essa carta no Correio e alguém terá que receber. Ou ponho da Justiça e peço multa diária de um salário por descumprimento”.* E nisso passei a manhã inteira.

Sem me dar por vencido,  cedo da tarde fui a outro setor da mesma repartição, para a mesma finalidade: SIMPLESMENTE, ENTREGAR UMA CARTA. Uma jovem e corpulenta senhora, à frente me atendeu. Pensei que seria fácil, mas descobri que falávamos duas línguas; eu o grego e ela o aramaico. E, por mais que eu repetisse o meu objetivo ela não me entendia. Por fim, resolveu me entregar uma senha, para fins de atendimento.

E na primeira pessoa que ali fui atendido, logo se resolveria o impasse. Isto é: A MINHA CARTA FINALMENTE FOI RECEBIDA, mediante “comprovante” de atendimento.

Hei mundo cão! Ninguém entende ninguém! E agora eu vejo que a encapetada mocinha é que tinha RAZÃO. Tanto que, quando eu saía daquele BEM (OU MAL-dito) Shopping, a mocinha,  seguia calada, caladinha ao lado do seu pai. Sinal de que ela fora atendida no quanto levou-a ao escândalo e aos seus arreganhamentos, propositalmente deitada ao chão, de cara pra cima. Tadinha! Tão novinha, 11/12 anos, aquela menina! Eu eu que estive ali, pensando em solução à base de galho de goiabeira...

*Viegas interpreta e questiona o social.*
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