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15/04/2023 às 00h00min - Atualizada em 15/04/2023 às 00h00min

A ROTINA “DOS QUARTEL”

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

 
A rotina da CASERNA é osso duro de roer. Ninguém que se engane que lá, é: ”Sim sinhô, não sinhô, quero morrer”. E aí de quem mijar fora do caco. Vai  preso, vai punido. E se “cantar no boletim”, aí é que o bicho pega! Vai pra ficha do milico e será uma mancha pelo resto da vida, implicando em suas pretensas promoções, etc.,  etc.,

Dito isso eis que naquela CASERNA chega um novo Comandante. Comandante como se sabe ele tem um pavilhão (um prédio) exclusivo à sua disposição. Enfim, o PAVILHÃO DO COMANDO. E haja autoridade! Ou como dizia o Mangabeira, um enrustido do serviço público que se negava a  sair do armário: “autoridade pra puxar de balde”. Não saio, não saio, não saio. Era como se comportava o Mangabeira.

Voltemos ao Comandante. Ocorre que, pouco ao lado do Pavilhão do Comando, havia três coqueiros estes que logo se tornaram o “quindim de Iaiá”, o prato de arroz doce, o objeto de desejo daquele austero e estranho Comandante. E então, diariamente (todos os dias), o Senhor Comandante ia lá, solene e garbosamente e... conferia um a um os cocos que se punham serenos e insinuantes, de um verde-lustroso, admiráveis e bonitos lá em cima. E os conferia: um, dois, três, quatro cinco... oito, dez, doze. Uma dúzia certinho em cocos d’água lá em cima!

Sem mais nem menos essa era a rotina do Super-Comandante do Quartel, senhor acima do bem e do mal naquela corporação. E ai de quem... E aquele super-homem feliz da vida com aqueles cocos que contava diariamente, inevitavelmente. Indefectivelmente... E vida que segue!

Eis, porém,  que chega à CASERNA -  ih cara eu já dizendo “chega na caserna”, uma nova figura, um “SALRGENTO DOS QUARTEL”, como no dizer de Dona Rosa, a mãe daquela mocinha portátil e lindéééérrrima  que, enrustida, estava dando para os seus amigos do peito, quem sabe até, ganhando uma grana. E que Dona Rosa vivia enfurecida! E quando tomava umas duas cajibrinas, metia a língua na filha dos outros  e “sisquecia” da sua.  Dona Rosa com suas pingas no juízo só não tinha língua para o SALRGENTO DOS QUARTEL, seu grande e admirado ídolo, porque no resto tudo ela dava de “rolepada” e nem aí para seu ninga, como diriam naquele tempo da Onça do Itinga.

Mas eis que chega ao Quartel um NOVO SALGENTO, Um cara escroto, que  apenas escroteava com todo o mundo e seu Raimundo. Nisso era igualmente odiado por todo o mundo, até porque, como no ditério por aí: “chumbo trocado não dói”. Ocorreu, porém que o NOVATO SALRGENTO DO QUARTEL, sem imaginar que aqueles viçosos cocos daqueles coqueiros ao lado do Pavilhão do Comando, eram a jóia da coroa do seu Comandante. E foi lá e... enfiou o sabre num coco e deglutiu gostosamente, saborosamente e silenciosamente a sua água. Sem jamais imaginar que ali estaria cutucando o capeta com vara curta.

No dia seguinte, a exemplo de todos os dias, como era de sua rotina o Super-Comandante vai  lá e confere os  cocos: um dois, três, cinco, dez, 11! Opa! Tá faltando um!  Alguém roubou um coco! Logo raciocinou o Comandante: Se alguém rouba um coco, pode também roubar o paiol de armas e explosivos. E esse é “Calcanhar de Aquiles”, o  ponto nevrálgico para qualquer Quartel ou Comando que se preze.

Já vociferando o endeusado Comandante  chama o capitão. E o capitão chama o SALGENTO DA GUARDA. Responsável  que deveria estar atento por toda e qualquer alteração nas tais famosas “quatro linhas”, do Quartel  em seu dia de serviço. E quem era o comandante do dia? Justo aquele SALRGENTO escrotão que escroteava com todo o mundo; que não gostava de ninguém e ninguém gostava dele.

Perguntou o Supremo Comandante: Sargento, quem roubou um coco desse coqueiro? Já meio que se mijando, responde o sargento: Não sei, não senhor. O quê, Sargento do dia? e não sabe quem deu alteração em roubar um coco desse coqueiro???? E determinou:  capitão, mete o sargento na cadeia. Preso o sargento, não agüentou o tranco e meteu a boca no trombone: Quero falar com o Comandante. Me levem à presença do Comandante. Frente à frente com aquele semideus, o sargento escrotão “se abriu”:  Coronel fui eu. Fui eu quem pegou coco. E, confessou a sua “mea culpa”.

O comandante nem por isso se deu por satisfeito. Sim, mas e cadê a casca do coco? Vai lá e me traga aqui, agora! Só assim eu vou ter certeza do você afirma:. Sargento escrotão foi lá, pegou a casa do coco cuja água havia “degustado” (como no dizer de Nelson Bandeira). E... “Pronto, comandante”!  

A partir daquele dia, como na linguagem de Dona Rosa, a rotina “dos Quartel” nunca mais foi a mesma: Nem o todo-poderoso Comandante, precisou mais conferir diariamente os seus cocos; nem o sargento escrotão que qual um escorpião ferrando todo o mundo, não escroteou mais ninguém. Este que passou a ser tido, havido e conhecido ora como o SARGENTO LADÃO DE COCO, ora como “Sargento mosca morta.” E haja paz e sossego “nos Quartel”, afastado que estava a idéia do risco de roubarem o paiol em armas e munições da CASERNA.

* Viegas questiona o social
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