MENU

11/03/2023 às 00h00min - Atualizada em 11/03/2023 às 00h00min

TANTOS E TÃO POUCOS

NAILTON LYRA

NAILTON LYRA

O Doutor ​NAILTON Jorge Ferreira LYRA é médico e Conselheiro do CRM/MA e Conselheiro do CFM representando o Estado do Maranhão

 
Em artigo aqui publicado há cerca de duas semanas, referi-me ao número de faculdades de medicina existente no país. Hoje são mais de 358 escolas médicas com a oferta de 35.977 vagas a cada ano. De 2012 a 2022, foram criadas 163 escolas, sendo 106 privadas, o que não garantiu uma excelência na formação médica.

Segundo a Demografia Médica 2023, publicada agora, em março, pelo Conselho Federal de Medicina-CFM, somo mais de 564 mil médicos atuando no Brasil, o que representa 2,65 médicos por mil habitantes. O índice está próximo ao de países desenvolvidos como o Canadá (2,7), USA (2,6) e Japão (2,5).

Existem cidades como Vitória (ES) com cerca de 14,40 médicos por 1000 habitantes e situações como o interior do MA com 0,48 médicos por 1000 habitantes.

Nossa capital, São Luís tem 5,35 médicos por 1000 habitantes.

Todos esses dados estão disponíveis na Internet na publicação Demografia Médica 2023.

O Dr. Eduardo Neubarth Trindade, ex-presidente do CRM RS, assina um excelente artigo expondo esses sobre esses fatos.

A grave crise humanitária Ianomâmi reacendeu a discussão sobre a contratação de médicos para atendimento de pessoas em áreas remotas e/ou situação de vulnerabilidade. Com isso, o Ministério da Saúde quer celeridade em contratar mais médicos para os distritos sanitários indígenas (DSEI).

A calamidade Ianomâmi, consequência de descasos e crimes na Amazônia há décadas, só é lembrada nas tragédias como essa que envergonha ao Brasil. Sabemos da enorme parcela de culpa do vizinho, mas isso não é a razão para esse artigo.

No entanto, somente a contratação de mais médicos não é a solução para a desassistência da população. O número de profissionais no Brasil é mais do que suficiente para atender essa demanda em todo o território nacional, ou seja, não faltam médicos, mas sim uma estrutura para um adequado atendimento.

Essa má distribuição concentra os médicos nas principais regiões do Sul e Sudeste, 62 % estão fixados nas 49 cidades com mais de 500 mil habitantes. Já nas outras 4.890 cidades com até 50 mil habitantes estão pouco mais de 8 % dos médicos. Se as 27 capitais onde moram 24 % da população, têm 54 % dos médicos, já no interior, onde temos 76% da população, temos 46 % dos médicos.

Mas se existem médicos suficientes, por que ocorrem esses desertos médicos?

Os profissionais de saúde preferem locais com condições de trabalho e estrutura para um bom exercício profissional.

De que adianta o médico sem acesso a equipe multidisciplinar e estrutura básica para suporte ao trabalho?

Solução complexa! Mas é preciso, estabelecer políticas consistentes e continuadas para a atração e a fixação do médico no interior. É fundamental investir em saúde pública de qualidade garantindo acesso a exames, medicamentos e procedimentos.

Necessário pensar em uma carreira de Estado para profissionais de saúde, como ocorre no Poder Judiciário, garantindo a interiorização da assistência médica.

As políticas de saúde precisam garantir cobertura universal e de qualidade para todos os cidadãos.

O problema do Revalida. Temos que lembrar que não foi instituído para barrar médicos formados no exterior, mas para oferecermos a garantia de atendimento de qualidade aos brasileiros.

Não se faz medicina apenas com boa vontade, estetoscópio e receituário. Para o atendimento das comunidades carentes de assistência, como os indígenas, temos que valorizar os profissionais de saúde com carreira de Estado, estrutura para exercer a profissão com dignidade ao médico e ao paciente.

E tanto e tão poucos, por quê?

Porque na área de saúde temos o maior propósito que existe, A VIDA!
Link
Leia Também »
Comentários »