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01/10/2022 às 00h00min - Atualizada em 01/10/2022 às 00h00min

...QUANDO O ALMOÇO ERA NO SESC!!!

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

 
As escaramuças, sopapos e pontapés da vida me ensinaram o caminho das pedras. Cheguei a São Luís aos doze anos para tentar o exame de admissão. A CIDADE era, para mim, um mundo inacessível. Indevassável. Mamãe, em casa, no interior, vivia me advertindo: “Cuidado ao atravessar a pista”. E, quando de férias, eu voltava para o interior as pessoas de perguntavam: “Tu não te perdes na cidade?” Eu amava como sempre amei a CIDADE. Não tinha um centavo no bolso, mas amava a cidade. E então na cidade fui crescendo, crescendo e dela me dando conta e dela tomando conta. Eu que sempre tive o sonho de um emprego, tive o primeiro emprego, o segundo emprego e deixei empregos para trás. “Os empregos andavam atrás de mim”. Eu dizia.

E costumava contar vantagens sobre os meus acessos e sucessos na cidade: “Cheguei de calças curtas e saí com diploma superior debaixo do braço. Estudei e fui interno na Escola Técnica Federal e tive passagem pelo Liceu. Cursei Faculdade de Direito, trabalhei em repartições federais, em banco e morei na UMES (Casa do Estudante) e na Casa do Estudante Universitário. Comi no SESC.

- Tu comeu no SESC? Como conseguiste comer no SESC? Me perguntavam uns. Eu, garboso e vencedor: “Sim senhor! Comi no SESC. Me lembro desse tempo. Nem sei como consegui fazer um cadastro e comer por lá. Eu me lembro daquilo tudo como se estivesse vendo agora! Era 1968. O almoço começava a ser servido, regiamente, lá pelo meio-dia. SEU JACKSON me parecia ser o chefe da cozinha, o “cuca”. Ele também servia as bandejas dos comensais. Um cara na dele. Tranquilo.

No restaurante do SESC havia um sistema de som, isto é, uma radiola, adaptada a um rádio ou vice-versa. Após o almoço, a gente ficava por ali, sentado, fazendo a sesta (relaxando). Era quando entrava no ar, o noticiário via Rádio Timbira. Me lembro bem. E todos ali sentados, quietos, de ouvidos no noticiário. A esse ponto Seu Jackson ainda servia o almoço para outros tantos.  Depois do almoço eu pegava de volta o caminho para o trabalho, este que ficava no "Sítio Saudades”, região do Monte CASTELO, em frente à antiga Casa Inglesa.

Inesquecíveis também eram aqueles domingos quando a gente ia para a PRAIA DO OLHO D´ÁGUA Lá havia o SESC VERANEIO (?), que também servia almoço. Havia também um jogo de pingue-pongue e eu me amarrava naquilo tudo. O ambiente no SESC, por si só era de uma tranquilidade e leveza ímpares.  Na oportunidade, porém, lembrar um velho adágio que diz que “o pão comido não é lembrado”. Contudo, seja pela minha formação pessoal, meus princípios e toda uma trajetória de vida, JAMAIS-JAMAIS, haverei de esquecer o pão que se me fora servido à sombra do SESC.

Anos mais tarde eu fiz um texto no rádio, para lembrar E AGRADECER aqueles meio-dia de almoço no SESC. Uma Xepa e tanta! Um almoção em que a gente pagava um preço simbólico, tal o conteúdo e a qualidade de tudo o quanto ali era servido. E eu tantas vezes me perguntava em silêncio: “Afinal quem é que banca essa banca, essa mesa, essa refeição?”. E, numa crônica que se foi pelo rádio eu agradeci ao SESC pela oportunidade que me deu em estar por lá. De comer em seus restaurantes e de conviver em suas dependências – fosse na Deodoro, fosse no Olho D’água. E era por isso que eu contabilizava nas minhas vantagens: “Comi no SESC.”

Agora, estou vendo por aqui, as primeiras fundações e os tapumes de uma grande construção do SESC, ali na ladeira da Rua Luís Domingues, rumo ao Porto da Balsa, onde, no passado, funcionou a Cerâmica São Vicente Férrer. O que será, propriamente, não sei ainda. Só sei que o meu pensamento voou a mil. E então voltei e volto no tempo para lembrar aquele velho tempo em que eu comia nos Restaurantes do SESC - na Deodoro e no Olho D’Água, na capital.

E se alguém estiver me lendo ou me vendo, diga ao SESC que lhe sou eternamente agradecido. Digam-lhe que o SESC foi um rio que passou em minha vida. Digam-lhe que EU AMO O SESC. Digam-lhe que o pão por mim comido, continua lembrado. E que, nessa canção, não vou lhe esquecer. Afinal... “Eu comi no SESC”.

* Viegas é advogado em Imperatriz-MA. Interpreta e questiona o social: E-maill: [email protected]
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