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13/08/2022 às 00h00min - Atualizada em 13/08/2022 às 00h00min

Desmatamento, caça Ilegal, epidemias, zoonoses...

NAILTON LYRA

NAILTON LYRA

O Doutor ​NAILTON Jorge Ferreira LYRA é médico e Conselheiro do CRM/MA e Conselheiro do CFM representando o Estado do Maranhão

  
Como dito anteriormente, em artigo publicado na semana passada, esta coluna foi proposta para ajudar os leitores no esclarecimento de pontos da medicina e do atendimento médico.

Mas uma coisa preocupante emergiu, para se juntar às que já carregamos diariamente, a CNN em reportagem cita que o Maranhão, que possui cerca de 34% do seu território coberto pela floresta tropical, é classificado como área com alto risco para surtos de zoonose. Enquanto o Ceará, estado vizinho, onde a caatinga prevalece, apresenta baixo risco no surgimento de novas doenças.

Nestes últimos dois meses fomos surpreendidos por fatos que nos causaram preocupações. Este que iremos abordar hoje, é importante para o futuro de nossos filhos e netos.

Nosso país é mundialmente conhecido pela sua rica biodiversidade em animais e vegetais e abriga, também, uma grande variedade de agentes capazes de causar doenças sérias e tecnicamente são chamados de “patógenos”, como vírus e parasitas diversos.

Provocam as chamadas Zoonoses.

Zoonoses são doenças transmitidas de animais para humanos, como exemplo a doença de Chagas, a febre amarela, a Chikungunya e muitas outras.

Antes mesmo da pandemia causada pelo SARS COV 2 a OMS vinha alertando sobre os riscos do surgimento de doenças com potencial epidêmico e capazes de se espalhar por todo o mundo afetando grande segmentos mundiais de população.

Isso ocorre por uma situação chamada de “transbordamento”, que é quando os agentes causadores de diversas doenças que circulavam de maneira restrita, em um grupo de animal, “saltam” e passam a infectar outras espécies e principalmente os humanos. O deslocamento da fronteira agrícola é o responsável por esse fenômeno.

A dependência socioeconômica das pequenas cidades junto às fronteiras agrícolas provoca no Brasil esse acontecimento. O maior exemplo é Manaus.

O fluxo humano é fundamental no espalhamento de zoonoses principalmente quando a infecção começa a ocorrer em transmissão de pessoa para pessoa como a COVID, em cidades super espalhadoras com amplificação extraordinária da transmissão.

A carne de caça é um outro problema para o fenômeno do transbordamento, a caça ilegal detectou 63 mamíferos que interagem com 173 parasitas propícios a causar pelo menos 76 tipos diferentes de doenças, na floresta amazônica.

Por que estamos falando isso? Vivemos na borda da maior floresta tropical do mundo, com uma gama enorme de doenças com características de zoonoses.

Atualmente não tenho mais presenciado em nossa região a malária.

Quando cheguei aqui na terra do Frei, batizada em homenagem a mãe dos brasileiros, a Imperatriz Tereza Cristina, deparei com cenas que nunca tinha visto: farmácias com salão grande, banheiro no fundo, redes penduradas e um bocado de pacientes tomando soro com azul de metileno e paludil/aralem para a malária.

Aqui aprendi a tratar a malária seja por p. vivax ou a pior por p. falciparum.

Mas temos que atentar para outras zoonoses que surgirão em nosso meio como Chagas, S. Mansoni, Febre maculosa e outras, como o acidente ofídico que está aumentando.

Certa feita atendi ao telefone, de madrugada, um médico me questionando:
“Nailton, piti dá febre?
Respondi que não, por quê?
“Hoje estou com febre e tremendo.”
Vá para o hospital que é malária, alertei-lhe.
Este médico não tinha fazenda, não pescava, vivia exclusivamente dentro de Imperatriz e tinha uma atividade cirúrgica importante.

Ou seja, aqui dava malária dentro da cidade. Hoje, com a fronteira agrícola afastada e a diminuição dos reservatórios animais próximos, macacos, isso não mais ocorre.

Mas, muita atenção nas outras zoonoses, como febre amarela, chagas e outras.

Para os fãs do Tatu, muito consumido aqui na região, ele é reservatório silvestre de Leishmaniose, Chagas e Hanseníase.
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