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23/07/2022 às 00h00min - Atualizada em 23/07/2022 às 00h00min

... DE QUANDO A GENTE GRITAVA O PALHAÇO DO CIRCO

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

   
De tempos em tempos, na minha cidade, então feita em ruas de areia, cavalos de carga, carroças de serviço, algodão do campo, duas rivais da política amplificadoras lá em cima, jaçanãs em quantidade, aparecia um CIRCO. Um deles ao que me lembro era o CIRCO TEATRO RISO DA MOCIDADE, que ficava dias sobre uma grande praça, feita de capim rasteiro cujo artista principal era O GALBA, um cara forte, sarado, que fazia “diabruras” ao trapézio lá em cima e, como que num voo rasante, afinal, saltava lá embaixo, no chão, e recebia os aplausos da plateia em delírio.

Entre os vários circos que aparecem por lá, teve um que logo a negrada colocou-lhe o apelido de “circo penico sem fundo”, isso porque o tal circo não tinha a cobertura (a lona) lá em cima. E daí... o penico sem fundo. Teve até um rapaz que morava lá por perto e que topou numa QUARTA FEIRA, contracenar numa comédia e acabou levando o apelido de QUARTA FEIRA, para o resto da vida. Ali era terrível: à qualquer coisa, gesto ou palavra ou conduta o sujeito ganhava um apelido par ao resto da vida!

Para ter ingresso, de graça, no circo, os moleques GRITAVAM O PALHAÇO. Era lá pelas três da tarde, a molecada reunia-se em frente ao circo e o palhaço dava as instruções. E lá vamos nós - gritando o palhaço (interagindo com o palhaço) pelas ruas da cidade. “Hoje tem espetáculo?” – “Tem sim, senhor”. Hoje tem “marmelada?” – Tem sim senhor.  Hoje tem palhaçada? - Tem sim senhor. E o palhaço o que é? – É ladrão de mulher...  Arrocha negrada... (gritos) atocha negrada... (gritos) E as famílias vinham para a porta da rua para ver a “zoada”. E eu lá, pelo meio!

Certa feita, nessa gritalhada, estavam dois palhaços: Um que ia lá em cima numa perna de pau, e outro que seguia cá em baixo, comandando a molecada. E lá vamos nós: ”Arrocha negrada”, “Atocha negrada”.  E tome gritaria! Aconteceu que o palhaço da perna de pau, atrapalhou-se num lameiro e caiu lá embaixo.  E o palhaço do chão gritava: “Arrocha negrada”, “atocha negrada”. E haja gritaria com o perna de pau, ao chão, pê da vida!!!

O perna de pau, pediu licença a uma senhora ali ao lado, para servir-se de sua janela, para subir no seu engendro, mas o palhaço do chão zombou: “não deixe dona, senão ele vai derrubar a sua janela”. A mulher já ficou indecisa. O palhaço do chão insistiu: “Não deixe que ele vai roubar sua janela. O circo está cheio de janela que ele rouba das casas”. Aí a dona da casa fumaçou: “Na minha janela?  Aqui não”. Aí o perna de pau abandonou o grupo e saiu pela Rua do Sapateiro e o outro saiu gritando rumo à rua Grande: Arrocha negrada, atocha negrada. Hoje tem espetáculo? Hoje tem marmelada?

Enfim, era a comunicação. o anúncio, a propaganda para o espetáculo do circo, à noite.  Quando o grupo chegava de volta, a molecada era marcada em números com uma tinta negra e oleosa, no braço.  O braço marcado era o ingresso do circo à noite, inclusive para ver aquelas mulheres com as pernas “torneadas” e sensuais que compunham o espetáculo. E que a rapaziada... tinha lá os seus imaginários.

- Enquanto isso lá fora, por trás do circo, os moleques que não gritaram o palhaço, faziam de tudo para “varar o circo”. Era uma tentação!  E haja perseguição!  Corre pra cá, corre pra lá, era aquela zorra, com a molecada lá fora tentando “varar” a cerca de arame farpado.  Um ou outro que conseguia entrar, por vezes era desmascarado em pleno espetáculo e levado de volta para a rua, pela cerca do arame. E outros que conseguiam a façanha, no dia seguinte, contavam vitórias de suas trapalhadas.

O outro lado desse tempo de moleque era quando chegavam as festas de São Judas, de São Benedito e dos Remedinhos. Vinha para lá o parque de diversão surraaaado, antiiiiigo, maltrataaaado!  Aquilo “rangia mais do que cama de pobre” (como diziam). Tinha também uns cavalinhos (acho que uns seis) que, sobre a plataforma de um círculo rodavam em torno de um eixo. Entre as atrações tinha as “barquinhas”, o jogo das argolas, tiro ao alvo”, “pescaria” e outros.  

Eu era fã do CARROSSEL. Aquilo rangia, gemia – a um momento lá em cima e a outro momento lá embaixo. E ainda ficava um cara, no chão, a serviço do parque, rodando o carrossel. E haja coração!  Mas teve uma outra: E não é que acabaram falsificando o ingresso (em cartolina) do carrossel? E haja coração!!!

* Viegas questiona o social
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