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16/07/2022 às 00h00min - Atualizada em 16/07/2022 às 00h00min

... UMA OVELHA DESGARRADA

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

  
Era um dia de semana, lá pelas dez do dia. Nas proximidades da feira do Bacuri, homens e mulheres se juntam para usar droga, sobre a calçada, aproveitando-se de uma sombra ai existente. Os usuários fazem a “festa”. Reúnem-se e consomem seus psicotrópicos (droga proscrita) a céu aberto. Espontâneos, com as pessoas passando em volta, sem serem incomodados por quem quer que seja.

Logo é de entender que, por trás ou à frente desses usuários existem os traficantes tão nocivos quanto criminosos. Isso é uma lógica! Mas, ainda assim, pelo visto, é como se traficantes e usuários e criminosos não existam, tal o comodismo – o cômodo – como procedem os usuários.
 Tranquilamente! Órgãos e políticos de defesa logo-logo vão criar um espaço público que lhes assegurem o pleno consumo. É só o que está faltando!
Em meio a esse desvão, há uma figura magricela, roupas sumárias, sempre à cata e à caça de uma oportunidade para o exercício do seu vício. Ela se aproxima da corriola, tenta se “intrujar”, mas, é rejeitada. Então ela sai... afasta-se, mas não consegue se sair. Então ela tenta se aproximar, recostar-se, mas... até parece que o pequeno grupo de umas quatro ou cinco pessoas, uma mulher pelo meio, inclusive, não lhe aceita. Ela até que faz que sai, mas acaba voltando, querendo se meter pelo meio, mas, a recusa persiste. É, afinal, uma OVELHA DESGARRADA que por mais que insista, é sempre recusada, rejeitada.

No meio dessa corriola tem uma novata. De tão novata que até parece que está “cheirando à tinta” da outrora vida regular, de sobriedade.  A figura tem ainda um aspecto da civilidade de que era portadora. Agora ela senta-se ao chão da calçada, de forma explícita, sem discrição, com todo o mundo passando, mas como se estivesse aos recônditos do quintal de sua casa.

Chega-se a imaginar que ela ainda guarda rastros fortes de sua recente sobriedade regular. Mas logo aproxima-se um sujeito, forte, vistoso, um tipo contumaz, porém, ainda não totalmente entregue. Aproxima-se da moça e... já vai se misturando, se envolvendo e tentando envolver aquela noviça do meio.  Ela já está descendo rumo ao fundo do poço. E, se ela se entregar a uma sedução do meio a rua, o que é bem provável? E se “pintar um bucho”?  Mais difícil ainda será encontrar o caminho de volta.

JUÇARA OU JUSSARA?

(isso, agora, não vai ao caso)

Havia, a poucos passos do quintal da minha casa, na minha infância, numa encosta perdida no matagal, um JUÇARAL.  E nele dois lindos e vigorosos e faustosos pés de buriti. Juçara e Buriti se casam bem. Deles, tantas vezes (tantas vezes), retiramos o alimento do dia. Impossível será esquecer aquele pequeno juçaral e aqueles buritizeiros que tanto deram alento à nossa alimentação e... à nossa vida. Um lugar e uma oportunidade que todos, absolutamente todos, por ali, gostariam de ter. E que nunca tiveram e que certamente nem terão. E então, fomos privilegiados. Quer dizer: Abençoados!!!

Por conta desse velho apego, em minha e nossa casa planto mudas de juçareiras, seja na parte da frente, seja aos fundos (no quintal). Juçareiras com suas raízes e os indesejáveis “efeitos colaterais”. Incrível, porém, é o prazer que elas me dão. As sombras, a vegetação, seus caules com que tanto convivo quanto tenho intimidade, como aliás, tudo aquilo ali. Lá, os pássaros aparecem, voam, comem e cantam. Lá, eu ponho milho, massas e água para alimentar os pardais sempre ariscos, mas viciados na comida e na farta galhagem de tudo fato que encontram por lá.

A este tempo as s juçaras do meu quintal, lá em cima já estão “pintando” que era como a gente dizia nos meus tempos de moleque. “Já estão empretecendo”. Tem meia dúzia de uma cachos mais fartos, mais volumosos; outros mais retardatários, pouco expressivos. Acho que este ano não teremos juçara como de maior expressão quanto de outras vezes. Mas, fazer o quê? Então aguardemos para ver. E, no quanto vierem serão bem recebidas, ainda que para mero diletantismo dos meus olhos e da minha saudosa lembrança.

“JUIZ, SOLTA O MEU PAI!”

O Juiz era um homem mau. Frustrado em sua vida pessoal, tinha prazer pela CONDENAÇÃO. Todos diziam, todos viam. Naquela manhã, na audiência, o pai da criança encontrava-se preso, cabisbaixo. O juiz comandava a situação com mão de ferro, como sempre. Indiferente a tudo e a todos, afinal ele era o dono da situação – da vida, da prisão e da liberdade das pessoas. Mulher e dois filhos do preso encontravam-se na sala.

A certa altura, o menino, uns oito anos, quebrando a regra dirige-se àquele homem todo poderoso: ”Juiz, solta o meu pai”. O juiz resolveu dar-lhe ouvidos. – E então por que você quer que eu solte o seu pai?”. Perguntou o juiz. – “É... porque, quando ele tava lá em casa, a gente tinha o que comer. Responde o menino, baixando a cabeça. - Comia o quê?  Pergunta o juiz. Ah... a gente comia cuscuz, arroz, feijão, farinha, ovo... E agora? Pergunta o juiz. – “Agora... agora não tem nada. A gente come quando dão pra a gente”. Isso já era uma onze do dia. E o menino já se sentindo à vontade soltou essa última: “Oh... até agora a gente ainda nem tomou café...”

O juiz, havia perdido um filho. Vivia apaixonado. Quiçá vendo naquela criança um espectro do seu filho falecido, puxou do bolso uma nota, mandou o filho entregar à mãe e mandou que todos fossem tomar café. E sentenciou libertando o pai da criança. Precisaria de um defensor ao pai melhor do que esse filho???

* Viegas questiona o social
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