Nos tempos que Imperatriz ainda estava engatinhando como cidade para chegar aonde chegou e, alcançando a sumidade de metrópole...
Toda vida burocrática era feita na subjetividade pessoal pretendida e intencionada por preposto.
O emprego da informática era escrito, manualmente, o que foi ouvido e copiado pelo datilógrafo na antiga máquina da datilografia marca Remington.
Com toda vênia!
Peço permissão ao leitor para reproduzir e contextualizar minha passagem como escrivão que fui do cartório, em momento precedente, conhecido de 2º Ofício, ali na rua15 de Novembro. Pelo qual trabalhei por seis anos.
Muito bem...
Essa missão competia ao escrivão e/ou escrevente cartorário de ler por dever todas as peças apresentadas pelos advogados impetrantes de suas causas constituídas.
Dantes, período de 1950... os causídicos provisionados [rábula] eram os defensores que mais militavam na área jurisdicional do município.
Muitos deles de excelente conhecimento humano com a narrativa e com a exposição dos fatos inerentes ao Direito. Como também, tinha o juiz leigo destinado para a circunscrição cível. Como celebração de casamento etc.
Das mais inusitadas alçadas do tempo quando Imperatriz obedecia à subordinação da Comarca de Porto Franco. O Juiz marcava o dia de atendimento forense, como audiências, júri e tantos outros julgamentos. Deslocando-se até este fórum.
Para casos menos pormenorizado; se tinha a figura do “promotor ad-hoc” para os processos de casamento, nascimento e, que já tinha seu parecer exarado: [nada tenho a opor].
Escrivão Eleitoral...,
Foi um dos percursos e/ou desafio que enfrentei pela frente; atendendo candidatos, conferindo fichas e números de eleitores daqui até Açailândia; trabalhando de dia e noite sem energia elétrica...com luz de lampião e petromax; para cumprir prazos eleitorais.
Escrivão de Polícia...,
Nesse momento já tinha chegado um juiz [togado], ou seja, com formação jurídica.
Chegou, também, um policial velho aposentado, pelo qual alcunharam logo de sargento da "Zabona", uma farda de tecido de brim “caqui” com um blusão em que cada particularidade como: bolsos e divisas nos ombros tinha o feitio de uma orelha de elefante.
A guarda municipal toda informal. Em média uns seis, feitos, como soldados, titulados como defensores da ordem pública.
Certo que o dispensado meritíssimo designou um conterrâneo (jovem) de família tradicional daqui para exercer a função provisoriamente de escrivão de polícia.
A delegacia era ali onde hoje é a UMES [União Municipal de Estudantes]; tinha duas celas; uma sala próxima como gabinete da autoridade máxima. Na parte dos fundos, com uma porta que dava acesso ao quintal da casa adaptada.
Quando o neófito escrivão chegou lá para o primeiro dia de trabalho, deparou-se com o bate-pau apelidado de "Boca de Serpente" dando um corretivo num preso.
Ah, meu amigo!
O escriturário não suportou aquilo que ele estava vendo. Deu-lhe uma crise de choro e foi entregar o cargo ao doutor Juiz, alegando de não ter estrutura para aquela atividade carcerária.
Consequentemente, a autoridade da função jurisdicional, nomeou-me para a função de escrivão de polícia. Ordem de juiz naquela época se cumpria e acatava no pé da letra.
Chegando lá me instalei; ajustei a máquina Remington para datilografar as ocorrências policiais dos corriqueiros dias. Maior parte embriaguez e briga de casal.
Uma semana depois, cheguei lá pela manhã, escutei um gemido angustiante... detectei que era no quintal da delegacia.
Bati na porta com força; o soldado “Azul”, como era conhecido no meio policial... [tinha a pele “preta azulada”], abriu, lá está ele metendo a “borracha” num preso amordaçado e amarrado com os braços pra trás.
Então questionei:
O que significava aquilo? Respondeu que era o serviço de informática...e olhe! Sem poder falar? Mandei que soltasse e desamarrasse o detento.
Quando soltou o castigado... deu um suspiro e me disse: moço!... se você não aparecesse, ele ia me matar de “taca”. Mas na hora que eu sair daqui ele morre.
Esse preso era um pistoleiro que morava no povoado “Frades”, conhecido como “Zé Santô”. Tinha um rosário de crimes nas costas.
Não deu outra...
Mais tarde acabaram com esse tipo de guarnição. Dispensaram todos. O “Azul” arrumou sua mala com suporte e revestimento em papelão; vestiu sua calça de “linho branco”, camisa manga comprida, também branca, e se despediu de todos e, que estava voltando para o aconchego do lar, no estado de Goiás (naquela ocasião) ...
Estava voltando!!!!!
Se a morte não interrompesse sua partida. Ele esqueceu o que o pistoleiro “Zé Santô” falou quando estava levando uma surra sem piedade dele.
Desceu até a beira rio. Num quiosque de palha virado o fundo para o rio Tocantins. Pediu uma cerveja Antártica gelada a querosene... e um prato de sarapatel de porco.
Quando começou seu bem-estar o malfeitor abriu com o cano da espingarda calibre 20 a palha da parede do barraco e sapecou um cartucho cortado no peito do descontraído (ex-policial Azul), sem direito ao cortejo policial.
Foi sepultado dentro de uma “tipoia” como indigente por não saber o endereço de seus familiares... não existia aqui na época embalsamamento... só se salgasse, o que não era permitido.
Mas o velho sargento (delegado), quando recebeu o corpo do afamado ex-policial... dizendo:
Essa é capa dura da vida... “A morte é um doido limpando mato”.
A maldade: Origem incerta, destino certo...
Santo Expedito, rogai por nós.