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15/01/2022 às 00h00min - Atualizada em 15/01/2022 às 00h00min

“AMOOR, MEU GRAANDE AMOOR”

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

 
Se um dia eu tiver (ou tivesse) que escrever um livro, eu dedicaria um capítulo especial, senão a obra integral à minha atuação no Rádio/AM, em face de um programa que ficou no ar por mais de doze anos, com algumas breves intercalações: PROGRAMA RÁDIO LIVRE. Foi o meu brinquedo preferido, VÍRGULA, levado a sério, tal o AMOR, a dedicação, o empenho, o compromisso, a responsabilidade que eu tinha para com o Programa. Eu vivia criando, “bolando”, inventando atrações, quadros, “slogans” e outras articulações para o dia-a-dia. Enfim um programa que se renovava constantemente.

Tinha uma crônica diária – O DRAMA NOSSO DE CADA DIA, espécie de “carro-chefe” do Programa, um verdadeiro cara-a-cara da vida real. Da realidade! Tinha A PALAVRA DO ADVOGADO, Rádio Livre Atende a sua Carta. Esta é a Sua vida, Minha Vida Dá Um Livro. Em cada canção uma Lembrança e outros mais. Um apelo do programa era que os ouvintes mandassem cartas. Aliás, uma prática convencional da emissora. E, a partir da carta eu associava ao quadro a que o enredo (quer dizer: a mensagem) se adaptava ou ainda que, meramente a sequência “Rádio Livre Atende a sua Carta”.

O Programa RÁDIO LIVRE,  tinha (para mim) o sabor de uma “revista” diária. Um programa sempre diferente do outro. E só recente fiquei sabendo que os sonoplastas (operadores de áudio), suavam a camisa e suavam frio para me acompanhar no dinamismo, no ecletismo, que era o Programa RÁDIO LIVRE. Os quadros do Programa eram criados em face de inusitadas e vividas situações. Dava um “estalo”, dava um “click” e então criava-se o quadro.

Certo dia uma ouvinte, Elisângela, do Açaizal dos Pernambucanos, mandou uma carta dizendo que gostava do Programa “por causa dos forró que roda”.  Falei então dos bastidores que era a produção do Programa. Por vezes duas, três e até quatro horas para a tal produção: Ler e interpretar as cartas, escrever textos, pesquisar o direito, escrever um tema diário, pesquisar músicas de adaptações para cada assunto abordado no programa, (uma tarefa e tanta!) E assim tantas vezes atravessar as noites, varar madrugadas até o amanhecer do dia.

Expliquei que fazia aquilo de MERO AMOR E DEDICAÇÃO em mero empenho pessoal. Convidei então a moça para conhecer os bastidores do programa, desde a sua produção até a sua apresentação. Atendi a sua carta mas a moça não atendeu ao meu apelo. E então criei o quadro: No arrrr... “OS FORRÓ QUE RODA”. Aí era 15 e até 20 minutos de puro forró pé de serra: Gonzaga, Jackson, Ari Lobo, Cremilda, Genival, Elino Julião e outros tantos.

De ocasiões essas e tantas outras, foi assim que criei o quadro – “AMOOOOOR, MEU GRAAAANDE AMOOOR”.Detalhe a esclarecer é que este apresentador “interpretava a carta”, por vezes “dava uma ajuda, uma força”, colaborava, retocava, melhorava no detalhe, até porque a isso se chama “produção”. E vibrava na abertura: “No arrrr... ...AMOOOOR, MEU GRAAAANDE AMOOOOR!!!”. O quadro, em realidade, era uma sátira afiada e acre-doce aos amores desfeitos, às relações maritais destruídas, aos descasamentos. E às inevitáveis realidades da vida. Afinal, o rádio (no entretenimento) se nutre desses e outros triviais do quotidiano.

A ideia do quadro surgiu de  uma prosa evasiva numa mesa de bar, quando eu, então, fora do rádio, fazia uma participação em “O RÁTIO NA TV” (no SBT local). Foi quando aquele sujeito, num verbo descontraído soltou uma  frase: “Isso é que é AMOOOR, MEU GRAANDE AMOOOR. Nascia ali, a partir da frase, na minha mente, o futuro quadro “AMOOOR, MEU GRAAANDE AMOR!!!”, que logo deixei a TV, voltei ao rádio.

Na época, o Garimpo da  SERRA PELADA estava em alta. Um formigueiro humano! Gente das quatro bandas das Américas! Também em alta estava o vai e vem das pessoas, ora com destino ao Paraguai para a compra de bugigangas em contrabando bem como para Goiânia para a compra de confecções. Sem esquecer também um certo vai e vem para Fortaleza-CE. para a compra de semi-jóias em “ouro catorze”. Lembra dessa?  De forma assim que, Serra Pelada, viagens ao Paraguai, a Goiânia e Fortaleza, além dia a dia da vida, rendiam UM PRATO E TANTO, para as sátiras acre-doce do quadro “AMOOOR, MEU GRAAANDE AMOOOR!!!”

Um ouvinte então mandou uma carta. Dizia que teve uma mulher e com ela um convívio que durou cinco anos. Era uma vida modesta, o sujeito vivia na batalha dura pelo de comer, por vezes na diária em serviço alheio, outra hora fazendo “bicos” e até fazendo pequenas viagens de serviço enquanto a mulher cuidava dos afazeres da casa. “Viviam numa boa”, disse a carta.

“E toda a noite (ou quase toda anoite) tinha festa na tribo”, uma interpretação que fizemos quando uma exclamação foi feita pelo ouvinte: “Sabes como é que é, né!!!” – Foi como interpretei na carta.  Mas eis que um dia... (eis que um dia...), quando o nosso ouvinte menos espera, olha o que ele vê: sua mulher segurada pelas mãos por outro sujeito. Foi uma dor. “Nem sei como pude suportar a dor. Aí o meu “mundo caiu”, disse a carta. Aí aqueles cinco anos de convívio com aquela mulher se foram pelos ares.  Cinco anos de “festa na tribo” (interpreta a carta)

E se um dia eu tiver (ou tivesse) que escrever um livro, eu dedicaria um capítulo especial à minha atuação no Rádio/AM, ou ainda que toda a obra, em face daquele meu RÁDIO LIVRE um Programa que ficou por mais de doze anos  no ar e que mais de trinta anos depois (mais de 30 anos depois) e até hoje (até hoje),  as pessoas lembram de muitos dos seus episódios, de suas falas, de suas crônicas, suas cartas, da orientação prestada... ... de seus quadros que entre outros tivemos... ... AMOOR, MEU GRAANDE AMOOR!!!

Música (ao fim da leitura): DIZEM QUE O HOMEM NÃO PODE CHORAR – Barros de Alencar

  * Viegas questiona o social
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