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09/10/2021 às 00h00min - Atualizada em 09/10/2021 às 00h00min

CADÊ OS MEUS PASSARINHOS QUE NÃO MAIS VOLTARAM?

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

 
(Adaptado para o Jornal, este é um texto que escrevi para a minha crônica dominical, na Rádio Mirante/AM, na capital. O Programa CLUBE DA SAUDADE, mais DE 33 ANOS no ar, na mesma emissora e com o mesmo apresentador, em cadeia com mais de 30 (trinta emissoras) é com essa grande cadeia em todo o Estado do Maranhão, inequivocamente um CAMPEÃO DE AUDIÊNCIA! E eu, pego brisa, carona e janela com essa minha... PÁGINA DE SAUDADE!!!)

O Senhor meu pai era um homem obstinado. Vivia plantando. Fosse por onde fosse, voltava trazendo sementes, caroços e mudas, até. E assim plantou pequi, bacuri, coco, mangas, cedro, paparauba, pau d’arco e outros. Puxei ao meu pai, gosto de plantar. E então nos meus domínios,  planto árvores e planto sombras. E isso me conforta, me dá prazer. É como diria ao seu tempo o meu velho meu avô quem puxa aos seus não degenera”. E então plantar árvores é seguir ao meu pai.

Assim é que, o simpático quintal da minha casa, também à frente, é feito de árvores e sombras, principalmente as JUÇAREIRAS - com as quais eu tenho maior identidade e maior cultivo. As sombras e a folhagem das juçareiras, atraem os pássaros. Eu gosto disso. Assim é que já tivemos por aqui diversos deles tais como BENTVI, ao qual lhe dediquei um texto, rolinha sangue de boi a que também já lhe dediquei um tema, sabiá que passou por aqui não voltou mais; uma tal “pomba rola”, que parece um viúvo apaixonado e solitário, sempre chamando por sua companheira. E até um canário que qual um cometa e qual o sabiá, não mais voltaram.

Os mais presentes entre todos são os PARDAIS. Houve uma época que por aqui havia uma colônia de pardais. Dezenas. Às cinco da manhã eles já sibilavam, saltitavam e sobrevoavam as folhagens das juçareiras. E então eu acordava com eles e observava
o festival de canto vozes e saracoteios que eles executavam. Numa dessas também lhes dediquei um texto, no jornal.

Sem que eu me desse conta o tempo foi passando e a colônias de dezenas de pardais também desapareceu. Simplesmente desapareceu e eu fiquei sem aqueles meus vizinhos e companheiros do alvorecer, que às cinco da manhã já me faziam alvorada. Desconfio que houve uma dizimação, um extermínio. Não sei...

Por último, no meu quintal, pontuavam e sobrevoam apenas DOIS CASAIS DE PARDAIS. Dois casais. Tão amistosos e, certamente carentes, já se aproximavam até mesmo da cozinha, à procura de comida. Aquilo me despertou, me sensibilizou. E então, passei a lhes dedicar um comedouro e um cântaro de água. Em princípio pensei que eles se habituariam e dali não mais sairiam. Qual nada! Compareciam pela manhã entre oito e nove horas; iam embora para só voltar por voltar das quatro a cinco da tarde, sempre com COMIDA E ÁGUA À DISPOSIÇÃO. Então eu dormi o sono dos justos e pensei que seríamos amigos para sempre!

Apesar de que o meu anseio era de que fossemos mais próximos, mais amistosos, porém os pardais sempre ariscos, nada de muita proximidade. E assim,  o distanciamento, natural. Sucede, porém, que eles simplesmente, por último, porque não sei, não sei porque, NÃO MAIS VOLTARAM para o banquete que eu continuo lhes dedicando. Em vão.  

. E para o meu dissabor, confirmando esse desamor, e suportando a minha dor eu os vejo ora sobre o meu muro, ora sobre a fiação da rede elétrica, porém voltar à mesa que lhe espera eles não mais voltaram. E então, dia desses, revirando a minha saudade num grito de saudade eu exclamei: CADÊ OS MEUS PÁSSAROS QUE NÃO MAIS VOLTARAM?! E assim pungido pela pela saudade que os pardais me deixaram, eu lhes dedico uma canção e escrevo esta PÁGINA DE SAUDADE.

* Viegas questiona o social
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