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25/09/2021 às 00h00min - Atualizada em 25/09/2021 às 00h00min

Um megalomaníaco perigoso

AURELIANO NETO

AURELIANO NETO

Doutor Manoel AURELIANO Ferreira NETO é magistrado aposentado do Tribunal de Justiça do Maranhão, e membro da AML e AIL - [email protected]

         
             Havia chegado à conclusão de que não mais me meteria nesses assuntos. Quaisquer assuntos que tivessem como protagonista o capitão do Planalto. A mim, insistir em falar em suas aberrações éticas, é chover no molhado. Não há jeito que dê jeito. O capitão destrambelhado, do púlpito da ONU, resolveu delirar, como se tivesse num sonho em que nossos pesadelos foram deixados ao largo do esquecimento proposital. A pátria amada, nos seus dois anos e oito meses de desgoverno, é um paraíso sem Adão e Eva, que, se estivessem por aqui, ainda em nosso convívio, estariam vivendo no Éden de nossas favelas miseráveis, onde a nossa polícia, quando quer praticar tiro ao alvo, aparece para reduzir o nosso índice de miséria, matando esses muitos que não participam da sua parceria desgovernamental privada ou pública, a exemplo da barbárie ocorreu em Jacarezinho, num retrato que lembra a SS nazista, na exterminação sem julgamento dos indesejados.

                   Não direi que o capitão mentiu. Não farei isso. O capitão delirou. Entre tantos delírios, afirmou: “Estamos há 2 anos e 8 meses sem qualquer caso concreto de corrupção. O Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus militares, valoriza a família e deve lealdade a seu povo.” Delírio e mais delírio. Pura patologia ética. Um presidente que ama a Constituição, desrespeitando-a continuamente. Que ama a Deus. Ora, ora. Os fariseus também diziam que O amavam, e flagelaram e crucificaram Jesus. Que valoriza a família e já está na terceira mulher. A questão desse amor é saber qual das famílias é valorizada: a mais recente, ou as anteriores. Os filhos são bem-amados, pois, envolvidíssimos em rachadinha e outras corrupções mais, além um governo que tem uma CPI, em andamento, para apurar desvio do dinheiro público em plena pandemia. Único fato concreto, sem a mancha da patologia do delírio: o seu respeito aos militares, uma inversão estratégica e autoritária de valores, é notório, pois os milhares, usufruindo desse respeito invertido, estão muito bem de vida, participando das suas parcerias privadas e públicas e recebendo o soldo e mais os polpudos valores das inúmeras funções civis que ocupam com destaque. E isso não é apenas respeito, mas amor verdadeiro a sua classe, uma nova casta de semideuses, que o apoio nessas aberrações éticas.

                   No seu delírio, teve a desfaçatez de dizer que, quando assumiu o seu desgoverno, a pátria amada, estava à beira do socialismo. Mas que socialismo? Deve ter sido plasmado nas urnas eletrônicas, já que o capitão delirante, eleito pelo socialismo das urnas, entrou num conflito delirante contra o sistema eleitoral, sob o falso fundamento de houve fraude na eleição presidencial, resultando na sua própria eleição. E aí resolveu tresloucadamente voltar ao atraso do voto impresso. Felizmente rejeitado. Assim, de delírio em delírio, chegou à ONU. E lá do púlpito, em nome da pátria amada, transformou seus pesadelos em insanos delírios. Além das afirmações aqui já referidas, fantasiou outras fanfarronices como: “Apresento agora um novo Brasil com sua credibilidade já recuperada.(...) Na Amazônia, tivemos uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior (...) Qual país do mundo tem uma política de preservação ambiental como a nossa?(...) 14% do território nacional, ou seja, mais de 110 milhões de hectares, uma área equivalente a Alemanha e França juntas, é destinada às reservas indígenas. Nessas regiões, 600.000 índios vivem em liberdade e cada vez mais desejam utilizar suas terras para a agricultura e outras atividades.” Quanto a essa nova pátria amada, o meu companheiro de papo e caminhada diários ficou abismado com essa fantasia, pois, segundo ele me afirmou, está desempregado há mais de ano, Mas, nos seus delírios, o capitão, que respeita os militares, debitou o nefasto desemprego de milhões de trabalhadores aos governadores e prefeitos, já que tantos são os investimentos e parceria com a iniciativa privada, e ainda assim os empregos não aparecem. Pelo contrário, esqueceu de acrescentar aos seus delírios, a fome que grassa e toma conta do povo dessa nossa pátria amada. Já os índios, esses estão numa situação das melhores, vivendo em suas glebas de terra desde 1.500, produzindo, sem serem atormentados por garimpeiros, madeireiros, ou as pastagens dos criadores de gado. Para eles, nada mudou desde de 1.500. Delírios e mais delírios.

                   E continuou o capitão em seu delírio, ao dizer que, na pandemia, sempre combateu o vírus (com cloroquina, evidentemente) e, embora não se tenha vacinado, foi favorável à vacina, mas, em tão importante foro como o da ONU, elevou o seu delírio a admitir que sempre defendeu o tratamento precoce. Aí já não é mais delírio, é loucura mesmo.

                   Chego à conclusão de que o nosso capitão está a sofrer de megalomania, que é uma doença perigosa, tipicamente fascista, haja vista Hitler. Explico: a megalomania é um transtorno psicológico definido por fantasias e delírios de poder, grandeza e onipotência. Um megalomaníaco tem a autoestima desproporcional e um fascínio exagerado sobre si mesmo. Constatei que esse transtorno é gravíssimo e perigoso. Por via das dúvidas, consultei um especialista, que me disse: “Tendo como principal característica a crença de ser superior a outras pessoas, o indivíduo (megalomaníaco) pode tratar o próximo com desprezo, por considerá-lo inferior. O megalomaníaco não aceita qualquer fator que ele considere como uma ameaça ao seu ego. Além de não responder positivamente a críticas, há uma exigência de que todos também devem exaltar os pensamentos e ideias impostos por ele. Além disso, na megalomania, o indivíduo se recusa a acreditar que tem sentimentos de medo e insegurança. Por isso, muitas vezes acaba utilizando a agressão verbal e a imposição como um mecanismo de defesa. No entanto, apesar da autoconfiança ser elevada, quando avaliados profundamente os megalomaníacos parecem ser indivíduos carentes e com um complexo de inferioridade e sentimentos de vazio social.” Por essas características patológicas, qualquer semelhança com o discurso delirante do capitão não é mera coincidência; é um alerta para que a pátria amada não venha a reviver o milagre de um passado recente que não se quer de volta.
 
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