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21/09/2021 às 00h00min - Atualizada em 21/09/2021 às 00h00min

Justiça seja feita! É hora do reconhecimento

O vendedor de ovo de égua - Causo X

JAURO GURGEL

JAURO GURGEL

JAURO José Studart GURGEL, durante muitos anos Editor Regional de O PROGRESSO, em Araguaína (TO),

*Republicado a pedidos
**Publicado originalmente em 26 de outubro de 2014
  
Primeiro de janeiro de 1989. Começa uma nova era com o início do ano novo, já que este norte goiano se liberta definitivamente do Estado do Goiás e é instalado oficialmente o Estado do Tocantins. Na noite anterior, de 31 de dezembro, um réveillon com muitas festas nos principais clubes e lugares públicos de Araguaína, embora de uma “pitada” de decepção e frustração pelo fato de não sermos a capital do estado, além de uma notícia triste que abalou toda a nossa sociedade: no dia anterior, 30 de dezembro, o bem-sucedido e querido empresário “João Paratodos” foi baleado de maneira brutal e covarde e, não resistindo à gravidade dos ferimentos recebidos, veio a falecer.


Por volta das 5 horas, estávamos – eu, minha esposa Elineusa e o brilhante jornalista Wilson Velano (ai que saudades do querido Wilsinho, que certamente está escrevendo muitas coisas lá no céu) – tomando café na Panificadora Modelo, onde atualmente funciona a Max Pão, esperando pelo médico Pedro Braga da Luz, que nos convidara a ir até a cidade de Miracema do Norte, onde seria instalado oficialmente o Estado do Tocantins, com a posse do governador José Wilson Siqueira Campos, do vice-governador Darcy Coelho e dos 24 deputados estaduais que fariam parte da Assembleia Legislativa do Estado do Tocantins, entre os quais o próprio Pedro Braga. Embora não fosse um ativo participante da política em Araguaína e região, o médico Pedro Braga foi lançado candidato a deputado estadual apoiando a chapa de José Freire para governador e Brito Miranda para vice; graças ao seu trabalho como médico humanitário e filantrópico, conseguiu se eleger pela oposição a Siqueira Campos. À época, Araguaína elegeu três deputados estaduais: o tenente Francisco Sales e o pastor Jurandir Oliveira, aliados a Siqueira Campos, e o médico Pedro Braga, pela oposição.

Mas voltemos ao assunto viagem a Miracema do Norte, no recinto do automóvel, uma “Parati”, de cor vermelha, de propriedade e dirigido pelo futuro deputado estadual Pedro Braga. Em Guaraí, aconteceu o primeiro fato interessante da viagem: ao passarmos pelo Posto da Polícia Rodoviária Federal, logo na entrada da cidade, o inspetor de plantão mandou parar o carro e pediu os documentos do veículo e do motorista. Já passados uns 5 minutinhos de averiguação, o “Wilsinho” falou para o inspetor: “Autoridade, este também é autoridade. É o deputado Pedro Braga, que está indo para Miracema para ser empossado na Assembleia Legislativa!”, e complementou com uma certa ironia: “E pelo visto, vai chegar atrasado e vão cortar o seu ponto”. O inspetor pegou um jornal do dia que estava dobrado debaixo do seu braço, olhou para as fotos dos 24 deputados a serem empossados e reconheceu o médico Pedro Braga como um deles. Devolveu rapidamente os documentos e exclamou: “Vá embora, deputado! Não fica bem chegar atrasado logo no primeiro dia de trabalho!”.

Chegamos em Miracema do Norte no exato momento em que era iniciada a sessão solene de instalação do Estado do Tocantins. O local era um ginásio esportivo, cujo nome não recordo, e o calor era grande. Gente que nem formiga. A sessão solene foi presidida pelo deputado eleito Vicente Confessor, ex-prefeito de uma cidade do interior, que exerceu a presidência pelo fato de ser o deputado eleito mais velho. Após todos os 24 deputados serem empossados, então a Assembleia Legislativa do Estado do Tocantins passou a ser exercida pelo deputado estadual Raimundo Nonato Pires dos Santos, o popular “Raimundo Boi”, representante da cidade de Miracema, onde já fora prefeito municipal, e também o deputado estadual mais bem votado nas primeiras eleições do futuro Estado do Tocantins. Vale ressaltar que com muitas articulações, inclusive do Wilsinho e da minha parte, o deputado estadual Pedro Braga foi eleito o 4º secretário da Assembleia Legislativa do Estado do Tocantins, no mandato 1989/1990.

Minutos antes do início da primeira sessão da Assembleia Legislativa do Estado do Tocantins, o Wilsinho me chamou a um canto e disse: “Jauro, a gente precisa fazer alguma coisa para o Pedro Braga entrar na história, mas não tenho ideia. Vamos pensar juntos!”. Então, me lembrei que o ex-prefeito de Colmeia, Antonio Pesoni (PMDB), eleito o deputado estadual mais bem votado pelo partido, havia morrido em um acidente automobilístico quando se dirigia a Goiânia, para ser diplomado. E falei com o Wilsinho: “Vamos pedir ao Pedro Braga que, assim que a sessão seja iniciada, ele peça questão de ordem e solicite do presidente Raimundo Boi que seja concedido um minuto de silêncio em homenagem póstuma ao companheiro Antônio Pesconi e, a seguir, solicite que seja constado em ata o seu pedido”. Foi dito e feito. Nos anais da Assembleia Legislativa do Estado do Tocantins, consta que o deputado estadual Pedro Braga (PMDB) foi o primeiro parlamentar tocantinense a fazer o uso da palavra naquela Casa de Leis. É ou não é motivo de muito orgulho e deste justo reconhecimento?

Uma outra atitude louvável e que merece o reconhecimento de todos, especialmente dos araguainenses, por parte do deputado estadual Pedro Braga, diz respeito à criação e à construção de Palmas para ser a capital definitiva do Estado do Tocantins. Pedro Braga foi o único dos 24 deputados estaduais a votar contra o projeto do governador Siqueira Campos, e este seu posicionamento coerente e a sua independência, por pouco, muito pouco, não lhe causaram sérias consequências, pois um dos deputados daquela Assembleia - se não me falha a memória, o deputado Antônio Godinho - chegou a sugerir a cassação do seu mandato. Qual o motivo da sugestão? O fato de o deputado Pedro Braga não obedecer às ordens do governador Siqueira Campos.

E tem mais: por ocasião do plebiscito para a escolha da forma de governo no Brasil, o deputado Pedro Braga foi um monarquista convicto. Mesmo diante das “brincadeiras e gozações” do povo, agiu como um político sempre deve agir: ir até o fim em defesa dos seus ideais.
 
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