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18/09/2021 às 00h00min - Atualizada em 18/09/2021 às 00h00min

Se cru já é bom, imagine bem torradinho

O vendedor de ovo de égua - Causo IX

JAURO GURGEL

JAURO GURGEL

JAURO José Studart GURGEL, durante muitos anos Editor Regional de O PROGRESSO, em Araguaína (TO),

*Republicado a pedidos
**Publicado originalmente em 19 de outubro de 2014

  
Nunca fui, não sou e jamais serei um destes retrógrados conservadores que se escandalizam por qualquer coisa anormal, acontecida em nome da modernidade, mas não posso negar que, em determinados momentos, a “nuvem da saudade” passa lentamente em minha mente e fico a meditar e comentar, comigo mesmo, sobre as diferenças – enormes, por sinal – da forma da vida e atitudes de crianças e adolescentes de hoje para o meu tempo, há muito mais de cinquenta anos.

Antigamente, as crianças eram puras e inocentes, ao ponto de acreditarem nesta história de Papai Noel, e o que é ainda muito pior, acreditavam que a tal cegonha descia no telhado das casas, entrava pela chaminé e deixava um novo membro daquela família. Eu mesmo, quando o John, meu irmão mais novo, nasceu - à época eu tinha 3 anos, 5 meses e 20 dias -, “jurava de pés juntos” que tinha visto a ave, “branquinha, branquinha”, descer com o meu irmãozinho pendurado no bico.

Mas como eu estava dizendo, hoje a coisa é bem diferente. Qualquer criancinha já sabe de coisas capazes de deixar qualquer careca de cabelo em pé. Atualmente, as crianças aprendem as coisas muito mais cedo do que deveriam, e tais ensinamentos são ministrados através da “telinha”, que ao vivo e em cores mostra certas coisas, que só aprendíamos quando estávamos nos preparando para “os sagrados laços do matrimônio”.

E é justamente sobre este tema, inocência de uma criança”, a nossa narrativa de agora, que tem como personagem principal um grande amigo meu, que graças a Deus continua “vivinho da silva”, mas que por uma questão de respeito à sua pessoa e à sua “pureza infantil”, não revelo o seu nome “nem que chova canivete” ou então “que a vaca tussa”. Mas tenho certeza de uma coisa: ao ler esta “historinha”, ele vai dar uma sonora gargalhada e comentar consigo mesmo: “Jauro, filho de uma égua! Me fez relembrar a minha adolescência!”.

Quanto ao cenário deste episódio, foi uma pacata cidade interiorana, que tem o nome de um santo e que poderia ser do estado do Piauí, do Maranhão ou do Ceará. Só não era do estado do Tocantins porque na época do acontecido o norte goiano ainda não tinha se emancipado politicamente. O local do acontecido foi a famosa Z.B.M. (Zona do Baixo Meretriz) daquela cidade, que era popularmente conhecida pelo nome de “Caneco Amassado”.

Embora fosse eu 6 anos mais velho que este meu amigo (eu sou de 1945 e ele de 1951), fomos em uma certa noite para o “Caneco Amassado” em busca de aventuras e prazer, caminhando por uma vereda escura que nem breu, haja vista que na época ainda não existia energia elétrica na região. E ao chegarmos em uma das casas da Z.B.M., fomos muito bem recepcionados pela própria “madame”, uma senhora de idade já bastante avançada, mas de uma educação ímpar, uma verdadeira professora na “arte sexual”. No momento, a radiola tocava uma música de Vicente Celestino, cuja letra assim dizia: “E ontem eu rasguei o teu retrato / ajoelhado / aos pés de outra mulher!”. Pedimos uma bebida quente e começamos, os dois, a trocar carícias com a “madame”, que confesso, não sei se era bonita, feia, muito feia ou horrível, pois a escuridão era enorme. Somente a voz identificava um e outro.

Mesmo na escuridão, dava para perceber que a “madame” usava uma saia e como era de costume na época, por baixo tinha a camisola, a anágua e a calçola. Vale a pena ressaltar que naquele tempo, mesmo nos lupanares e cabarés da vida, as mulheres se trajavam com um certo pudor, não se despindo na frente de tudo e de todos. E nós dois acariciando a “madame” e por ela sendo acariciados, até que chegou o dito momento “da onça beber água”. Como o meu amigo era neófito no assunto, ou seja, ainda virgem, e estava ardendo em fogo, deixei ele ir primeiro para o quarto com a “madame”. E continuei sentado à mesa, bebendo mais algumas doses e escutando Vicente Celestino, que já cantava o consagrado e imortal “O Ébrio”.

Em dado momento, escuto um berro assustador, gritos e mais gritos de dentro do quarto, e corro pra lá, me deparando com uma cena que seria trágica se não fosse cômica: a “madame” estava com a saia e as partes baixas pegando fogo, enquanto o meu amigo, com o olhar arregalado, sentado na cama, tremia mais que vara verde. “O que aconteceu?”, perguntei. E a resposta me provocou uma crise de risos, que até agora, ao lembrar-me do fato e narrar este “causo”, continua na mesma dosagem.

O que aconteceu foi justamente isto: na escuridão total, o meu amigo acendeu uma lamparina e antes que a “madame” tirasse a roupa para a consumação do ato, ele levantou a saia da referida e colocou a lamparina acesa entre as pernas da coitada, “para ver como era o bicho preto”, segundo suas próprias palavras. E o resultado foi que a labareda subiu, enquanto outra coisa desceu!

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