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04/09/2021 às 00h00min - Atualizada em 04/09/2021 às 00h00min

Ainda bem que descobriram o DNA

O vendedor de ovo de égua - Causo IV

JAURO GURGEL

JAURO GURGEL

JAURO José Studart GURGEL, durante muitos anos Editor Regional de O PROGRESSO, em Araguaína (TO),

*Republicado a pedidos
**Publicado originalmente em 14 de setembro de 2014

Este “causo” de agora aconteceu aqui, na cidade de Araguaína, logo no início da década de 90, não recordando bem se em 1990 ou 1991, quando o nosso querido e tão sonhado Estado do Tocantins começava a engatinhar e ninguém imaginava que ele chegaria a ser a potencialidade econômica e social que hoje é, nem tampouco fosse tão admirado e respeitado pelos demais estados da federação brasileira. Atualmente, quer queiram ou não queiram os descrentes, o Estado do Tocantins é um exemplo para tantos outros estados. Mas, voltando ao assunto de agora: o cenário da história, ou seja, o local onde o fato aconteceu, foi o C.A.I.C., localizado no Setor Coimbra, à época quase um deserto e hoje um dos setores mais populosos de toda Araguaína. Quanto às pessoas envolvidas, muitas delas “já subiram para o andar superior”, enquanto outras continuam “vivinhas da silva”, residindo na nossa Araguaína, como verdadeiros e pacatos cidadãos araguainenses.

Logo no início do Estado do Tocantins, o Tribunal de Justiça, que tinha, como aliás ainda tem, dois grandes juristas araguainenses, no caso os desembargadores Antônio Felix Gonçalves e José Maria das Neves, resolveu dar mostras do seu trabalho e decidiu instituir, em todo o estado, um programa denominado Mutirão da Justiça, que consistia em audiências rápidas e objetivas para todas as pessoas que tivessem qualquer caso pendente, por mais simples que fosse, com a chamada “Dona Justa”. E em Araguaína as audiências aconteceram no interior do C.A.I.C, durante três ou quatro dias, com tanta gente se deslocando para o local, que mais parecia um formigueiro humano.

Como profissional de imprensa e graças a Deus bastante acreditado pelos leitores do jornal O PROGRESSO, para o qual eu prestava, como aliás ainda presto, os meus serviços profissionais, fui solicitado por um dos juízes locais a fazer a cobertura jornalística do evento, com o magistrado que me convidou garantindo tratar-se de um fato inédito em todo o Brasil e, como tal, precisava de uma boa e grande divulgação para os quatro cantos do país. “Nenhum processo vai ficar sem uma decisão!”, afirmou o juiz, no momento em que solicitava a minha presença e, por que não dizer, a de toda a imprensa local. Não tive como não atender à solicitação do magistrado e fiquei de “plantão” durante os três ou quatro dias daquele mutirão.

Os casos a serem decididos eram os mais diversificados possíveis, desde uma briga de vizinhos devido a uma galinha que entrou na caso do outro, fazendo sujeiras na sala de visitas, até crimes de morte, como homicídio, latrocínio etc. etc. etc. Realmente, estava acontecendo o que o magistrado me havia dito na hora do convite: “Nenhum processo vai ficar sem uma decisão!”. Lembro-me bem que em certa ocasião me encontrei com o querido padre Enemezio Lazzaris, então pároco da Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, que fora resolver um problema referente a uma batida de veículo pertencente à paróquia e cujo motorista era um ex-sacristão, com este fato acontecendo há mais de 15 anos, conforme me confidenciou o próprio padre Enemezio Lazzaris, ao lhe entrevistar sobre o porquê de ele estar em dívida com a Justiça. Jamais esquecerei o sorriso “amarelo” daquele vigário, a quem considero muito e tenho o maior respeito e admiração.

Em uma destas audiências, ao entrar em uma das salas do C.A.I.C., com a autorização do juiz, é claro, me deparo com o magistrado sentado em sua mesa, tendo à frente o “Senhor S” e um outro cidadão, de aproximadamente 20 a 25 anos, que reclamava do magistrado, ou melhor, da Justiça, o reconhecimento da paternidade por parte do “Senhor S”. Ao lado, sentado em um dos cantos, folheando uma revista e com um olhar meio desconfiado, estava o “Senhor S.B”, que era intimado a comparecer à audiência para servir de testemunha do caso.

Vale a pena ressaltar que naquela época ainda tinha sido descoberto o tal exame de DNA, nem tampouco existia o “Programa do Ratinho” para financiar o referido exame. Portanto, esta dúvida sobre “quem é o pai” tinha que ser analisada apenas pela palavra de um contra a palavra do outro.

Conversa vai, conversa vem, com o magistrado ouvindo atentamente o que o jovem dizia, repito, reclamando o reconhecimento da paternidade. O juiz passou a ouvir o “Senhor S”, que ao lhe ser dada a palavra para se defender da acusação, fez este maravilhoso comentário: “Rapaz, eu tou cansado de te dizer que, quando a gente era jovem, eu, o Z.F., o Z.C., o Z.B., o S.B. (e apontou para a testemunha que estava sentada), nós tudim comia a tua mãe! Mas eu acho que o teu pai mesmo é o Z.F., pois era ele quem comia mais!”.

P.S. - Na tarde da quarta-feira (dia 18), estava eu na agência central do Banco do Brasil, conversando com o meu confrade da ACALANTO Edson Gallo, quando se aproximou o “S.B.”, um dos pioneiros de Araguaína e de uma tradicional família maranhense. Ao conversarmos, lhe contei do livro que estava escrevendo, inclusive sobre este “causo”, pedindo para que ele me autorizasse a divulgação do seu nome. Ele riu e me pediu para que eu o procurasse, pois tem muitos outros casos, mas que não revelasse o seu nome, “para evitar constrangimentos”, justificou.
 

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