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31/08/2021 às 00h00min - Atualizada em 31/08/2021 às 00h00min

A grande obra do vereador

O vendedor de ovo de égua - Causo III

JAURO GURGEL

JAURO GURGEL

JAURO José Studart GURGEL, durante muitos anos Editor Regional de O PROGRESSO, em Araguaína (TO),

*Republicado a pedidos
**Publicado originalmente em 7 de setembro de 2014

De 8 de maio de 1981, data em que cheguei e fixei residência em Araguaína, até os dias atuais, o Poder Legislativo Municipal araguainense teve exatamente 7 legislaturas, formadas pelos vereadores eleitos, e alguns deles reeleitos, nos pleitos eletivos de 1976, 1982, 1988, 1992, 1996, 2000 e 2004. Acredito que não há necessidade de lembrar o que se segue, mas como eu gosto muito de escrever, e até mesmo para “encher linguiça”, como se costuma dizer, eu me lembro que com os vereadores eleitos em 15 de novembro de 1988 e empossados em 1º de janeiro de 1989, a Câmara Municipal de Araguaína iniciava uma nova fase de sua história, haja vista que naquele primeiro dia do ano era oficialmente instalado o mais novo estado brasileiro: o Estado do Tocantins.


Desde quando aqui cheguei, tenho acompanhado bem de perto o trabalho legislativo desenvolvido pelos nobres edis araguainenses, não apenas como um popular curioso, que com assiduidade assistia às sessões ordinárias e extraordinárias, mas principalmente como Assessor de Imprensa daquela Casa de Leis, cargo este por mim ocupado por 4 vezes: quando era presidente o vereador Eisler Robson Eiras dos Santos; quando este se afastou da presidência para assumir a prefeitura municipal, fui mantido no cargo pelo novo presidente Divino Pedro do Nascimento, o “Divino Betânia”; na ocasião em que a presidência foi ocupada pelo meu grande amigo vereador Manoel de Oliveira Plínio, o popular “Paraná”; e a partir de primeiro de janeiro deste ano de 2005, na administração do vereador Aldair Costa Sousa, mais conhecido por “Gipão”.

Nestes já 24 anos de frequência assídua e constante às sessões – repito: ordinárias e extraordinárias – da Câmara Municipal de Araguaína, presenciei “causos e mais causos” proporcionados pelos nobres vereadores que, às vezes, ao contar para os amigos, estes me dizem que em hipótese alguma acreditam que seja verdade, pois são verdadeiras aberrações. Concordo plenamente, em gênero, número e grau, com estes “São Tomés” da vida, mas que são verdades, isto são. Como costumeiramente repito: a mais pura, cristalina e transparente das verdades.

Tivemos o “causo” de um brilhante veterinário, de uma competência inigualável, que eleito vereador em 1988 e empossado em primeiro de janeiro de 1989, logo na primeira sessão ordinária legislativa entrou com um projeto de lei de grande alcance social, sendo bastante elogiado pelos demais 14 vereadores (à época, a Câmara Municipal de Araguaína era formada por 15 edis), e na hora da votação, quando o então presidente vereador I.D.C. acabou de pronunciar a conhecida expressão “os favoráveis permaneçam como estão, os contrários se manifestem”. O referido vereador se levantou de sua cadeira, com o presidente declarando: “Aprovado por maioria!”. O projeto teve apenas um voto contra e, por mais incrível que possa parecer, o do próprio autor. Quem foi este vereador? Não digo o nome, nem que a vaca tussa.

Outra vez, um outro vereador entrou com um projeto denominando de “Avany Galdino”, uma certa obra que estava sendo construída pela administração municipal. Para quem não sabe quem foi Avany Galdino, eu informo agora: foi o pai de dois ex-vereadores araguainenses, no caso Edmundo Galdino, que também foi eleito deputado estadual e deputado federal, e o popular “Xeroso”, eleito vereador araguainense para 3 mandatos consecutivos, sendo que nas duas primeiras vezes foi o mais bem votado. Avany Galdino era também bastante conhecido pelo nome de “Galego”, e faleceu vítima de um acidente com um ônibus que vinha de Goiânia para Araguaína. Quando o projeto de lei dando o nome de Avany Galdino para a tal obra pública entrou na pauta dos trabalhos para a primeira discussão e votação, um vereador justificou o seu voto favorável com esta maravilhosa expressão: “Eu sou totalmente a favor que a obra se chame Avany Galdino, que foi um homem sério, um homem de bem e que tem o seu cadáver morto implantado no nosso cemitério”. Maravilhoso, não?

E por aí vão os “causos e mais causos”, como o que passo a relatar a partir de agora, acontecido no mandato legislativo de 1983 a 1988. Por certo, algum leitor vai ficar surpreso com este mandato de 6 anos, já que o normal é de 4 anos, mas foi isto mesmo. Naquele mandato houve uma prorrogação por mais 2 anos, e a Câmara Municipal de Araguaína era formada por 15 vereadores, sendo que apenas 3 deles foram reeleitos, isto é, vinham do mandato anterior, e os 12 restantes eleitos pela primeira vez. Aliás, cabe aqui uma ressalva: um destes 12 edis já tinha sido vereador, embora em um mandato bem anterior.

Nesta Câmara Municipal tinha um certo vereador que, durante todos os 6 anos de mandato, era de uma assiduidade impressionante, não faltando a uma só sessão, sendo o primeiro a chegar e o último a sair do plenário. Entretanto, não abria a boca nem mesmo para responder o “presente”, na hora da chamada, e durante as sessões ficava simplesmente a fazer palavras cruzadas, nas quais era uma verdadeira fera. Os vereadores debatendo os problemas da cidade, discutindo as soluções etc. etc. etc., e ele lá no seu cantinho com a caneta na mão e o livrinho de palavras cruzadas.

Um certo dia, já bem próximo do final do mandato, o vereador L.B. usava a tribuna falando sobre um determinado assunto – que, confesso, não recordo no momento – quando o dito cujo “vereador silencioso” se levantou tranquilamente da sua cadeira. Foi, então, que o presidente daquela Casa de Leis, ao ver aquela cena inédita, tocou a sinetinha (era isto mesmo, na época não tinha aquela sirene que hoje existe) e pediu ao orador que parasse a sua fala por alguns momentos, “pois – até que enfim – vamos ouvir a palavra do colega vereador...”, falou, citando o nome do edil, que de imediato respondeu: “Pode continuar, colega L.B. Eu vou só na casinha obrar!”, e tranquilamente se dirigiu ao banheiro, que ficava – aliás, ainda fica – no lado esquerdo do plenário.
 

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