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28/08/2021 às 00h00min - Atualizada em 28/08/2021 às 00h00min

CASA ALHEIA NÃO É DA GENTE

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

 
“Casa alheia não é da gente”. Já dizia ao seu tempo a minha velha mãe. Uma lição como tantas outras que eu guardo da memória e sei de cor. Enfim casa alheia não é da gente. Saí da minha casa, no interior - aos sete anos e fui para o meio do mundo e fim do mundo – um lugar dantes sequer imaginado. Era a VILA e a continuação da escolaridade!

A partir dos sete anos, então experimentei a casa alheia. Depois vieram outras tantas. A casa alheia é um prato quente para a gente comer devagar, soprando até. E segurando firme na colher. Dos sete aos vinte sete anos –foram vinte anos de casa alheia! cada qual com os seus princípios. Cada qual com a sua leitura. Cada leitura uma lição.

De minha parte jamais / jamais blasfemarei contra a casa alheia pois elas me serviram de lição. Toda lição, sabemos, tem o seu valor, o seu preço. As lições da vida são o elo pelo qual alcançamos o nosso espaço, a nossa formação cristã e cidadã. As lições da vida enfim, ainda que duras ou cruas, elas alimentam e trabalham o nosso caráter, a nossa direção, a nossa conquista. E quem fala assim não cospe no prato em que come.

Em uma das casas alheias por onde passei, aprendi as regras, a ordem, o comportamento que é a casa alheia. O lugar que se ocupa, o banco em que a gente se senta. Sim senhor, sim senhora, não senhor, não senhora – isso para quem traz de casa, tira de letra. A casa alheia é uma escola de aprendizagem

O internato na minha Escola Federal, era a minha casa mas lá mesmo a casa alheia. Era olho no padre, olho na missa. A gente não podia ser lento, nem ter preguiça. Tudo nas regras, na ordem, na disciplina, na organização, no estudo, na escolaridade.

Tudo firme e desde cedo ganhava-se maturidade. O convívio em repúblicas (particulares) e coletivas na capital, outra casa alheia. Não era um doce mas também não era amargo. Mas ali era uma lição de vida. E a própria vida nos ensina que “é preciso saber viver”.

A casa do estudante Universitário (na São Pantaleão), foi um prêmio. Lá, outra casa alheia de que sou grato; Quatro anos por lá. Foi um rio que passou em minha vida, eu não posso esquecer.

Na casa do Estudante Secundarista, ali, uns sessenta homens. Aquilo era um batalhão! Lá a gente aprendeu a lavar e engomar a roupa, aprendeu a suportar dificuldades, andar a pé. Fazer o café. Banhar na multidão. Resistir às intempéries da vida. Mas foi o maior berço de educação, de respeito, de democracia, de lealdade, civilidade  de integridade, de honestidade que e meus olhos já viram. Doído em mim, foi deixar essa casa alheia que era a Casa do Estudante na Rua do Passeio. Saí de lá, mas a Casa nunca saiu de mim. Até hoje! E se a gratidão é um princípio, uma virtude da alma, sou eternamente grato à casa do Estudante. Bastam suas lembranças em mais 50 anos, mas é como se fosse agora!

Hoje eu vim aqui, tão só para lembrar com saudade um ditério da minha mãe, quando ela dizia: CASA ALHEIA NÃO É DA GENTE. Um texto que eu dedico aos meus irmãos – todos eles que, aos braços e abraços da gratidão, vivemos semelhante experiênicia.

E então eu faço desse ditério, hoje, a minha PÁGINA DE SAUDADE.

Música: Zezé de Camargo Luciano /No dia em que eu saí de casa
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