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31/07/2021 às 00h00min - Atualizada em 31/07/2021 às 00h00min

NEGÓCIO É NEGÓCIO...

CLEMENTE VIEGAS

CLEMENTE VIEGAS

O Doutor CLEMENTE VIEGAS é advogado, jornalista, cronista e... interpreta e questiona o social.

 
Ando pelas ruas da vida, e volta e meia vejo e ouço uma insistente e repetitiva fala discursiva; um apelo discursivo, apelativo, com ares de pregação religiosa, até. Ou de quem está acostumado a isso. Falação de apelo sentimental; linguagem de quem manobra fácil com a repetição abusiva, desperta entre sensacionalismo e compaixão, explora a miséria e o sofrimento alheio e provoca o sentimento e a sensibilidade dos circunstantes – um feito de quem está acostumado e muito acostumado com tais falácias: É o homem que pede esmola para outro homem (ou mulher) que está doente, ali dentro do carro, qual uma obra exposta do “ver para crer”.

O carro, como se vê, está adaptado a um serviço de som. E a falácia reproduzida em alto e bom tom, a mim me parece gravada. Orquestradamente gravada. Qual uma “cantiga de grilo”. Persistente e perturbadora. E o desfecho do quanto me permite entender é que ali, o conjunto daquela geringonça:  carro montado, serviço de som, mensagem e apelos gravados e o beneficiário daquela campanha esmoler, ali junto, ao banco do passageiro, como a prova da razão pela qual a “pedilança” ali se estabelece.
O conjunto de tudo aquilo: caro de som adaptado, apelo (pedido) gravado, esmoler ao banco passageiro somado ao ambiente de multidão e, vasto trânsito das pessoas, como é a feira livre, aquilo parece uma “armação” de cunho profissionalesco, um engendro que visa explorar e estimular a sensibilidade e a boa fé popular, à cata de esmolas. E o desfecho final dessa esmola, a féria da esmola vai para quem? Obviamente que ali há um critério de percentuais, na partilha: Parte para o esmoler, parte para o dono do serviço de som, com motorista/condutor, com as deduções de combustível, serviço de gravação, uso do veículo e tudo o mais. Enfim: uma empreitada de cunho comercial, negocial, lucrativo. NEGÓCIO É NEGÓCIO!

É evidente que ninguém gostaria de estar no lugar daquele esmoler, supostamente imobilizado ao banco de passageiros, outros gravemente e expostamente e cronicamente lacerados, feridos, portadores de doenças crônicas e até mesmo – quem sabe – já “desiludidos” de um tratamento em sua saúde. Contudo, a noção de uma empreitada comercial, negocial, e lucrativa – é pretexto para desvanecer as pessoas em esticar a mão para uma esmola. Fala-se até num “raxa-xá”. Mas não. O dono do carro (e do serviço de som), naquele jogo é o “banqueiro”. E o banqueiro no jogo maldito tem o dele garantido. Interessam-lhes os fins.

É da consciência popular de que - quem se submete a pedir esmolas ou ajudas populares, por si só já são pessoas CARENTES, contudo, o espetáculo, a linguagem comercial repetitiva, o apelo sensacionalista, a estratégia e todo o conjunto da obra são capazes de por o homem de senso comum a desconfiar de que naquela armação proposital com carro de som e tudo, há um engendro comercial, com as quota-partes devidamente “pré-acertadas”. Sim, porque NEGÓCIO É NEGÓCIO.

As investidas na “pedilança”, pelo convencional, dão-se aos domingos em certas cidades e outras em dias de feira, na região. O mesmo carro pode ser visto – quem sabe, com esmoleres diferentes a uma razoável distância  – ora numa, ora noutra feira, com a mesma cantilena, o mesmo jeito de explorar em verbo repetitivo sobre as pessoas. Afinal o carro está montado e à disposição à quem lhe procurar por tais serviços. Afinal, NEGÓCIO É NEGÓCIO

 * Viegas questiona o social
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