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29/07/2021 às 00h00min - Atualizada em 29/07/2021 às 00h00min

IMGUINORAPULIS

Capítulo XXVI

JAURO GURGEL

JAURO GURGEL

JAURO José Studart GURGEL, durante muitos anos Editor Regional de O PROGRESSO, em Araguaína (TO),

*Republicado a pedidos
**Publicado originalmente em 10 de fevereiro de 2013

Lá foi muito pior

Recentemente, para ser mais preciso, no último dia 7 de setembro, quando em todo o Brasil era comemorado o 181º aniversário do famoso “Grito do Ipiranga”, as autoridades araguainenses que se postavam em cima do palanque, e por que não dizer toda a população que assistia ao desfile cívico, militar e estudantil, na Avenida Filadélfia, ficaram deveras chocadas com a atitude da banda de música de um conceituado e respeitabilíssimo estabelecimento de ensino local, que enquanto os alunos desfilavam garbosos ante os presentes, entoava a música de grande sucesso no momento, no caso a popular “Libera o Tonho”. Naquele momento, um colega de imprensa que estava ao meu lado fazendo a cobertura jornalística para a televisão na qual trabalha, ironizou fazendo o seguinte comentário: “Será que depois desta música, a banda vai também cantar a música Amor de Rapariga?”, um outro grande sucesso popular do momento.

De imediato me veio a lembrança de um fato marcante acontecido em um 7 de setembro, só não consigo lembrar de qual ano, na cidade de IMGUINORAPULIS. Por volta de 5 horas da manhã, fui despertado com a voz do locutor oficial da prefeitura municipal, de nome U.L.TOM TRIBEIRO, que através do Serviço de Alto-Falante A Voz IMGUINORAPULIENSE convidava a toda a população local e dos municípios circunvizinhos para participar do desfile cívico estudantil programado para as 8 horas, pelas principais ruas da cidade. E entre um convite e outro, o locutor saudava uma autoridade municipal e colocava o som de um dos hinos já bastante conhecidos pelo povo, como o Hino Nacional Brasileiro, o Hino da Independência, o Hino da Bandeira e até mesmo o lindíssimo “Cisne Branco”, hino da Marinha Brasileira, tocou algumas vezes.

Patriota como sou, me levantei rapidamente, tomei o café que me foi servido pelo VIALDINO, e embora o sol ainda não tivesse surgido no horizonte, me dirigi ao local onde estava instalado o palanque para as autoridades. No caminho, passo por um bar, que ainda estava aberto, onde vários boêmios bebiam a aguardente Sete Quedas e outros jogavam baralho em uma mesa. Para a minha desagradável surpresa misturada com uma grande indignação, constatei que a toalha que cobria a referida mesa era nada mais nada menos que a nossa querida Bandeira Brasileira. Revoltado, chamei a atenção dos jogadores para a falta de respeito para com aquele símbolo nacional. Foi naquele momento que um dos jogadores, bastante conhecido na cidade pelo nome de ZEDIS CRENTE, contestou o que eu afirmava, argumentando que na verdade a Bandeira Brasileira tinha perdido o seu significado.

Passei, então, a dar uma verdadeira aula de Educação Moral e Cívica, explicando sobre o significado das cores da Bandeira Brasileira. “O verde simboliza as nossas florestas”, e ZEDIS CRENTE contestava: “Que floresta? O homem está acabando com tudo. Até mesmo a floresta amazônica já está em poder dos norte-americanos”, e eu não tive como contra-argumentar. Falei, então, sobre o amarelo, que simbolizava o nosso ouro, e lá vem o anarquista ZEDIS CRENTE com mais um questionamento: “E cadê o ouro? Ao que me consta ele há muito tempo está depositado em bancos da Suíça e em outros paraísos fiscais”. Eu comentei com os meu botões que ele estava certo, mas para não me dar por vencido, passei a falar sobre o azul, que simbolizava os nossos rios. E ZEDIS CRENTE mais uma vez foi impiedoso comigo: “Onde é que a água dos rios é azul? Tá tudo preto devido à poluição”, e quando eu falei sobre o branco, que simbolizava a paz, ZEDIS CRENTE me fez uma pergunta que me deixou sem resposta: “Como falar em paz se vivemos na mais perfeita insegurança, com medo de tanta violência?”.

Parei um pouco para respirar, para refletir e cheguei a concordar com ele. E voltei ao assunto. “Pois vamos respeitar o lema Ordem e Progresso”, e lá me veio mais um comentário: “Como falar em Ordem quando aqui tudo é bagunçado, e quanto ao Progresso, este só existe no título de um jornal”. E fez ainda uma ressalva: “Por sinal, bem lido e de uma grande credibilidade”. Já quase perdendo a paciência, pois reconhecia estar sendo derrotado naquele debate, fiz o penúltimo comentário, pedindo para que fossem respeitadas pelo menos as estrelas que embelezavam o nosso pavilhão nacional, e ZEDIS CRENTE foi impiedoso comigo: “Não existem mais estrelas. Elas foram colocadas nas bandeiras de um partido político”.

Com raiva, por não ter mais como reagir diante da convicção de ZEDIS CRENTE, que a cada comentário que fazia recebia o apoio incondicional do público presente, que já estava aumentando de momento a momento, usei o que poderia chamar de meu último trunfo, e solicitei a ele que se lembrasse, reverenciasse, homenageasse pelo menos o mastro, “O pau da bandeira”, exclamei até um tanto quanto emocionado, e o ZEDIS CRENTE, com um sorriso sem-vergonha, foi implacável: “ESTE HÁ MUITO TEMPO QUE O GOVERNO TÁ ENFIANDO NO RABO DO POVO!”.

Pois é! Isto, sim, foi muito pior do que uma banda de música executar “Libera o Tonho” ou “Amor de Rapariga” em um desfile cívico, comemorativo ao aniversário da Independência do Brasil.

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