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22/07/2021 às 00h00min - Atualizada em 22/07/2021 às 00h00min

IMGUINORAPULIS

Capítulo XXIV

JAURO GURGEL

JAURO GURGEL

JAURO José Studart GURGEL, durante muitos anos Editor Regional de O PROGRESSO, em Araguaína (TO),

*Republicado a pedidos
**Publicado originalmente em 27 de janeiro de 2013

O homem de preto

Como acontece em todas as cinco mil e tantas cidades brasileiras, o domingo em IMGUINORAPULIS também era "dia de futebol", e naquele domingo, especialmente, toda a população estava envolvida na grande decisão do campeonato local, disputada entre as duas maiores forças do chamado "esporte do povo". Jogavam no "Estádio LADRONÃO" os times do ICI e do APAGAFOGO, os dois preferidos pelos torcedores locais, valendo ressaltar que quando cheguei em IMGUINORAPULIS e tomei conhecimento dos nomes dos "mais queridos", realizei uma pesquisa profunda para descobrir o porquê, e o resultado, como tudo o que acontece na cidade, foi surpreendente. O nome ICI é devido às iniciais de ISPORTE CLUBE IMGUINORAPULIENSE, enquanto o APAGAFOGO era uma homenagem ao Alvinegro carioca, com uma pequenina diferença: na opinião dos seus fundadores, esta história de "botar fogo" era coisa de comunista, por isso eles acharam melhor trocar o nome de Botafogo para o tal APAGAFOGO. Como botafoguense que sempre fui e sempre serei, mesmo na situação em que o clube da "estrela solitária" se encontra, passei a fazer parte da torcida do APAGAFOGO.

Naquele domingo, já pela manhã, tão logo o padre SANTOBALDO encerrou a missa das nove horas, a cidade vivia um clima de festa, igualzinho ao Rio de Janeiro em dias de Fla-Flu; ou Salvador no Ba-Vi; ou Porto Alegre no Gre-Nal. Tudo era festa, ninguém falava em outra coisa. Na XURRASKARIA KIKAI NAKEDA os torcedores mais abastados se concentravam para o grande jogo bebendo doses e mais doses da aguardante SETE QUEDAS, enquanto aqueles de menor poder aquisitivo, mais miseravelmente pobres, deslocavam-se para os córregos próximos, levando a "cachacinha" que dava arrepios até no cheiro. E com certeza, a partir das dezesseis horas, todos estariam no LADRONÃO, para assistir à grande final do campeonato municipal, que teria como árbitro o DELEGADO FERRABRAZ, auxiliado pelos bandeirinhas (era isto meso, bandeirinha. Na época, não existia este negócio de assistente 1 e assistente 2) soldado CASCA GROSSA e, parece até brincadeira, o rebolativo VIADINO.

Na hora em que as duas equipes entraram em campo, eu estava na arquibancada do LADRONÃO e dei uma olhada no meio da torcida dos dois times e constatei que toda a cidade estava no campo de futebol. Bem pertinho de mim, quase ao meu lado, identifiquei a senhora diretora da INSCOLA MUNISSIPAU E. REI, que estava acompanhada de alguns familiares, amigos, professores e alunos da referida escola. Quando o DELEGADO FERRABRAZ deu o apito inicial, a diretora se levantou e gritou bem alto: "Olha lá!", e os torcedores ao lado lhe pediram para calar a boca. E isso aconteceu durante o desenrolar de todo o jogo: o APAGAFOGO atacava e a ilustre professora gritava "Olha lá!"; quando o ataque era do ICI, lá estava a diretora gritando o mesmo "Olha lá!". E os torcedores ao lado mandando ela se calar, e eu sem entender "nada de nadinha".

Por volta dos trinta e cinco a quarenta minutos de jogo, tem início uma verdadeira "batalha campal" envolvendo os 22 jogadores em campo, juiz, bandeirinha e até mesmo os vendedores ambulantes, que ficavam à beira do campo e entraram na luta corporal. Nas arquibancadas e nas gerais, "arquibaldos" e "geraldinos" também se atacavam, mas os gritos de "Olha lá!" da senhora diretora continuavam. Como eu não estava participando da briga - aliás, somente ela e eu não estávamos envolvidos na confusão -, aproximei-me e perguntei-lhe por que ela gritava tanto "Olha lá!". A professora, mostrando-se satisfeita por alguém ter lhe dado atenção, respondeu-me: "Eu sabia que isso ia acontecer. Desde a hora em que o jogo começou, aquele homem de preto corre pra lá e pra cá perturbando os jogadores. E eu fiquei chamando a atenção de vocês para que alguém tomasse as providências".

O tal homem de preto era, nada mais nada menos, que o DELEGADO FERRABRAZ, o árbitro da partida.

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